HISTORIA RESUMIDA DO BARATA ELETRICA ou COMO COMECAR UMA CENA HACKER
(Última atualização: Setembro/2002)

Artigo publicado na edicao Summer96 da revista 2600 - Hacker Quaterly Minha Autoria - minha traducao - tudo isso abaixo e' material que ja' comentei em numeros anteriores, mas este e' o texto integral, que saiu numa publicacao estrangeira, que e' referencia pro Computer Underground do mundo inteiro, alem de me render uma conta internet, a curupira@2600.com. Alem disso, acho que os caras gostaram tanto que o Barata Eletrica tambem esta' disponivel la' no ftp.2600.com. O que esta' entre parenteses, obvio, nao saiu no texto original, mas acrescentei por uma questao de "pingos nos iis"

Tudo comecou em Outubro de 94. Havia o "Hackers and Virus Writers Congress" na Argentina, e foi o primeiro encontro do seu tipo na America do Sul. Minha experiencia com a internet e minha sede por conhecimentos relacionados a virsu me levou ate' la'. Eu tinha cerca de oito anos de manuseio de computadores e muito pouca sabedoria das coisas acontecendo em outros lugares. Qual a surpresa de encontrar uma cena hacker la'. No Brazil, do qual falei num artigo anterior, os grupos que faziam esse tipo de coisa nunca divulgavam seus conhecimentos. Os hackers argentinos tinham sua propria revista "Virus Report" e cerca de quatro ou cinco e-zines, todos eles lidando com a escrita de virus e alguns outros assuntos. Eles tambem tinham encontros 2600 (tipo de encontro de hackers toda primeira sexta-feira de cada mes).

Quando voltei para Sao Paulo, ainda maravilhado pelo que vi no Congresso, eu disse a meus amigos no trabalho a respeito e alguns deles, gente ate'importante, pensaram que formar um congresso de hackers aqui poderia ser uma boa coisa, se pudesse ser um encontro positivo. Minha turma nao tava mais por ai'. O lugar onde costumavamos nos encontrar, o laboratorio de Computacao da Escola Politecnica, foi substituido e os rapazes arrumaram bons empregos e foram substituidos por novos frequentadores, nenhum dos quais me conhecia. Eu tentei fazer contato e descobri que, sim, eles tinham um tipo de organizacao propria, tambem tinham acesso internet, mas nao, nao tinham nem o tempo nem a vontade de explorar tudo. O especialista em virus com quem conversei sabia varios truques, mas nao tinha o conhecimento da situacao la' fora, nem os arquivos sobre a fabrica de virus Bulgara ou o AIDS trojan. Nada. Eles tinham bastante experiencia pratica. Cada um tinha algo no qual resolveram trabalhar, mas nao muito a fundo. Muitos poucos no meu pais podem ler ingles o bastante para ler todos os e-zines como o PHRACK. A pior coisa e' que eu fiz o meu "contato" assim meio do nada, sem muito o que mostrar nem pedindo por conhecimento. Um ano surfando na rede (via linha dedicada) foi muito ruim pra mim, em termos de sociabilidade. Os caras so' confiaram em mim mais ou menos. Nada alem disso. Nao copiariam os discos com informacaoes que preparei para elesnem iriam partilhar seus conhecimentos comigo - so' uns bytes aqui e ali (alias, ate' hoje isso nao mudou - nota). Fizeram ate' um talker, o primeiro do Brasil (carpa.ciagri.usp.br - hoje sei la' o que ta' rolando - ainda to^ meio p(*) c/ um dos caras q. montou o lance:"enrolou" que ia escrever sobre o assunto e e' por isso que o nome dele nao aparece - maldade), que poderia ter sido uma janela p. fazer mais contato, mas decidi por uma outra forma de contato. Eu pensei que seria necessario "educar" os novos integrantes, de forma que eles pelo menos partilhariam alguma coisa de etica e de mentalidade hacker. Muitos nao nao compreendem a importancia de tracar uma linha entre o que e' certo e o que e' errado. A imprensa nao publicaria artigos mostrando meus pontos de vista sobre o assunto porque (naquela epoca) muito pouca gente sabia sobre aquilo. E a preparacao para tal congresso demandaria muita cobertura da imprensa.

Eu comecei fazendo uma lista de correspondencia manual. As pessoas me mandariam cartas pedindo para entrar na lista e entrariam para um "alias" (ou lista) e eu enviaria um ou dois arquivos por dia. Apenas dicas sobre como encontrar isso ou aquilo e um arquivo ou outro sobre acontecimentos envolvendo hacking. Ate'comecei a por um anuncio no newsgroup soc.culture.brazil. Mais tarde, fiquei sabendo da esquina-das-listas e montei a lista "hackers" la'. E por volta da mesma epoca convidei a "rataiada" para comecar um encontro.

Planejei igualmente um pequeno informativo para passar as dicas, de forma a nao ter que repetir coisas como: "Porque estou fazendo isso", "O que e' hacking", etc . O nome era importante (hoje ja' nao acho tanto). O unico que "pegou" foi Barata Eletrica. Meu chefe, entre todos, foi o unico que pegou de cara o significado. Me perguntou: "Porque nao algo que fosse acima da terra?". Fiz 100 % sozinho.(Pedi a colaboracao da mocada, que repetiu o que repete ate' hoje: "To com prova, tenho trabalho pra entregar, esta semana ta' cheia, nao sei fazer") O primeiro numero foisobre algumas coisas que achava que deveriam ser de conhecimento comum como definicao de hacking, qual era o meu objetivo, como e porque estava fazendo isso, etc.. Um fa~ da revista Phrack nao leria isso, com certeza. Foi provavelmente o primeiro fanzine em lingua portuguesa publicado na Internet. Naqueles dias, os jornais falavam sobre a rede, mas nao era ainda coisa disponivel fora das universidades (pra se ter uma ideia, modem de 2400 era o comum). A pessoa tinha que estar envolvida com um projeto de pesquisa para conseguir o acesso ou aceitar um email comercial via UUCP. Compuserve era qualquer coisa quase desconhecida (hoje ouvi falar que ja' existe - do meu ponto de vista, infelizmente). As pessoas tinham que me mandar email para receber o fanzine. O primeiro foi completado em cima da hora porcausa do "provavel" encontro ao qual poucos, bem poucos compareceram. Me deixou meio desapontado. Mas o pior aconteceu um tempo depois.

Ninguem da Administracao tinha se incomodado com a minha lista informal, nem com a lista "hackers" ou mesmo o fanzine em si. Mas ai' eu dei a dica para um jornal (Folha de Sao Paulo, Coluna NETVOX, a segunda ou terceira vez que tal coluna apareceu, se nao me engano). As pessoas ouviram falar da minha lista depois disso. Destino ou nao, tava usando a camiseta da revista 2600 - Hacker Quaterly nas duas ocasioes - no dia em que a dica apareceu no jornal e no dia em que a administracao me chamou (de uma forma simples, suspendendo minha conta) para perguntar sobre a minha lista. Nao que nao me conhecessem. Eu ERA um dos caras com o maior numero de horas usando a rede na Universidade de Sao Paulo (simples: o laboratorio de computacao ficava aberto a noite inteira, acesso via linha dedicada, era muito comum eu entrar meio-dia e sair as 7:00.. da manha do dia seguinte). Muito bom o fato de que nao podiam me acusar de tentar advinhar a senha de root.

As pesssoas eram paranoicas naquela epoca. Mas apesar de estar usando uma camiseta da 2600 com uma blue box estampada, (sim, tambem acharam muito ironico), apenas me disseram para nao usar os computadores da Universidade como veiculo de transmissao. Nunca mais. Foi duro. Mas mais tarde, isso acabou virando a melhor coisa que poderiam ter me pedido. (Eu estava com preguica) Isso me forcou a procurar por um site ftp (naquele tempo nao havia essa de geocities, internet comercial era novidade ate' nos EUA, voce tinha que pedir para que algum lugar aceitasse colocar seu material disponivel para ftp ou gopher, acho que o comum era achar netscape na versao 0.98, so' pra referencia). De todos os lugares, tentei pedir para a EFF - Electronic Frontier Foundation. O mesmo lugar de onde eu tinha feito download de tudo quanto e'coisa, horas a fio. Para minha surpresa, aceitaram. Me salvou muitas horas, mandando o Barata Eletrica por email para uma conta internet Freenet (saudade das BBS internet..) e depois mandando via email para 80 pessoas no Brasil (a conta ficava na Alemanha, as vezes demorava dez segundos para as letras aparecerem na tela). Sempre havia gente nova ouvindo sobre meu fanzine. Eu ate' fiz um programa que fazia a mala-direta de forma automatica. Mas mesmo assim, eram quatro ou cinco horas de trabalho para mandar um novo numero do fanzine para todo mundo que pedia.

Você pode checar a difusão do Barata Elétrica através do aparecimento em Newsgroups, como o Alt.2600 ou Soc.Culture.Brazil, vide:
Alt.2600

http://groups.google.com/groups?q=barata+eletrica+group:alt.2600.*&hl=pt&lr=&ie=UTF-8&selm=4g4okp%24h6e%40ixnews6.ix.netcom.com&rnum=6

ou

http://groups.google.com/groups?q=barata+eletrica+group:alt.2600.*&hl=pt&lr=&ie=UTF-8&sa=G&scoring=d

Soc. Culture. Brazil

http://groups.google.com/groups?q=barata+eletrica+group:soc.culture.brazil&hl=pt&lr=&ie=UTF-8&scoring=d&selm=9502161722.AA17444%40cat.cce.usp.br&rnum=40

Mais tarde a Universidade Federal de Santa Catarina concordou em colocar o zine no seu URL (onde esta ate' hoje). Pena que nao era em html. E outra universidade (ftp.ufba.br - valeu sluiz) pos no seu site ftp. Os participantes da lista "hackers" fora da minha Universidade cresceram ate' o numero de 200 e mais importante, um cara me pediu para ajudar num artigo sobre hackers para a revista SUPER INTERESSANTE (Materia do Heitor e do Ricardo Ano 9, Número 10 - 10/10/1995). Havia ate' mesmo uma foto minha e o URL do meu fanzine. A boa coisa e' que o reporter realmente entendeu meu ponto de vista e o artigo nao colocou os hackers como um tipo de inimigo publico.

A midia, a maior parte do tempo, nao se preocupa em aprender sobre um assunto qualquer. Eles constroem em cima de algo que alguem escreveu sobre isso anteriormente. Uma boa coisa sobre o meu e-zine e'que ele continha dados que ajudaram alguns reporteres a escreverem sobre esse assunto. Quando um cara foi pego na Universidade de Pernambuco, a revista VEJA nao chamou ele de hacker, mas de pirata do computador. Em outros dois break- ins, a mesma coisa aconteceu. Os caras ate' colocaram uma diferenca entre "hacker" e "dark-side-hacker", a mesma diferenca estressada no meu fanzine.

Me disseram que por causa do meu fanzine, seria sempre banido de conseguir acesso de super-usuario (como acontece normalmente, o cara resolve te aproveitar) legalmente, mesmo no meu lugar de trabalho. Os caras na administracao estavam paranoicos a meu respeito. Nao interessava se meu zine estava sendo imitado por outros caras em outras universidades, alguns ate' pedindo ajuda.

Hoje (e'poca em que escrevi isso, inicio de 96) ha' outro cara tambem fazendo um hacker zine, muito mais agressivo do que o meu (era o hack.br). A lista "hackers" alcancou 600 pessoas (na epoca em que escrevi era a terceira em numero e se nao fosse um defeito que fazia o software da lista apagar aleatoriamente inscritos, seria talvez a primeira). As pessoas estao apenas comecando a aprender sobre o assunto. Quase toda semana, alguem me pede para ensinar como usar o SATAN ou algum tipo de software de cracking. Outros me pedem algo mais complicado, como ser seu guru ou mestre. A maioria dos que pedem estao entre os 14 e 19 anos de idade. Uma vez que meus artigos falam de como e' dificil fazer isso sozinho, as pessoas oferecem ajuda e o fanzine esta sendo distribuido em tudo quanto e' lugar. Mesmo a BBS do lugar onde eu trabalho me pediu permissao para colocar la' (coisa que a Administracao tinha me pedido pra nao fazer). Este sucesso e' algo que ainda nao entendi direito.

Para escrever os artigos, tive que deixar de hackear, tanto por falta de tempo como por seguranca. Os artigos, por sinal, sempre bem simples, para evitar qualquer tipo de problemas legais. Eu fiz a besteira de usar o meu proprio nome, ao inves de um apelido. Tentei outra vez organizar o pessoal num boteco e (pra evitar excesso de lammers) ia informar a tchurma do local e hora pela internet. A Administracao tava de olho e resolveu "suspender" minha conta exatamente ha' dois dias desse novo encontro e a coisa melou. Nao aconteceu porque nao pude enviar os detalhes. A ultima coisa que aconteceu (na epoca q escrevi isso) foi a traducao do livro "Hacker Crackdown" do Bruce Sterling. Tava juntando gente via email, para traduzir parte por parte o livro. Cada um iria traduzir cinco ou dez paginas para o portugues. Um dia, minha conta foi craqueada e reclamei pros caras da administracao. Para mim, so' podia ser o trabalho de alguem com status de Super-Usuario ou administrador.

Eles foram checar os arquivos na minha conta. Meu nome ja' estava na lista negra, desnecessario dizer. Quando o cara que checou a coisa encontrou o arquivo de nome "crac.gz", ele nao se incomodou em checar o que tinha dentro. Ao inves, a conta foi bloqueada. E mais tarde, uma mulher (loira tingida) veio me avisar que o unico jeito de conseguir que minha conta "voltasse" seria abrir, entre testemunhas, aquele arquivo especifico (lembro ate' hoje as palavras: "o sistema deve ser protegido" - mais tarde a coisa mudou um pouco). Eles pediram para mim escrever num papel "la raison d'etre" do arquivo. Assinado, ponto. Um cara da alta administracao iria checar e me devolver o uso da conta. Um dia desses, talvez num mes (na verdade, levou tres meses e alguns dias, tinha dez megabytes de email e um especifico falando que minha caixa de email estava lotada e eu ia perder tudo se nao limpasse).

Eu ganhei uma verdadeira turma de admiradores de hackers de todo o Brasil (talvez ate' alguns peritos de verdade) e (quase) perdi meu acesso internet (do qual dependia e depende meu trabalho ate' hoje). E' algo a se falar.

Aviso aos navegantes, entao: Se voce esta' pensando a respeito de armar uma cena hacker no seu pais (a revista 2600 e' ponto de referencia em tudo quanto e' canto do mundo), nao faca isso sozinho. Informe-se sobre a legislacao (no caso do Brasil, vai cair uma pesadissima, me falaram). Sempre ajuda. Use quaisquer listas disponiveis e facam-nas funcionarem para voces. Planeje uma linha de acao. E' um processo que nao pode ser apressado. Armazenae o email que voce receber, mas criptografe tudo. Use a imprensa comum, quando disponivel. Tente fazer amigos entre os reporteres (coisa as vezes dificil). Use talkers, IRC e ate' mesmo telefone para fazer contatos. Eu usei apenas correio eletronico e um fanzine hacker. Nao e' o bastante. Se voce tiver problemas, divulgue. Isso nao vai piorar a coisa. Tente escrever bons artigos (pelo menos algo que consiga reler). Se usar fontes estrangeiras, tenha certeza de que entendeu o que leu. Nao pense que pode fazer dinheiro com isso so' porque ficou famoso (isso e' talvez a maior ilusao). Tente (porem) manter seu emprego, sua formatura (graduacao ou pos) e seus amigos. Ira' (com certeza) precisar deles alguma vez no futuro. Se sua conta for "congelada", nao chore. Tenha outra pra substituir. E acima de tudo, nao perca a esperanca. A coisa e' distribuir a semente. O resto e' uma questao de tempo.

ADENDO: Atualmente, ja' consegui um trabalho ajudando a montar um servidor internet (anonimamente). Tem um encontro 2600 rolando em Belo Horizonte, perto de um lugar chamado Pelego's Bar (nao perguntem que nao sei onde fica). Tinha um no RJ, mas saiu fora da lista do 2600 - Hacker Quaterly. O local onde eu ia tentar de novo montar a reuniao de hackers mensal foi posto a venda recentemente. O congresso internacional de hackers ainda e' projeto. E' muito dificil tirar os caras do computador aqui em Sao Paulo. Tudo e' muito longe. O cara fala que vai e nao aparece nem fala que nao vai aparecer. Varios clubes de hackers estao rolando pela rede. Lotados, ja'. Existe a lista fussadores, mas tambem dificil de entrar e lotadassa. Os maiores problemas sao excesso de gente querendo se enturmar para aprender besteira (so' o minimo necessario para se chamar de hacker) ou falta de tempo da mocada mais capacitada. Parece que vai rolar uns encontros por ai' de mocadas de BBSes underground, mas nao estou por dentro. Como nao acesso nada fora da Internet, so' se alguem me fornecer informacao vou me inteirar disso, o que nao quer dizer que o Brasil inteiro, atraves do BE va' ficar sabendo. Ta' assustando a quantidade de gente que quer se enturmar so' pra falar que e' hacker. So' pra falar que e'. Como se fosse necessario...

Parece que tao rolando uns zines novos por ai'. Mas como sao de caracteriscas proprias e nao pediram nenhuma especie de divulgacao, fazer o que? O Barata Eletrica ta' tao difundido, tao praga em tudo quanto e' BBS da vida, que nao pode ser realmente chamado de uma publicacao underground, no sentido da palavra. Existem BBSes (nao internet) como a Medusa e outras, que sao responsaveis por nucleos nacionais de distribuicao de fanzines de virus (um tipo de publicacao que ta' ficando mais popular e que tambem ate' engloba hacking). Mas divulgar significa lotar ainda mais umas poucas linhas telefonicas que o BBS nem sempre tem.(E tambem, dependendo do caso, submeter o dono da linha telefonica a algum tipo de perseguicao. Nao pensem que isso dai' nao acontece nem que nao esta' sendo vigiado, porque esta'). E tem o lance de propaganda gratuita que nao e' legal fazer se o produto nao for tambem gratuito.

Em alguns casos, se a BBS estivesse afim de aparecer, ela propria faria uma publicacao. Alguns fanzines como o NUKE, ou a PHRACK comecaram como uma forma de difundir a BBS underground do grupo. Um detalhe e' que no caso da PHRACK a informacao que a revista continha varias vezes era falsa ou incompleta. Isso e' comum pacas. O cara e' que tinha que se virar para completar a parte que faltava. E as informacoes realmente interessantes, se desatualizam rapidamente. Dai' a utilidade de listas como a lista "hackers". Nada impede que novos clubes de hackers sejam criados para intercambio de informacao. So' alguns por enquanto descobriram essa ideia, de criar suas proprias "panelinhas". Quando houver clubes suficientes, talvez as pessoas comecem a se reunir em locais, da mesma forma que se reunem em chats da UOL e IRC, que pelo que ouvi falar e' o que mais acontece.

A traducao do livro Hacker Crackdown ainda vai rolar, assim como vai rolar o meu projeto de uma conferencia aqui no Brasil. Os convidados estrangeiros, isso ta' quase certo. Os brasileiros ainda sao uma duvida. O meu chefe ainda tem interesse no assunto, faltam apenas rolar varios detalhes. Meu maior medo e' montar isso sem ter certeza de publico, como rolou nos encontros. Quem tiver interesse, fique ligado na lista hackers. O dia que rolar, vai aparecer a noticia la'.

(7/97) A pagina original foi "derrubada". http://www.geocities.com/SiliconValley/5620 nao existe mais. Pode tanto ter sido trabalho de alguem ou a geocities nao gostou do que coloquei na pagina. Vai saber?

(19/08) Foi feita uma tradução muito ruim, mas legível do Hacker Crackdown, disponível no http://w3.to/fussador

(10/04/02) Voltei a atualizar essa página. Muita história pra contar. Começando de onde parei: O livro  "Hacker Crackdown", de Bruce Sterling, agora tem uma tradução em espanhol, feita do jeito que gostaria de ter feito em português, vide link em http://www.kriptopolis.com/net/modules.php?op=modload&name=Descargas&file=index&req=getit&lid=20 . RECOMENDO.

RETROSPECTIVA(r):

CONTINUAÇÃO DE "COMO COMEÇAR UMA CENA HACKER"

Derneval R.R. Cunha

Muita gente me pergunta hoje como é que não fiquei rico com a Internet ou como estão as coisas. Normalmente são pessoas que já perderam o contato com o fanzine faz tempo. E reconheço, é difícil ler tudo o que escrevo. É muita coisa. Mas, resumindo:

Após aquilo que descrevi como sendo o início do Barata Elétrica, muita coisa aconteceu. Os historeadores de plantão vão me perdoar a ausência de datas e de nomes. As datas estão em emails, guardados a 7 chaves, esperando o dia em que vou fazer um trabalho acadêmico sobre o assunto (falta só orientador). Os nomes e nicks eu vou guardar também por quê já vi que aparecer no Barata Elétrica tanto pode ser uma boa como uma muito ruim. A pessoa fica marcada como hacker ou como cracker. E o que é pior, usa meu nome como propaganda. "Sou amigo do Derneval" como se isso fosse algo incrível (e de repente até é). Então vamos aos eventos:

Minha vida pessoal se misturou com a do Fanzine, coisa horrível. No início de 97, um carinha apareceu querendo continuar onde eu tinha parado, com aquela coisa de reunir uns carinhas de São Paulo para montar a base para um encontro maior, regional e depois um encontro de Hackers tipo os de Amsterdam ou de Nova York. Parecia sincero, veio com um papo de que queria montar encontros em São Paulo e começou a reunir uns indivíduos. Até concordei em aparecer. A maioria dos caras eram colegas de trabalho dele. Era um aproveitador, com lábia, mas nada de hacking na cabeça, só me dei conta disso bem depois. Até hoje ele coloca meu nome na página comercial dele como se fosse um troféu e fôssemos amigos ou tivessemos alguma forma de contato (alguns amigos meus, que tem menos experiência de vida, confiam nesse cara até hoje, vide o caso da novela de Roque Santeiro). Deletei o cara da minha lista e agora tanto o nick quanto o nome dele são palavrão.

Mas com minha ajuda (recomendei para muita gente) os encontros em São Paulo viraram uma realidade. Claro que hoje tem vários e váriados tipos de profissionais se encontrando via internet ou em bares. Mas na época não tinha nada do gênero e vários programadores e aficcionados só tinham vida social nesses encontros de sábado a noite. As vezes vinham até 30 a 40 pessoas. Eram pessoas que traziam pessoas que traziam pessoas. A internet não era uma coisa tão difundida quanto hoje. Era uma minoria. Dentro dessa minoria estavam os caras que participavam dos encontros de São Paulo, perto da USP. Isso, por volta de julho de 97 em diante (faz alguns anos que isso terminou, é bom frisar). Era o ano em que poderia até ter ido pros EUA e criado algo como o Yahoo ou o Cadê aqui no Brasil, mas preferi ir para a Pós-graduação. Ao mesmo tempo terminei meu curso na USP, fiquei desempregado e também tive que mudar de endereço. E mais ou menos a época em que a Linuxsp começou com os encontros de linuxeiros e também que as revistas começaram a distribuir CDs de Linux da Conectiva, (altamente invadível, na época).

Naquele ano de 97 houve também o encontro de Hackers em Nova York, o BEYOND HOPE e em Amsterdã, o HIP, HACKIN IN PROGRESS, já descrito em números anteriores do fanzine, vide URL:  hip97.htm . Eu me xingo até hoje por não ter participado, mas como contei acima, estava aguardando uma vaga de emprego. A revista Super-Interessante não se interessou em financiar minha ida para Amsterdã, então cortei todo o papo com a imprensa. Mal sabia eu que imprensa brasileira é assim mesmo: ninguém paga por reportagem. As reportagens quase sempre são cópias de assuntos que fazem sucesso lá fora ou então são divulgação de produtos em forma de notícia. Eles não iriam pagar nem um centavo para que eu fosse até lá cobrir o evento, mas adorariam ler o que eu escrevesse sobre o assunto.

Cancelei a idéia e fui me concentrar no meu mestrado. Resolvi também parar de ajudar repórteres. Um que era amigo e virou diretor de revista me ofereceu uma vaga de colunista, mas acredita: me deu um número de telefone onde a secretária sempre informava "ele não está na sala no momento, tem um número de telefone para retornar a ligação". Não importava a hora do dia em que ligasse(*). Nada de email detalhando o quanto eu ia receber para escrever a coluna. Outra revista me ofereceu grana, mas queria pagar só depois que a(s) reportagem(ns) saísse(m) nas bancas. Queriam que eu contasse tudinho tudinho (coisas que talvez colocassem amigos em dificuldades) para (noventa dias) depois (quem sabe) me pagar R$50,00 ou R$100,00. Se eu chegar num ônibus em São Paulo, com roupa de rato de praia e falar:  "Gente: não vi aqui para assaltar nem roubar ninguém: sou apenas um jovem desesperado por que minha avozinha, coitada, está lá na minha casa de praia, em Angra dos Reis, triste, desesperada, desconsolada por quê quebrou uma peça do Jet-ski dela! E tem que importar de Miami a reposição. Eu pediria a vocês uma modesta contribuição, vale qualquer coisa, Vale-transporte, Vale-cargo-público, ticket-refeição, por favor, ajudem a minha avó a voltar de novo a usar o Jet-ski dela".. se eu fizer isso nos ônibus de São Paulo, é capaz que em 1 ou 2 dias acumulo bem mais do que R$50,00 ou R$100,00 e olha que paulista está difícil de abrir a carteira.

(*) Não existe coisa mais nojenta do que ter que "caçar" a pessoa via telefone. Muito difícil eu fazer isso, principalmente pra jornalista.

Quantos repórteres não me procuraram para reportagens e aparecer na televisão? Só de televisão recusei pelo menos umas 4 ou 5 ofertas, incluindo web-TV. Uma me procurou falando que a coisa era específica comigo. Depois de 20 minutos de conversa, me pediu para levar junto também um  "hacker do mal" para se contrapor a mim. A TVUSP eu até concordei em ajudar a fazer um documentário sobre o assunto, que ficou muuiiito bom. O resultado mais interessante (da minha recusa em ajudar jornalista) foi uma da Revista GALILEU. Nem me dei ao trabalho de falar mal da reportagem do cara no fanzine, seria propaganda. O sujeito se baseou no canal Discovery para se informar sobre o assunto. E como escrevia mal. Contei uns 20 ou 30 erros, desde erro de digitação simples (errou meu nome e o de outros sujeitos) até erros conceituais (gozado é que vários trechos da reportagem foram repetidos em livros vagabundos sobre "hackers" e minha tagline "eu acesso, logo existo" foi comentada sem receber o crédito). Claro que toda essa  falta de ajuda teve uma resposta a altura: fazem a história da internet brasileira e não tocam nunca na existência do fanzine. Tem reportagem sobre hacker, nem mencionam, na maioria das vezes.

Outro tipo de pedido de ajuda foram de pessoas querendo dicas sobre hackers para escrever livros. Algumas para melhorarem a capacidade de trabalho. Poderia fazer um livro com os diferentes tipos de email que tinham como objetivo me perguntar como se invadia sistemas, zerava a conta de telefone ou "quero ser hacker, me ensina". Não sei como o pessoal pode me achar capaz de fazer esse tipo de coisa. Pela lógica, seria dar bandeira, o mesmo que sair na rua com uma camiseta  "sou assaltante, me prenda". Mas todo dia chegava email. Durante um tempo fiz um email com auto-responder: a pessoa mandava o email para lá, já recebia automaticamente uma resposta educada, falando que eu não fazia isso. Pagar pela ajuda, acho que só uma pessoa falou nisso..

Mas, voltando ao assunto.. houve um ano em que aquilo que a Mídia poderia chamar de "Movimento Hacker" (coisa meio fantasiosa, de certa forma) estava efervescente. Com o Windows 95 era bastante fácil o acesso à internet. Os CDs de instalação com o Internet Explorer poupavam o sujeito de ficar aprendendo sobre o computador dele, coisa que era quase um ritual de iniciação. O cavalo de tróia  "Back Orifice" ainda não era a mania que virou mais tarde, com todo mundo mandando "presentes de grego" possibilitando invasões de micro que usavam Win95. A revista Internet World publicou um conjunto de reportagens sobre insegurança informática, que (junto com material meu, foram reunidas em livro por um cara que nem sequer deu o nome dos autores) detalhando quase todas as dicas para as inseguranças do Windows95, o sistema operacional que montes de caras como eu se recusaram a aprender a usar, durante bastante tempo. As reportagens ficaram desatualizadas em pouco tempo. Mas tanto aqui como em outros lugares do País, as palavras de ordem para qualquer imbecil era "nukar", "mailbomb", "Denial of Service",  "Trojan", "lamer". As pessoas que entendiam isso se denominavam "hackers". A lista  "hackers" da Unicamp foi pro saco. Era quase a primeira em número de assinantes. Detalhe: houve época em que um terço deles era de email  "gov.br". Vai saber por quê.. (eu até sei, mas fica pro livro).

A pior e a melhor parte foi um encontro da Faculdade de Comunicação da UFBA, em Salvador. Detalhei isso no fanzine, disponível no URL  combah.htm . Muitas palestras foram interessantes e esse foi o lado bom, a melhor parte. A parte que foi ruim foi a palestra da representante do UOL, uma palestra da Marion Strecker, a toda-poderosa do UOL, na época um portal muito bom que permitia ler jornal tipo Folha de São Paulo e outras revistas de graça. A menina dos olhos do UOL era um estudo do público leitor do UOL. A Marion terminou a palestra comentando que tipos de funcionários a empresa queria. Isso eu nunca vou me esquecer, queria ter gravado em fita cassete.

 "Nós do UOL queremos alguém com:

Coisa inspiradora de se ouvir quando se é estudante de comunicação como a maioria dos presentes. Só que o UOL tinha aberto uma vaga para redator, mais ou menos um mês e meio antes. Inscrição On-line. A minha grande chance: espero ela, a grande chefe do UOL terminar sua palestra e pergunto, na frente de todo mundo por que é que eu, que tenho todas as qualidades ali descritas como essenciais para o UOL, por que eles abriram um processo on-line de inscrição e além de não me escolheram não me enviaram o resultado. Fui educado e não fiz isso. Acabei optando por deixar para perguntar na saída. A única resposta foi "é, eles deviam ter enviado um email pelo menos". Também aproveitei para perguntar se o conteúdo do UOL ia continuar gratuito e batata: segunda-feira seguinte já estavam restringindo para quem era assinante.

Com a explosão da internet no Brasil, as opções se restringiram um pouco. Em pouco tempo, o conhecimento de Unix deixou de ser um diferencial, passou a ser desnecessário. Os "manuais" de vandalismo eletrônico que incluíram isso fizeram um monte de palermas estudarem isso a toa. A toa por que quem estuda UNIX a sério não se liga em vandalismo eletrônico. Tem muita coisa para estudar para se ficar pensando em ferrar com a vida dos outros. Quem estuda pouco não acha graça em nada. O ambiente Windows por outro lado, nem é preciso comentar. E o fato é que muita gente comprou livro que ficou encostado na estante. Serviu só para mostrar pro amigo. As salas de Chat aprenderam rapidinho a fechar suas portas pros vândalos.

O fanzine Barata Elétrica deixou de ser o único. Vários outros começaram, como o Alternetive (ainda em funcionamento até hoje, veja minha entrevista pro autor no URL http://www.ufsm.br/alternet/zine/be.html continua lá), o Hack.br (baseado no Barata), o Technoráculo, o Mundi, o Dr.Byte, Infotime, Uivo, etc.. (tem uma lista no barata9.html . Se eu parar para escrever faço um livro só com o material que eu tenho. Em todo o Brasil o Barata Elétrica foi praga, incluindo nas BBSes onde também foi o primeiro fanzine. Chato é que não falava quase nada do ambiente mais comum de transmissão, que eram as BBSes (isso até a internet tomar conta). Quanto a ezines hackers, putz! O único que me lembro ter gostado foi o Nethack. Coloquei uma relação deles em new.htm mas nem tentei ir muito fundo na descrição desses fanzines, daria um livro, um monte deles era cópia uns dos outros, ficou para outro dia. O Axur 05 foi o grande concorrente em popularidade. Falavam mal do meu fanzine pra caramba. Editaram pouco, cerca de 4 exemplares. No último moderaram o tom, a gente fez as pazes e qualquer dia conto o resto (ou vc pode ler em hackpoa22.html ).

Tendo começado o mestrado na USP, foram tempos difíceis.

Sofri perseguições. Como por exemplo, um cara que já tinha conseguido meses de suspensão, várias reclamações por comportamento agressivo entre outras. Queria uma briga comigo, não topei. Para tentar me forçar, espalhou e tentou convencer gente que eu era capaz de alterar a nota dele no sistema de notas da USP. Até que gostaria de ter essa capacidade. Teria terminado meu curso mais cedo, teria entrado na Pós-graduação quando era algo quase automático, receber bolsa de Pós, entre outras facilidades. A sorte (dele) é que a coisa não deu em nada. O pessoal de informática da USP, salvo exceções que não estão no topo da hierarquia, não gosta da minha pessoa. Talvez por conta da primeira vez que apareci numa reportagem de jornal como "hacker", no jornal Estado de São Paulo, 26 de abril de 96. Shimamura prendendo o Mitnick. Me ferrei nessa. O Carlos Graieb me colocou como o  "hacker mais conhecido do Brasil". Mas "hacker" no contexto da reportagem seria alguém que invade sistemas. Teve funcionário que entendeu tão errado que repete por aí que eu tinha sido preso. E a lenda se espalhou. Se houvesse jeito de comprovar algo contra mim, não manteriam meu email rodrigde@usp.br quando entrei na Pós.

O segundo pior episódio desse preconceito foi um sujeito que chegou a trabalhar comigo num lugar uns 6 meses. Conseguiu ser Root legalmente, cuidava da segurança de um laboratório de computação. Fora da USP, digamos. Parecia ser alguém competente e responsável. E até era, só que ficou paranóico de tanto ler sobre segurança informática. Uma dia decidiu que ia fazer um ftp site com fanzines hacker e pediu minha ajuda. Sem avisar, tentei fazer um upload de uma pá de zines para o local. Não tinha seção de "incoming". Desisti de jogar os arquivos dentro do site. No dia seguinte ele me mandou email dizendo que eu tinha tentado invadir o site dele! Até que ele foi competente. Quis me ouvir primeiro. A bronca que eu dei no telefone foi memorável, tanto em volume quanto em razões e ele foi muito decente em ouvir até o fim. Por que eu nunca seria capaz de fazer isso, danificar o trabalho de outra pessoa e óbvio dos óbvios também não usaria meu próprio nick durante o processo, etc, etc.. O Derneval que faz o fanzine Barata Elétrica não pode fazer isso. Foi uma situação difícil de segurar. Isso aconteceu com um cara que trabalhou comigo. Minha conclusão é que serviço de segurança informática realmente deixa qualquer um paranóico e que a pessoa fica procurando chifre em urubu se não tomar cuidado. Olhando desse ângulo, coitado do pessoal da USP que ficou vigiando minha vida na internet pensando que um dia iam comprovar que sou perigoso.. tanto trabalho em vão. Eu não posso atirar a primeira pedra nesse assunto de paranóia. Se bem que paranóia é quando você *imagina* uma perseguição. Meu caso é de ver minha conta internet travada por motivos estúpidos ou sem motivo nenhum e uma grande lista de "coincidências" e outras coisas estranhas, muito estranhas.

Uma vez telefonei para um pessoal lá no RS. Disse que não podia ir por falta de carona. Três dias depois recebi oferta de carona exatamente para Porto Alegre, via email. Alguém tinha colocado meu email num serviço de caronas via internet! Detalhe: a pessoa com quem falei jurou que não tinha falado isso para ninguém, mas que ela mesma já tinha checado seu telefone para grampo e detectado que podia estar grampeado. Nunca soube quem foi. Outra foi o aparecimento de uma menina pedindo para usar o micro no meu lugar de trabalho. Assistiu Shrek? Lembra da princesa? Se a menina vestisse igual, iam falar que saiu da tela. Inclusive fazia cafuné. E .. também queria ser hacker. Aí a dúvida: eu tinha anunciado para meio mundo que estava escrevendo um livro sobre hackers. Não foi a única loira. Teve outra, ambas com algo em comum: eram parecidas com a foto de um poster que eu tinha na parede do meu quarto. Qualquer dia vou colocar anúncio vendendo para o pessoal que acredita em simpatia: basta colocar este poster numa parede voltada para a janela que dá de frente para outro apartamento e aparece uma igual na sua vida.

O que não quer dizer que ser conhecido como hacker dá sorte com as mulheres. Namorei uma garota por cerca de 4 anos. Acabou, dois anos depois quis me encontrar com ela de novo. Ela ficou adiando até que um dia me mandou uma carta por correio normal: não queria me dar seu email por que tinha medo de hackers. Duas bebedeiras depois fui falar com ela e até descobri que usava Internet Explorer e Outlook como mailer. Coitada. As melhores portas de entrada para vírus de computador e outros códigos maliciosos. Como é que é a canção mesmo? "É, nessa minha casa tem goteira.. pinga ni mim.. pinga ni mim."

A parte boa da coisa de ser famoso é poder ir em qualquer lugar e fazer amizades quase instãntaneas com gente legal. Ou encontrar ao vivo gente que já conheci de nome, on-line. Foi assim com o criador do manual de violação de telefones. Eu estava com uma camiseta do fanzine numa discoteca e o cara me descobriu. Em Salvador também foi assim. Conheci um sujeito de MG que tinha sua própria turma de fuçadores em MG. Outra estava vendo um cara estudando no ônibus, conversei, depois de um tempo perguntei, o cara quase engasgou. É legal ver essa reação (positiva) das pessoas. O chato é quando voltam com aquela velha pergunta: "me ensina a ser hacker"? Ou pior, querem tirar foto junto comigo. Normalmente dá azar e a amizade acaba ou diminui drasticamente em pouco tempo. A pessoa arma uma situação constrangedora onde eu topo tirar a foto e pouco tempo depois descubro que era armação. Teve um caso em que continuei falando com a pessoa, mas perdi o contato. Noutro caso, o sujeito armou uma viagem só para conseguir o feito. Tirar foto é algo que pode até ser inocente, mas o quê o cara faz com ela? Fazer propaganda pros colegas que me conhece? Tô fora. Exceções até existem mas são poucas. Minha orientadora, por exemplo.

A luta agora é tentar fazer um doutorado, já que estou terminando o mestrado, com a dissertação "Entre Gabeira e Guevara: Notas sobre os escritos da Luta Armada". Era para ser sobre a vida na clandestinidade, coisa explorada no documentário de Patrícia Moran, "Clandestinos", vide a mostra de documentários "É tudo verdade" http://www.kinoforum.org/php/kino_docs/ficha.php?op=show&index=7581 . Nem cheguei a assistir, mas a sinopse fala a idéia que eu tinha quando comecei. Sim, claro que minha preferência inicial seria usando o tema hackers, mas como não fiz a graduação nem o mestrado em áreas de informática, ficou meio difícil. E não sei se vou poder fazer doutorado usando o tema de segurança informática. Como minha formação não é de sociólogo (para fazer algo na área de Antropologia é necessário) analisar a turma também está meio fora, depende muito do orientador. Até tive uma oferta de orientação, mas para fazer em 2 anos. Ainda estou pensando. O tema hackers me é muito caro, mas nem tudo na vida é como a gente quer, vamos ver, os dados estão rolando.

Já defendi o mestrado, pode ser acessado na biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, como mostra o Dedalus ( http://dedalus.usp.br:4500/ALEPH/por/USP/USP/DEDALUS/FIND-A?FIND=Todos&BASE=Todas+as+Bases&VALUE=derneval ). Está longe do ideal de mestrado, mas considerando que eu fiz sem bolsa e com tremendas dificuldades financeiras...

Atualmente estou tentando Doutorado pela 5a ou 6a vez.