Agora, falando sério (o parágrafo acima foi piada)... não
foi tão difícil assim. Fiquei hospedado na casa de alguns membros
do grupo. E todo mundo se conhece. De vista, de chat, de festa ou por conhecer
a "Ema". Uma figura central no chat da tchurma, um canal que nem vou falar
o nome, num provedor do Rio Grande do Sul. Invite-only. Não precisei
me apresentar. Pelo contrário. De acordo com muitos, o fanzine Barata
Elétrica foi o primeiro nas BBSes de todo o RS, apesar de feito para
a Internet. Pelo jeito, foi o primeiro de muitas BBSes de todo o Brasil.
Precisei ir lá para ouvir isso.
|
Foi uma fila de pessoas me hospedando. O primeiro que conheci foi o Chacal.
Fiquei na casa dele alguns dias. Não parece rato de computador, a
primeira vista. Até começar a conversar contigo. O mais
próximo que já encontrei de um dark-side hacker, tipo Kevin
Poulsen. Merecia uma biografia. Conhece algo de telefones, para variar. Só
anotei uns papos. É daqueles que mata a cobra e mostra o pau (de acordo
com depoimentos, em vários sentidos). Nada de Nerd, cheio de mulheres.
Coyote foi outro, me deu umas idéias muito boas sobre o que é
a geração ano 2000. O pessoal que usa internet até para
namorar. Outros que conheci foram o Bash (autor de um fã-zine sobre
linux), o Naja (maior papo legal), Whirred (um que já sofreu altos
problemas e hoje abandonou um pouco a fuçação). Acho
que não esqueci ninguém.. ah, sim..
|
No sábado antes de ir embora, a Ema me fez o "grande" favor
de colocar frente a frente os dois mais famosos fanzineiros do computer
underground nacional. Entre parênteses porque a princípio, não
era muito fãs da idéia de conhecer a moçada que fez
o Axur05. Mas seria a mesma coisa que ir a Paris e não subir na Torre
Eiffel (se bem que já fui em Paris, morei meses naquela cidade-luz
e não fiz isso, de propósito). Então, o pessoal fez
toda aquela festa de hacking e fui lá, apertar a mão do pessoal
que me xingou um pouco, nos primeiros números. Gente fina, o Cshell.
Infelizmente conversamos pouco tempo (só 2 ou 3 horas). Até
concordei em tirar uma foto junto com ele e o Acid (que pedi para não
divulgarem). Altas trocas de experiências em termos do que é
fazer um fanzine no Brasil.
|
Foi interessante ouvir que sim, tal como eu pensava, a idéia deles
não era me deixar por baixo, mas estabelecer um novo tipo de Fanzine,
com outro tipo de ética. Foi o que entendi. Apesar que ainda assim
fiquei meio chateado por conta da atitude de um (agora ex) membro do fanzine.(
Imagina só o que é estar no meio de um encontro de hackers
e ouvir alguém falar na sua frente: "Barata Elétrica?
Maior podreira, meu " ficou todo mundo rindo da gafe do cara que não
sabia quem eu era). Minha idéia foi fazer a cabeça da moçada.
Eles também tinham consciência desse lance. Mas tinham que chutar
o pau da barraca com alguém e meu fanzine era o que tinha mais
evidência. Propuseram fazer uma edição conjunta, seria
o lado técnico deles mais a retórica que é minha
característica. Não sei. Quando terminar um dos livros, conto
mais desse papo que foi muito bom e valeu a pena.
|
O que mais me impressionou no grupo (que não tem um nome, é
apenas uma turma normal, guardadas as devidas proporções e
descontando a alta capacidade técnica e "tara" por Linux) foi o quanto
o pessoal se distancia da imagem de Nerd. Sim, alguns, como o CShell,
começaram tipo 10 anos de idade. Outros como o Noface, o cara já
pintou e bordou meio mundo afora, tem uma biografia extensa (a entrevista
dele fica para ... ooooouuuuutra ocasião) como hacker, cracker, phreaker,
etc. Mas é um pessoal que sai a noite, vai em festas, faz festas,
tem namoradas (um ou outro usa o termo no plural). Zoam pra caramba (Chacal
quando tá afim, faz uma voz de mulher que engana bem).. Me senti meio
velho.
|
Tanto que me levaram numa boite. Aqui em São Paulo eu não vou,
normalmente. Estava há anos namorando a mesma menina e nunca fui disso.
"Ficar" é uma palavra que ainda não entendi direito.
Aí chego lá e.. é o tipo de lugar onde NINGUÉM
é de NINGUÉM (coisa difícil de entender, a palavra Swing
não faz parte do vocabulário gaúcho, verdadeiro tabu).
Um exemplo também de como as coisas são o contrário
lá. Em São Paulo, um espaço "cult" acaba virando
um espaço "gay". Lá, um espaço "gay" virou
"cult", abriu para o público. E .. tinha um alguns gauchos se
beijando lá.
|
E mulher bonita pra caramba. Tipo: Vânia Candia, Andréa Greco,
Ana Elisa Peixoto, Mônia Vogel, Patrícia Lessa, Aneliese Schulman,
Solange Fischborne, Marta Moesch.. (capa de Playboy ou Ele-Ela). Coisa de
cair o queixo. Uma boa parte, loiras ou morenas de olho azul, verde, cinza,
etc.. Não tinha "não existe mulher feia foi você que
não bebeu demais". Fiquei tão besta que cheguei a perguntar
pra uma delas se ela entrava no Chat ou se conhecia o fanzine Barata
Elétrica. Coisa de Nerd, né? Pois é. Muito tempo namorando
a mesma pessoa enferruja. O pessoal morreu de rir quando me viu fazendo isso.
Devem estar comentando até hoje. O fato é que, apesar de hacker
em POÁ ter a maior fama entre o mulherio, voltei sem ter conhecido
ninguém, no sentido bíblico da palavra.
|