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VESTIBULAR E ADOLESCÊNCIA

Derneval R.R. Cunha

"O tempo inteiro eu tenho que estudar
Assim não sei se eu vou conseguir
Passar nesse tal de vestibular
Não saco nada de física
Literatura ou gramática
Só gosto de educação sexual
E odeio química"
Química (Renato Russo)

LP – Cinema Mudo

Introdução

A vida na adolescência tem o seu sabor. Na escola, alguns estudam, o resto inventa um jeito de passar o tempo enquanto o professor fala alguma coisa. Olhando as janelas, trocando bilhetes, falando com o colega, pensando no que vai fazer o resto do dia. Mesmice total. Só que quando completa os 15 anos em diante, começa:

Na sala de jantar, vem aquele papo de que o dinheiro não está dando. Começam a lembrar o passado de fartura que já foi. Que aquele tempo em que o dinheiro comprava mais. Depois vem aquela conversa de falar que o seu quarto está uma bagunça. Por outro lado, suas roupas são horríveis. Ficam um tempo falando que você se veste que nem um vagabundo. Que essa tatuagem é horrível. Talvez então começa um papo sobre o tempo em que seu pai tinha sua idade estava ajudando o pai dele, trabalhando. Vestia bem para ser respeitado. Sair para as festas, balada, nem pensar. Tinha que ficar em casa estudando para passar no concurso. Queria um emprego decente, para poder esposar sua mãe. Poder sustentar o uma família. Senão o pai dela nem deixava namorar. Depois desse flash-back, quando parece que a conversa já acabou, vem a grande pergunta:

E você, o que você pretende fazer da sua vida?

Pode até ser que hoje em dia a conversa nem aconteça desse jeito. Depende muito da família. Mas não adianta responder que quando você crescer vai ser velho. Mas o resultado é o mesmo. Estamos todos no mesmo barco. Temos que trabalhar para viver.

Os grandes exemplos

Seu pai, sua mãe, qualquer pessoa significativa que está tomando conta de você vai chegar em algum momento e apontar algum grande exemplo de alguém que se deu bem. Trabalhou e chegou lá. A parte ruim é a insistência no verbo "trabalhar", a parte relativa ao esforço. Nunca ninguém fala: "tá vendo a Carla Perez, era nada mas agora tem o programa dela" ou "viu, meu filho, tem que fazer que nem aquele cara, ganhou dez mil vezes na loteria esportiva". Não, sempre falam em trabalho. E em alguém que trabalhou para chegar lá.

A grande conclusão a que se chega é que sendo jovem, pode-se estudar. E escolher uma profissão onde trabalhe fazendo o que se gosta. Melhor do que se fazer o que não se gosta. Ganhar dinheiro também é bom. O ideal.

Mas as pessoas não consideram amante profissional como profissão. Ladrão muito menos. Só em filme. Falando nisso, todas as coisas que parecem interessantes de se fazer não são consideradas como profissão. Ou então requerem estudo, que significa esforço bem maior do que trabalho e incompatível com gostar da vida. Ninguém leu o texto do Lafargue, "Direito à Preguiça". Nos grandes exemplos, ninguém também lembra Jesus Cristo falando da preguiça:

"Contemplai o crescimento dos lírios dos campos, eles não trabalham nem fiam e, todavia, digo-vos, Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu com maior brilho." Sermão da Montanha, Evangelho segundo São Mateus, cap. VI.

Objetivo na vida

Se "consumir" fosse objetivo, seria bom. Mas não é. Nasceu, já se consome oxigênio. Aos 8 anos de idade, o objetivo é chegar logo ao fim da aula e ir poder brincar com os amigos. 8 anos depois, é conseguir alguém para sair no final de semana. A coisa vai mudando com a idade..

Alguns definem o objetivo por padrões do que parece ser a sociedade de consumo. Para se viver bem, o sujeito precisa:

- Ter um carro

- Um local para estacionar

- Um local para dormir, de preferência onde possa se reunir com os amigos, escutar música

- Dinheiro o suficiente para poder comprar tudo o que inventam, como celular, home-theater, computador, jet-ski, motocicleta

- Férias para poder usufruir dessas benesses

- Amigos com quem possa jogar a conversa fora

- Segurança para poder se manter nesse esquema

- Advogado para poder tirar de encrencas

- Babá para tomar conta dos filhos

- Companheiro ou companheira (preferência com um físico legal, uma conversa agradável e voz de aviso de aeroporto)

- Amante discreta(o) porquê ninguém é de ferro (alguns diriam, nem todos)

- Outro lugar para poder ficar bem longe de todo mundo, de tempos em tempos.

- Umas viagenzinhas para o exterior, para se abastecer de novidades

Sonhar é bom. Mas ainda assim não há garantias de que tudo isso aí aconteça aos 18 anos. Só se receber herança, ganhar prêmio em dinheiro ou, no caso de mulher, engravidar de alguém bem famoso (mas ainda assim, muito investimento com academia, plástica e outras coisas).

Claro que sempre tem os objetivos mais simples (e mais abstratos):

Sair da casa dos pais
Ser independente
Viajar pelo mundo
Comprar uma moto
Casar
O mais simples de todo é simplesmente ser feliz. Ninguém compreende. Um objetivo, para contar para todo mundo, precisa ser definido.

Antes do Vestibular

Planejamento - Dicas de estudo

Agendar os estudos Não se pode ficar só estudando uma matéria ou outra. Melhor fazer uma lista durante o dia, com hora marcada para cada matéria:

13:00 – Matemática

14:00 – Química

15:00 – Português

etc..

Claro que a ordem de estudo fica a cargo da pessoa. Se a pessoa gosta de química mas detesta matemática, pode funcionar legal colocar a matéria gostosa depois da matéria que detesta. Se odeia tudo, pode colocar por ordem de dificuldade. Uma fácil, depois uma difícil. Minha idéia, claro.

Respeitar as diferenças de humor. Há pessoas que são que nem relógio e estudam as mesmas coisas todos os dias, todos os horários. Cada um é cada um. Há dias em que estudar língua portuguesa fica muito abstrato. Há dias em que estudar matemática está mais fácil. Nesses casos, pode-se usar aquele período para aprender questões difíceis. O importante é a pessoa construir um "feeling" uma idéia de organizar o estudo.

Deixar um período de aquecimento. Ninguém treina para uma maratona já correndo 40 quilômetros. Começa com um passo, vai para cem, duzentos, mil metros, aumenta o número de vezes por semana que corre. Depois de uns quatro meses, já chega nos 10, 20 quilômetros por dia. Os japoneses (do Japão) e coreanos (da Coréia) chegam a falar em dormir 4 horas por dia. Mas para chegar nisso, a pessoa vai lá aos poucos. Começa estudando um pouco mais cada dia, se esforçando mais. Até descobrir um nível de estudo. Depois sobe mais um pouco. Lá pelo final, já desesperado, aí ultrapassa o limite máximo de estudo. Tem que ir com cuidado. Mesmo podendo estudar mais, respeita um pouco o limite.

Intervalos, diversão e exercício físico. Bom descansar um pouco. Pelo menos uns dez minutos a cada hora. Quanto mais estressado mais difícil absorver coisa nova. Só porquê é estudo não tem que ser martírio. Exercício físico é uma boa forma de se "desanuviar a cabeça".

Ambiente de estudo ideal. Sou a favor de tirar qualquer poster da parede, esconder os livros que gosta, o aparelho de som. Quanto maior a dificuldade de estudo, maior a facilidade de perder a concentração. Estudar desconcentrado não é estudar. Esquece o celular, a televisão, etc.. silêncio se isso for possível. Estudar deitado na cama não funciona.

Revisar a matéria. Melhora muito a memorização, revisar o material depois de estudar. Terminou de ler o livro, tenta fazer um resumo do que leu, como se a prova for no dia seguinte.

Usar provas anteriores como guia. Normalmente vestibular caem tanto questões de memorização quanto de raciocínio. Então é o lance olhar as provas anteriores de tempos em tempos, para saber onde se está fraco ou se está forte.

O objetivo final: escolhendo uma profissãoA motivação é a chave de tudo. Mas os obstáculos podem ser grandes. E nem sempre um bom cursinho, por si só, ajuda. Há coisas imprevisíveis.

Vamos repensar o cotidiano de um adolescente. Aquela coisa, tipo "Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones". Fazer a escolha da profissão aos 15, 16 anos. Parece meio piada. Ninguém mais velho quer conversar com você, a não ser que pintou alguma coisa errada. Ou quando querem sua opinião (antes de convencerem a fazer algo que você não quer fazer mas vai ter que fazer do mesmo jeito).

As escolhas mais básicas

Não tem que pensar muito:

Médico, engenheiro, jornalista, professor, político, padre, militar, atleta

e.. ser famoso.

Esta última é ótima, você pergunta para qualquer um, dependendo da idade, a pessoa fala: "quero ser famoso". Aí a 2a pergunta: em quê?

- Surfista

- Jogador de futebol

- Apresentador de TV

- Cantor

- Ator

- Etc..

Ninguém fala em ser lixeiro ou coveiro (agente penitenciário, ia esquecendo). Pelo menos até o dia em que está desempregado, sem opção, prestando tudo quanto é tipo de concurso público. Claro, se a pessoa chega nesse grau de desespero (ou de falta de opção), todo mundo aplaude (claro, podem falar que finalmente estão vendo alguém atingir sua verdadeira vocação).

Apoio da família

Existe. Pode ser positivo ou negativo. Muito complicado falar em família, hoje em dia ou em qualquer época. Mas vamos supor o modelo tradicional onde pai e mãe moram juntos. Claro que isso não quer dizer muita coisa. Família classe média tem uma visão, família abastada tem outra e uma família menos abastada pode ter outra. Ou não. São várias formas de pensar, há família onde o filho ser traficante quer dizer que vai melhorar de situação, trazer conforto para casa.

Há caso em que um filho na faculdade pode significar alguém com diploma universitário. Ou seja, um cara que dispõe dos elementos necessários para aquela coisa chamada "vencer na vida". Então o sujeito é "bombardeado" com essa idéia. Ele só será alguém para os pais se for um sujeito bem sucedido. Significando que tem que fazer curso de inglês porquê "dá mais chance", fazer informática porquê senão é analfabeto, fazer esporte "pra se enturmar" (aí não tem que pedir orientação para os pais para nada, deixa eles assistindo novela). E prestar vestibular para ser advogado, médico ou engenheiro porquê é isso que dá dinheiro.

Se os filhos acreditam nessa história de que tem que ser CDF. Há quem acredite durante um tempo, leva uma desilusão qualquer e cai é no papo de um traficante ou de um culto estranho qualquer. Depois dá tchau.

Não é tão estranho. A vida não tem um manual do usuário. Mesmo que tivesse, a maioria das pessoas não lê. Não toma muito iniciativa. Prefere escutar os amigos. Pronto. Um cara de Alphaville que conheci e que contou que na turma dele, a idéia era deixar para experimentar maconha depois que passasse no vestibular da FEA-USP. Raciocínio que tem lá sua lógica. Tem curso que eu não sei como uma pessoa agüenta terminar sóbrio, só bêbado.

Mas não é indo nas baladas que se estuda ou decide nada na vida. O sujeito passou e depois que começou, foi para drogas mais pesadas (acontece, tem gente que vai mesmo).

Tô viajando, mas o ponto é que a família pesa.

Pros pais, o período "aborrecente" passa rápido, para o adolescente não passa. E ninguém explica porcaria nenhuma. Precisa de um élan, uma energia psicológia para estudar dia e noite. Energia psicológica é motivação, vontade de estudar (não são sinônimos), perseverança), etc.. É que nem parar de fumar. O cara está doido para arrumar namorada (e as meninas da idade dele no colégio, nem olham) quer resposta para vários indagações (e os pais fingem que não entendem as perguntas).

Sem falar que pimenta nos olhos dos outros é refresco: o jovem que fica estudando direto fica vulnerável a sessões de "terrorismo" onde os pais "ilustram" (melhor dizer amedrontam) o filho com o fantasma do fracasso no vestibular e o que vai acontecer a ele. O que pode contribuir para o "burnout" (vulgo foda-se, eu vou é prestar concurso, sair viajando de carona pelo mundo afora, dane-se tudo). Claro que tem pais que querem justamente isso, que o filho desista de sonhar e vá "tomar jeito".

A família tenta impor a escolha da profissão

Bom, isso é clichê (vai no dicionário).

Acontece toda hora. Pode ser só uma pessoa ou todas. O filho pode querer seguir a carreira do pai (e o pai é contra) ou o inverso (mais comum), o pai querer que o filho siga a carreira dele. Acontece com a relação mãe-filha também. Filho ou filha seguindo a mesma carreira do pai significa ter assunto para conversar na velhice. Sem falar que cria na cabeça uma sensação de imortalidade (manja ter um clone?). A coisa é bem mais séria do que isso. Pode se tornar uma obsessão (triste de ouvir, mas dado o fato de que pais são seres humanos, também podem desenvolver neuroses, psicoses ou transtorno bi-polar, para não falar em velhice, fique ligado).

Já vi até propaganda com o seguinte slogan: "o relógio que você vai dar para o filho quando ele resolver seguir sua carreira".

Mesmo que não exista essa fantasia de querer o filho(a) seguindo a carreira dos pais, há muitos casos em que a família exige (para dizer o mínimo) que o filho se forme nesta ou naquela profissão (vide a obra Dom Casmurro, Machado de Assis). Renato Aragão, por exemplo, se formou advogado e a não ser que esteja enganado, foi vontade da família (tanto que nunca exerceu a profissão). Muito chato esse tipo de coisa porquê significa que a pessoa só tem livre-arbítrio se decidir escolher o que outros querem que ela escolha.

Um cara com quem morei em república de estudantes parecia extremamente neurótico quanto a isso. Só que depois eu fui conhecendo outros com o mesmo tipo de neurose. Epidemia? Não. É um fenômeno que pode ou não se manifestar em algumas famílias. Não conheço pesquisa acadêmica sobre o assunto.

O que observei é que a manipulação da família (para não ficar parecendo que só o pai faz isso, mães também fazem com as filhas e filhos) pode acontecer de forma velada ou aberta. Na forma velada, a manipulação (melhor dizendo, a coerção – vulgo "filho, você vai fazer o que eu quero e pronto") o alvo (no caso, você que está lendo isso) vai escutar uma ou duas vezes qual é a verdadeira vontade dos pais. Mas detalhe: se escutar e se prestar atenção. O que acontece é um aumento da vontade dos pais de conversar sobre o futuro reclamando da falta de ajuda no trabalho e do quanto faz falta um profissional de determinada área. Se for medicina, falam que médico arruma emprego em qualquer lugar do mundo. Se for direito, reclamam do quanto um bom advogado pode ganhar. Difícil ter certeza de que é manipulação velada.

Na forma aberta (um exemplo, há vários), a família (que tenha condições para isso) pode simplesmente dar tudo o que filho pede: grana para balada, emprestar o carro, liberar geral. Até o dia em que o filho(a) resolve falar que vai fazer outra coisa. O pai chega então e fala: tá legal, só que aí você se vira, que não vou te ajudar a chegar lá. Pura e simples. E aí, ou a pessoa faz daquele jeito ou é melhor sair de casa, porquê começa o período de vacas magras. Não tem mais balada, não tem mais carro, nem tem mais diálogo. Há casos em que o pai só precisa exercer isso no irmão (ou irmã) mais velho(a). Esse daí (para não perder a moral) se encarrega de exercer pressão nos outros. Aí legal: toda a família seguindo a profissão do pai.

Aliás, detalhe importante: o resto da família pode concordar com a "livre e espontânea pressão" só de sacanagem. Ou porquê evita que eles sejam o próximo alvo. De qualquer forma, uma "livre e espontânea pressão" bem sucedida significa que o alvo pode também ser coagido a se casar ou não se casar com determinada pessoa. E também pode pode receber também uma "livre e espontânea pressão" para ter filhos logo. Por aí vai. Claro que o termo "livre e espontânea pressão" é meio fraco. "Cobrança social" (como acontece no caso da mãe querendo ver a filha casada cedo) seria até adequado. "Coagir" descreve melhor mas só quem passou pela coisa é que sabe.

Existe também o pai ou mãe que está simplesmente repetindo o que recebeu. Ou está fazendo o papel de ser "do contra" só para obrigar ao diálogo.

A solução extrema é arrumar uma fonte de renda e preparar para se virar sozinho na vida. Em outras palavras, abaixar a cabeça e procurar o próprio sustento. Amadurecer. Esquecer essa coisa de viver aquela adolescência de televisão onde todo mundo está curtindo a vida. Não é a mesma coisa que virar pobre. É virar Neo-pobre (cara que já teve período de vacas gordas e agora está no período de vacas magras). É f(*) porquê se voltar atrás depois não se tem coragem para tentar de novo. Em muitos casos, é a melhor coisa que a pessoa pode fazer na vida.

Quando a pessoa topa seguir a opção da família

Há casos em que o sujeito (ou a menina) cai na tentação e não luta contra a corrente. Muito comum a pessoa chegar na inscrição sem saber o que fazer da vida, então porquê não? O cara pode até descobrir que tem vocação para a coisa. Agora, há vários casos em que a pessoa muda de idéia. Ou descobre que não sabe o que quer só que não quer aquilo. Mas não tem mais coragem de voltar atrás e explicar para todo mundo.

Um exemplo simples: a menina sempre foi o xodó da família porquê dizia que ia ser médica. Era médica da família para cá, médica da família para lá. Chegou na faculdade, passou, descobriu que odiava ver sangue. Desmaiava. Como é que faz?

A pior história que já ouvi foi uma menina que queria fazer algo tipo teatro ou artes plásticas. Mas os pais, p(*) da vida com a falta de controle que estavam tendo sobre a filha (que aos 15 anos entrou em várias baladas), queriam que ela fizesse ciências contábeis. Havia brigas homéricas com os pais. Encontrei a figura viajando de carona (entenda-se: largou essa coisa de estudos e foi viajar pelo mundo, caminhando contra o vento, sem lenço nem documento, que nem na música do Caetano Veloso).

Estudar sem curtir custa o dobro em energia psicológica. E no final, será que o profissional desmotivado consegue emprego fácil?

Indecisão total

Isso acontece muito. Justificativa? Sei lá. Talvez a coisa do ensino massificado. Você é tratado como número. O professor vai tentar fazer com que a turma fique pelo menos fingindo prestar atenção na aula. Bem difícil encontrar alguém que sinta prazer em dar aula. Mesmo que um ou dois alunos sejam do tipo ideal. Aquela coisa de "Sociedade dos Poetas Mortos" algumas vezes acontece na vida da pessoa (na minha vida foi uma professora chamada Maria Emília, gaúcha, ô mulher corajosa, ensinar literatura na 8a série).

O problema é que o importante na adolescência é ter com quem falar. Nem dentro do grupo, da turminha, ele é indivíduo. Ele é aquilo que não conseguiu esconder da turma que é, se pudesse imitar tudo dos colegas, imitaria tudo, desde que o resultado fosse ser aceito. Vida de colégio te obriga a não inventar moda, a não ser diferente, a só fazer o que os outros fazem para não enfrentar brincadeira. Se o valentão da classe não gosta que você use caderno de cor vermelha porquê é coisa de gay, você não usa (ou então encara a turma te chamando de viadinho).

E os pais? A mãe não sei, varia muito. Mas pai.. Bom, mais de uma vez vi meu pai divagando "como seria bom eu fazer serviço militar, lugar onde filho sofre e mãe não vê". Já vi pai de amigo meu insistir com o sargento no dia da seleção para que o cara fosse aceito (e o cara não tinha aparelho ortodontico – boa dica para escapar na seleção). Tudo porquê lá o cara vira máquina, um nada.

Em outras palavras, a sociedade quer que você seja um palito de fósforo dentro da caixa. Não quer que seja alguém com opinião. O vestibular é a única época em que você tem opinião. Só que vale para o resto da vida. Ou não pode mudar de idéia?

É normal a pessoa mudar de idéia, depois que começa um curso. Alguns vão até o final (por causa do investimento feito ou porquê ficam com medo de sair). Mas extremamente comum entrar num curso, descobrir que não é a vocação e ir atrás de outro vestibular. Qualé a bronca?

O problema é que entrar num curso e depois sair representa um desgaste, um desperdício (menor que o desperdício de ficar na profissão que detesta). Quem já passou num vestibular pode passar em outro. O problema é que isso pode virar hábito.

Conheci um cara que tinha passado por 10 vestibulares diferentes. Uma figura. Primeiro Engenharia, depois Física, Letras-Alemão, Pedagogia e.. esqueci o resto. Sempre passava. Ficava um tempo, no ano seguinte estava tentando de novo.

Várias razões existem para pegar esse hábito. Basta entra num curso para se arrepender. A primeira dessas é que dar aula para primeiro ano de qualquer ano da faculdade é algo desanimador. O aluno sente que o professor não dá estímulo. Não é como no cursinho. Os colegas do 2o ano também não estimulam muito (o pessoal odeia calouro). E as matérias mais interessantes ficam no 3o ou 4o ano.

Então o sujeito que não é motivado, ele pode até ir levando mas fica cada vez mais desanimado. Na USP, na Escola Politécnica (engenharia – um curso concorrido no vestibular), me falaram que é comum as meninas (calouras ou bichetes) chegarem nas primeiras provas de engenharia e desistirem. A pessoa estuda, acha que tirou 5 e quando vai ver a nota, descobre que ficou com 0.9. Por isso, até um tempo atrás, era um curso onde não tinha mulher, praticamente (mudou um pouco – mas ouvi relatos que as mulheres da engenharia evitam que nem o diabo namorar colegas).

Mas e mudar de curso? Bom, salvo problemas financeiros (achei mais interessante cursar Letras-Alemão na USP do que fazer Computação numa faculdade particular pagando $$$) fica difícil chegar na família e justificar. Passou por isso da família, (o novo vestibular, que pode ser tão sofrido quanto o anterior), aí vem o problema de encarar os colegas. Cara, é a pior coisa do mundo, encarar "calouro", sendo você mesmo "veterano". Ver aquele sorriso de "sou alguém porquê passei no vestibular". É a mesma sensação de repetir o ano num colégio (bom, isso hoje parece que não existe mais, mas é por aí, quem já repetiu o ano sabe do que estou falando).

Opinião de quem já passou pela experiência: a opção que você faz no vestibular não é para toda vida. Mas se foi fazer novo vestibular, passou, tenta ficar no curso até o fim. Tenta ficar porquê a tentação de sair de novo do curso e encarar outro vestibular vai acontecer. A cada vestibular sua capacidade de levar um curso até o final diminui (apesar que sua capacidade para passar num novo vestibular aumenta – pelo menos o nervosismo na prova diminui).

Profissões da Moda

Há sempre o mito daquela profissão do momento, em que a pessoa é disputada antes mesmo de terminar o curso. Que não tem desemprego, pelo contrário, tem altos salários, todas as faculdades estão abrindo cursos nesta área. Nos anos 60 foi medicina e engenharia. Nos anos 70, Administração de empresas. Nos anos 80, Psicologia, Recursos Humanos e depois Mecatrônica. Nos anos 90, Informática (isso inclui a Internet). Início do ano 2000 em diante foi Telecomunicações, hotelaria, moda e turismo (vide caderno de classificados, Folha de São Paulo, 15/04/2001).

Só que um diploma leva tempo para conseguir. Existe a migração de profissionais de outras áreas para a área favorecida. Exemplo: no tempo em que a Informática virou febre, todo mundo que fazia Física, Geologia, Engenharia ou qualquer matéria de Ciências Exatas começou a virar "Analista de Sistemas" ou "Programador".

Medicina, já ouvi falar de casos em que havia médicos formados disputando vagas de enfermeiro. Telecomunicações foi a última febre e virou exemplo justamente de profissão da moda que foi "fogo de palha" (queimou rápido). Ninguém mais fala nessa área como alternativa bem remunerada. O mercado já se estabilizou.

Não quer dizer que alguns ainda não consigam o seu ganha-pão, com certeza. Mas provavelmente não na área. Por alguma razão, as empresas contratam engenheiros para áreas mais esquisitas, em alguns casos preenchendo vagas na área de Marketing ou Recursos Humanos.

Mas um amigo meu fez concurso para o Banco do Brasil, ser técnico-bancário. Concurso exigindo só o 2o grau. Passou, foi chamado. Primeiro dia de trabalho, o chefe dele perguntou:

Que faculdade você fez?
Engenharia Naval. USP. (falou meu amigo, cheio de orgulho)
O chefe só virou o pescoço para o resto dos funcionários.

- GENTE! MAIS UM ENGENHEIRO NA PARADA!


O Mito das condições financeiras.

Pode influir no sentido de que o sujeito pode se dedicar só aos estudos. Mas aí tanto faz. Dificilmente alguém larga o trabalho para fazer isso hoje, pelo simples fato de que muita gente não acha trabalho antes dos 18 (alguns nem depois) então pode-se ficar dentro de casa estudando. Também tem o fato que quem faz cursinho pode aprender mais ou pode simplesmente curtir conhecer gente nova e enrolar na hora mais importante, absorver o conteúdo.

Não é a toa que numa estatística da USP feita nos anos 90, a maioria dos aprovados no FUVEST não era de gente abastada nem de gente que fez colégio particular. O que predominava nos aprovados era ter ou não ter pais com diploma universitário. Claro que foi UM trabalho estatístico que li, não recordo qual ano. Mas a conclusão do trabalho estatístico era mais ou menos essa. Pais universitários significa alguém que já passou pelo sufoco do vestibular. Compreendem o que é vida de estudante. Isso pesa mais do que vir de família abastada ou escola pública, cursinho X, etc..

Quando a pessoa começa um projeto de estudo para passar num vestibular difícil, não pode dividir a atenção. Se for o caso de trabalhar, a coisa pesa mais. Algumas ocupações são tão estressantes que a pessoa sai do batente mas não "desliga", não esquece o trabalho. Família, mesma coisa. Pode acontecer dos irmãos, pais todos estranharem o cara quieto num canto e resolvem "brincar" de atrapalhar, só para sair do tédio. Isso ocorre até a nível inconsciente. Ou talvez só quando pare de fazer barulho é que o sujeito descobre que "ninguém respeita ninguém nessa casa".

Problemas de adolescência

Como entender o mundo quando se tem que decorar a tabela periódica?

Seria muito bom se o sujeito que fosse estudar para o vestibular pudesse ter um descanso em todos os problemas psicológicos (para não dizer financeiros) durante um tempo antes da prova que talvez decida sua vida. Uma gravidez indesejada pode abalar completamente a vontade do sujeito estudar. Brigas com os pais podem prejudicar a concentração. Mudar de cidade pode ser um stress que altera muita coisa.

O chato é que não é tão fácil conversar com os pais. Porquê provavelmente só chegam em casa cansados de um dia de trabalho, cheio de problemas. E o jeito de conversar é diferente do de um adolescente. Uma pessoa de 40 para conversar com alguém de 14, 15 anos pode precisar de prática pedagógica para entender algumas coisas. Um clichê comum é iniciar conversa implicando com algum defeito do filho. O fato do filho estar pensando em se matar porquê a namorada o deixou não interessa. O importante (para o pai) é que o filho está com nota baixa no colégio.

Problemas sentimentais então são piores ainda. Porquê o cara fica altamente vulnerável. Em vários sentidos. Ele não pode se distrair para esquecer a briga com a namorada. Nem tem tempo para pensar direito se alguém está enganando ele ou não. É a pior época para se começar amizades. No entanto, quando se faz cursinho, a novidade de se conhecer gente nova significa tentação.

Para a mulher a coisa pega um pouco mais. Ela tem que estudar para o vestibular mas tem que continuar malhando o corpo (o que não é ruim). Senão não acostuma e depois de certa idade, só plástica. Ah, sim, o corpo pode dar uma crescida absurda para algumas, de dar medo de sair na rua. Não vou entrar em detalhes (mesmo porquê não sei). Mas a quantidade de assédio que ela sofre pode tanto estimular a moral dela (pode sonhar em ser a nova capa de revista) como atrair uma p(*) quantidade de vigilância por parte dos pais e depressão (cadê amizade sincera, cadê tranqüilidade para sair a noite sem medo de estupro).

Qualidade do curso e empregabilidade

Não vou comentar todos os cursos e óbvio que não sou a melhor pessoa para dar palpites.

Há cursos universitários onde os professores são bons mas os alunos são tão desmotivados que nem vale a pena. Outros cursos são o inverso. O curso é ruim mas como a faculdade \ universidade tem fama, acaba atraindo alunos de excelente nível. Não adianta usar a relação de melhores cursos da Playboy. O que adianta o curso ser bom se você não consegue entrar nele?

Essas reportagens de revista colocam os cursos como se não fossem opções de vida. Como se não houvesse um "algo mais" para se fazer esse ou aquele curso.

Jornalismo na USP, por exemplo. Mais difícil de entrar do que Medicina. O curso é integral. Não pode trabalhar e estudar (pelo menos não é fácil). Fazer o curso de jornalismo hoje não quer dizer muito, já houve medidas provisórias que permitem o sujeito ser jornalista mesmo sem diploma. O problema é ser contratado como jornalista.

Mesma coisa com outros cursos "sofisticados" como Propaganda.. há profissionais ganhando bem. Mas vai entrar no mercado ver quem se emprega fácil..

Medicina ou Odonto são cursos caros de se fazer e difíceis de entrar. Por outro lado, enfermagem não é tão concorrido e bem melhor para se conseguir emprego. Aliás, é um curso que consegue visto de trabalho para os EUA com facilidade, só para se ter uma idéia. Pode ser um emprego ruim pacas para quem não tem vocação, porém..

Engenharia faz brilhar os olhos de muita gente. Mas o parque industrial do Pais está meio estagnado. Em outras palavras, a demanda não está grande para engenheiros. Sem falar que é um curso difícil de sair.

Informática está ruim. Para quem faz pelo menos, porquê qualquer um que faça Ciências Exatas pode trabalhar como analista de sistemas. Faz Física, Engenharia Química, sei lá, tem diploma, tem experiência, estuda e pronto, tenta nessa área. Tem tanta gente tentando essa área que é comum contratarem alguém para desenvolver o sistema só. Depois que o sistema está funcionando, despedem o sujeito e colocam um estagiário para tomar conta. Pagando menos, óbvio.

Claro que se o diploma é USP, UFSC, UFMG, etc.. tem algum peso. Varia muito.

Economia também depende muito da pessoa que faz. Até um tempo atrás era um curso tipo "não sabe o que quer, faz Economia". Afora as piadinhas, é um curso pesado de se levar até o final. Exige muita perseverança. Mas já vi gente que nem sabia o que era equação de 2o grau levar o curso até o fim (gastou uma fortuna em aulas particulares e hoje trabalha com alfabetização de adultos mas tem diploma de Economia na USP).

Física, usando as palavras de quem já fez (amigo meu): a pessoa se altera. Tipo mentalmente se altera. Não passa incólume. É pesado, muito cálculo. Na Pós-graduação tem umas bolsas de estudo muito boas.

Ciências Sociais volta e meia vira moda. Para pós-graduação é muito bom. Filosofia, ao contrário do que se pensa, não limita a pessoa. A pessoa pode trabalhar em diferentes áreas, como mestre de obras, leão de chácara, pintor.. não é como médico, que só pode no máximo ser enfermeiro. Falando sério, muita gente que faz Jornalismo, Advocacia ou Marketing acaba fazendo Filosofia para complementar a formação.

Letras, Geografia, História, há quem fale mal. Mas sempre se pode conseguir passar num concurso e dar aulas no Estado. Há concursos para área. Pode encher o saco, ser professor no ensino básico ou secundário. Mas tem empregabilidade.

E dependendo da pessoa, vai longe. Já houve casos de gente da Letras que está de executivo na Editora Abril ou na Agência Folha. Tudo depende da pessoa. A pessoa constrói o caminho.

O Vestibular
(e o que devia ter sido estudado antes)

Há vários truques para se conseguir uma boa colocação, além de estudar feito um louco. Resolver exercícios de vestibular em casa e resolver numa sala cheia de gente tão preocupada quanto você, é barra. A pessoa tem que se preparar mentalmente para ter 100 ou 90% da capacidade de resolver os problemas na hora. Não adianta um carro veloz funcionando numa estrada esburacada. O carro veloz é o estudante. A estrada esburacada é o nervosismo na hora da prova.

Uma figura (que infelizmente conheci) recomendava comer uma feijoada antes. para não sentir fome. De preferência com uma única pinguinha para relaxar. E água, muita água para não sentir sede. Completava o conselho recomendando: antes da prova, entrou na sala, achou sua cadeira do exame, sobe em cima e pula no chão, 3 vezes (dar sorte). Acredita nisso?

Se todo mundo na sala do cursinho dele seguisse, era mais fácil seria para ele passar (o resto estaria com dor de barriga, no banheiro). A carreira que este cara ia seguir era advocacia criminal. Com um conselho desses, fica fácil entender porquê advogado criminalista morre cedo e nem sempre é de câncer. O cliente sai da cadeia e dá um "presente" eterno para o sujeito.

Recapitulando, ao se chegar mais cedo (chegar tarde nem pensar) para o local da prova, a pessoa vê um monte de gente também aguardando. Ficar conversando com o pessoal que vai fazer a prova: grande tentação (aparece umas pessoas fantásticas, o futuro e o atraso do Brasil tudo reunido num lugar).

O que fazer?

Conversar com aquela menina, aquele cara
Rever as anotações
Ficar quieto
Conversar pode parecer um meio de afastar a tensão. Irresistível ainda mais porquê aquela menina super legal que não daria bola, nessa situação conversa com qualquer um. Por exemplo. Tudo bem, mas isso atrapalha a concentração. Rever as anotações? Não é ruim. Mas só se for rever. Estudar é perda de tempo. Ficar quieto? Comigo funciona. Já fiz muito vestibular e sempre estava mais calmo quando usava esse tempo para ficar sozinho. Principalmente na 1a fase, quando se tratam de questões de múltipla escolha.

Quando abre o portão e as pessoas podem entrar e procurar a sala e o assento (são numerados), ainda tem um tempo de espera, antes da prova começar. Um tempo que parece horas. Quando começa a prova, os caras avisam, só vai poder sair depois de determinada hora. E depois de tal hora tem que entregar a prova de qualquer jeito.

Na 1a fase (dicas pra 2a fase só se eu escrever um livro sobre o assunto), a prova é de conhecimentos gerais. Portanto, nem pensar em olhar a prova do companheiro (que pode estar errada). Pode conter tanto "pegadinhas" como questões onde o que importa é um conhecimento "decorado".

Comum o estudante seguir um padrão, um hábito. Primeiro número um, depois número dois, etc.. O problema é que a questão número um pode ser fácil, a número dois, nível médio, a três fácil (por exemplo). Ou seja questões diferentes, o contrário de qualquer prova de cursinho ou colégio. O que fazer?

Minha sugestão é algo meio básico: auto-conhecimento. Sun-Tzu (Arte da Guerra) dizia que a pessoa que conhece a si mesmo e a seu inimigo não precisa temer o resultado de batalha nenhuma. O problema é admitir, depois de tanto estudo, que não tem condições de atingir a pontuação necessária. Para que entrar numa briga sabendo que se vai perder? Sei lá. Realmente, não se pode ir numa batalha pensando em perder.

Agora, tentar decorar página por página de material de cursinho achando que quando sentar para fazer a prova o conhecimento virá, é besteira. Pode funcionar? Funciona. Por mais estúpida que seja há estratégias que sempre funcionam para alguém. E aí não são estúpidas. Já soube de um sujeito que se defendeu de vários assaltantes usando Tai-chi-chuan. Tudo é possível quando não se tem escolha. Quem tem medo de perder já está vencido.

Então, a preparação presume que a pessoa não vai chegar no dia da prova para aprender seus pontos fracos. Sempre se pode pegar provas anteriores da faculdade onde se vai tentar e testar o índice de acertos. Com base nisso, ter certeza de matérias onde se está forte ou fraco. E óbvio, estudar de acordo com o que é pedido.

Melhor ainda: pode-se fazer uma estatística (aliás, pesquisando pode-se encontrar isso já feito em algum lugar) de quais questões costumam cair. Na época em que entrei para a USP, descobri que questões de genética caíam menos que questões de outras questões de biologia. Eram só 3 ou 4 questões. Desencanei de estudar genética. Preferi "chutar" essas questões na primeira fase da seleção.

Naquela época funcionou. Hoje o papo é outro. Genética cai muito por conta de transgênicos. Se a imprensa começa a falar de alguma coisa, é necessário dar alguma ênfase para aquele tópico. Quando o URSS caiu, as provas de história e geografia começaram a dar ênfase no que era chamado de "Nova Ordem Mundial".

Se conhecer significa: você ficava conversando na sala de aula ou era um cara que se interessava por alguma matéria? O ensino no seu colégio era fraco ou forte? "Decorar" a matéria pode até dar uma idéia de tranqüilidade. Mas você é bom nisso? Precisa avaliar qual a matéria ou tópico da matéria em que se está mais forte. E esse conhecimento precisa estar na sua cabeça antes do final do ano.

Senão, melhor entregar para Deus e ficar na expectativa. Que aliás, é o que pessoal também faz e muito. Depois não passa e acaba indo para uma faculdade mais fácil de entrar e mais difícil de pagar. Ou presta para tudo quanto é faculdade em seqüência, vide o tópico "turismo-vestibular".

Voltando ao planejamento da prova: sabendo que se está forte em física, química, geografia. Deu o sinal de início, abre a prova e começa por estas matérias. Depois de fazer as matérias ditas "fáceis", aí se passa para outras difíceis. Claro, tem gente que resolve fazer o contrário. Cada pessoa tem seu o método.

Então, é importante saber que tem um cansaço mental. Quanto maior o stress maior a dificuldade de concentração. Vai no dentista para tratamento de canal (ou extrair o dente, sei lá, isso é só um exemplo de stress, bronca da família também serve) e depois tenta fazer palavras cruzadas. Assiste um filme de terror e tenta resolver um problema de matemática. Se você tentar, vai entender do que falo.

Cada questão é uma batalha. Tem que avaliar antes de começar a questão se vale a pena gastar energia resolvendo ou chutar logo de uma vez.

Existe também o truque de fazer estatística das respostas.

Como esse truque se aplica em notas de corte maiores? Na fase final, quando ainda não se entregou gabarito da prova (se quem está lendo não entende, pergunte para alguém que já fez o vestibular). Em teoria, a prova do vestibular é feita visando igual número de alternativas. Se uma prova tem 100 questões de cinco alternativas, provavelmente vai haver 20 questões cuja resposta certa é alternativa A, 20 com alternativa B, por aí em diante.

Então a pessoa conta quantas questões ela respondeu na letra A, quantas respondeu na letra B, etc.. Se ela respondeu metade da prova usando alternativas B, melhor rever as questões. Difícil um cara não "chutar" algumas. É o caso de deixar "questões chutadas" pra serem reavaliadas no final, depois desse lance. Claro, se a pessoa tiver 1) tempo, não adianta fazer isso quando estão recolhendo a prova 2) tranqüilidade.

Exemplo? Havia uma época em que o curso de Ciências Sociais tinha uma nota de corte baixa. Aliás mais baixa do que o número de questões. São 5 alternativas na prova de múltipla escolha, certo? Então bastava o sujeito escolher todas as alternativas numa das letras e pronto. Até um analfabeto passaria na primeira fase. Uma vez vi uma menina fazer isso, quando fui fiscal da FUVEST. Ela marcou tudo letra E e ficou esperando a hora em que poderia sair.

A questão da concorrência

Na época em que passei por essa coisa chamada cursinho, havia professor que, de sacanagem, fazia comentários meio chatos sobre a concorrência. Seja lá o que for, existe. Mas não adianta fazer arrumar assinaturas para que o governo facilite a ida de brasileiros de origem nipônica para o Japão, para trabalhar como dekassegui. Você pode até tentar ver se convence uns caras. Mas acho que isso não funciona. A maioria dos que vão fazer uma coisa dessas faz depois de tentar a faculdade.

Turismo-vestibular

Isso é coisa de quem pode. Fazer vestibulares em várias locais, em seqüência (quando a data é próxima). Tipo: faz o Fuvest, depois vai fazer o vestibular da PUC, depois o do Mackenzie, depois pega o avião, vai para UFSC, depois vai para a UFMG depois UNB. Ou então vai pegando tudo quanto é vestibular de uma localidade FAAP, FATEC, ou FUNABEM, FUSP, etc.. (vale tudo com F) até chegar na FAFUPE (faculdade de funilaria e pintura da Móoca). Essas últimas são piada. Mas é o desespero.

Funciona? Se é a primeira vez que se faz o vestibular, eu duvido muito. Mas pelo menos o sujeito que tenta fica com várias opções. Primeiro passa, depois escolhe onde vai passar os próximos quatro anos. Mas haja sangue-frio. E dinheiro.

Está muito em voga agora é o sujeito que quer fazer medicina sair do Brasil. Ir prestar vestibular na Bolívia ou no Uruguai (tinha até anúncio no metrô, um tempo atrás). Depois tenta uma transferência para uma faculdade brasileira. Acho que é muita vontade e pode dar errado.

Após o Vestibular

Saindo de casa

Há uma expectativa de que isso aconteça, mais ou cedo ou mais tarde na vida da pessoa.

Não é que a pessoa precise fazer faculdade para sair de casa. Não. Alguns fazem serviço militar e já seguem carreira (conheço casos). Sair de casa que eu falo é usar a faculdade como uma espécie de super-estrutura, uma desculpa, um caminho, um jeito para sair e enfrentar o mundo. Tem gente que vai estudar para ser isso ou aquilo e continua morando com os pais. Na mesma cidade. Depois talvez tente ir para algum grande centro já que não é tão fácil arrumar emprego na área.

Mas é uma espécie de aventura, sair da cidade onde já não tem mais o que inventar, nada o que fazer que já não se tenha feito. E ir ser alguém na metrópole. Não importa se a idéia é conseguir um estudo de maior qualidade ou enfrentar a vida na cidade grande. São os seguintes problemas:

Habitação – Se existe alguma chance de moradia estudantil, parentes ou amigos que possam dar uma "força", pelo menos até a pessoa atingir um "jogo de cintura". Quem estiver afim de se aprofundar no tema pode procurar meu livro "O Crusp visto por um mineiro" (disponível gratuito no http://www.crusp.cjb.net)
Renda – Outro problema é calcular o quanto se vai gastar. Igualmente também o quanto pode produzir, arrumando trabalho. Se é que é possível arrumar trabalho.
Amigos – Essencial ter dicas. É difícil começar a morar num lugar onde não se conhece ninguém. Porquê fazer novos amigos é algo importante. Mais ainda é descobrir se o cara é amigo ou se faz de amigo. Complicado. Porquê significa "viver em Roma como os romanos". O conceito de amizade que um cara do Nordeste tem é diferente do conceito de amizade de um paulistano (morador de São Paulo). Um carioca numa praia pode passar horas conversando contigo a metafísica da humanidade e nem te perguntar o nome antes de falar tchau. Um gaúcho pode ser tão hospitaleiro que dá vontade de "processar por constrangimento", brincadeira. E o cara só está sendo do jeito dele. Em São Paulo, já me aconteceu de cair no chão, acidente, e ninguém me ajudar nem a levantar (nem o cara em cima do qual quase caí).
Fazer faculdade ajuda em vários aspectos a sair de casa porquê pelo menos sempre tem alguém na mesma situação (quase sempre).

Durante o curso

Costumes diferentes

Falar que vida de estudante universitário é diferente, é redundância. Muitas atitudes e formas de expressão só existem na faculdade. Depois, é o tédio (ou a pós-graduação). Para começar, as pessoas podem querem assumir novas atitudes. O cara que era quieto pode resolver se lançar às baladas para compensar o sufoco do cursinho. A menina púdica pode descobrir gente super-legal e ficar mais ousada. O alienado pode se apaixonar por política estudantil. O ateu pode ser cativado por algum grupo do tipo Opus Dei ou Pentecostal. Há até casos de gente que resolve "sair do armário".

Talvez essa seja a melhor parte de se fazer curso superior. A chance de conhecer gente com quem jamais se teria contato. Muita gente de informática já veio me dizer que o que aprendeu no curso (bom, isso faz tempo) o que aprendeu no curso não valeu nada, o que valeu foram os contatos.

Por isso é bom observar que tudo depende. Vide texto abaixo:

"A estudante de Direito F.F., 24 anos, foi ameaçada por outros universitários e teve que contar com a proteção da polícia para sair da sala de aula depois que fotos íntimas suas foram postadas na Internet. Nas imagens, que estavam disponíveis no site de relacionamentos Orkut e em alguns blogs, F. aparece fazendo sexo com dois homens." (vide bibliografia ou pesquisa "escândalo marília pompéia" no google)

Jamais acreditaria nisso. Ainda por cima num curso de direito. Que espécie de advogados estão se formando lá? Bom, como li no Orkut, depois desse escândalo, pelo menos o Brasil sabe que as cidades de Pompéia e de Marília existem. E o pessoal revoltado com a invenção da pílula, o divórcio, sexo na TV, e a degeneração da moral e dos costumes, esse pessoal já tem uma faculdade onde estudar. Pelo menos vão ter com quem conversar.

Preconceito atrapalha. A pessoa pode ter preconceitos, faz parte da vida. Mas atrapalha muito. Experiência pessoal. Quando a Internet estava começando no Brasil, pouca gente sabia. O cara que me deu a dica era homossexual assumido. Fosse em outra época da minha vida, antes de vir para cidade grande, talvez nem conversasse com o cara. E só teria descoberto sobre Internet uns dois anos depois. Conversar com homossexual não significa mudar de gênero.

Infelizmente, quem vem de cidade pequena tem um problema em definir esses limites. Porquê o sujeito pode ser isso ou aquilo e ser boa pessoa. Mas pode também não ser. Ou pelo menos em determinada ocasião, ser alguém útil. Na beira do abismo, quando se está quase caindo, não existe essa coisa de amigo ou inimigo.

Ativismo

Sempre tem o pessoal disposto a agitar, a expor os podres da situação, a tentar melhorar o mundo. Sem dúvida, participar de atividades do movimento estudantil é recomendável. Só olha bem o nível de participação. Já vi o caso de gente que falava em "derrubar" o pessoal da situação no Centro Acadêmico apenas para poder montar uma venda de sei lá o quê. E acontece muito do sujeito montar uma chapa apenas porquê se vencer, pode colocar no futuro currículo de político que foi chefe de alguma coisa. Mais nada.

Agora que já comentei a parte ruim, a parte boa é que trata-se de um jeito legal de sair da alienação. Ficar sentado assistindo televisão não te ensina a entender o mundo. Sou fã do pessoal do midiaindependente.org, que é um coletivo que procura mostrar o que a mídia comum não mostra. Mas seria louco se disesse que todo mundo deveria participar. Tem gente que não se adapta.

Por outro lado, o nível de participação também merece cuidado. No tempo em que ainda havia a divisão do mundo em dois blocos, falava-se muito a frase "quem não é comunista antes dos 20, não tem coração. Mas quem continua comunista depois de sei lá que idade, não tem cabeça". Hoje, o grande lance é filosofia libertária. Que tem lá uma coisa pelo menos lógica: se se precisa fazer propaganda explicando porquê é bom, então já deixa de ser libertário. Um pessoal não faz propaganda nem proselitismo (procura no dicionário).

Cultos

Acontece muito. São caras que te param, perguntam seu nome. Aí depois de alguma conversa, chamam para um bate-papo religioso (evangélico, pentescostal, etc). Se a pessoa por educação fala que vai mas não vai, puxa, os caras vão atrás cobrando a aparição. Vale a pena? Sei lá. Sou muito mais seguir a Opus Night (procura no google) do que a Opus Dei. Ou a TFP. Livro que eu realmente recomendaria sobre o assunto (todo pai de família deveria ler) é "Guerreiros da Virgem". Mas não se encontra, parece que o pessoal da TFP (o livro é sobre a TFP) desapareceu com ele. E não se encontra mais em nenhum sebo. O cara só conseguiu sair porquê transou com uma prostituta.

Mas esse pessoal faz uma coisa maravilhosa, pelo menos. Aquela marchinha fala tudo:

"Eu era bêbado, drogado. Vivia embriagado. Até que finalmente.. ENCONTREI JESUS! Na casa do senhor, não existe satanás, XÔ, Satanás!"

O mundo teria muito mais bêbados chatos se não fosse esse pessoal. Aliás tem gente que tira nota 10 e participa desses bate-papo. Ganha olimpíada de matemática. Mas não creio que entrar para uma turma dessas faça milagres. Quem participa até pode ficar impressionado com alguns bate-papos. Eles falam que não ensaiam as perguntas e respostas. Eu tenho dúvidas. Às vezes até no ponto de ônibus eles fazem esse bate-papo. Parece que vão quebrar o pau mas é tudo amistoso. E admito, gostoso de se presenciar.

Mas é puro marketing. Que nem beijo de novela. Sabe, numa novela a mulher bonita beija o cara feio não é por conta de amor. Está no roteiro que ela tem que beijar o cara.

Aproveitando, há mulher bonita que entra nessa porquê aí pode conhecer gente que não vai tentar leva-la para um motel. Até que pode funcionar. Para a maioria, entrou, acaba toda aquela "paparicação" do início. A pessoa é mais um. Sei lá, há vários que não saem porquê aí já perderam a noção de como arrumar amigos fora. Se acostumou, é muito difícil de sair. E perde a liberdade de fazer um monte de coisas (você não vai orar a Deus de manhã e assistir filme pornô à tarde ou ingerir álcool, por exemplo). É outro mundo. Pode valer a pena. Ou não.

Conheci uma menina que ingressou num negócio chamado seita não católica, havia sexo para caramba dentro. Mas a lavagem cerebral era alta e a pessoa tinha que contribuir em dinheiro para continuar freqüentando. Largar dessa menina foi uma barra tão grande (ela queria me puxar para a seita, chegou a tentar me extorquir dinheiro quando o namoro acabou).

Tenho amigos que freqüentaram cultos que realmente melhoraram de crises existenciais e problemas pessoais. Mas não vou fazer propaganda porquê não conheço.

Sexo, Drogas e Rock n’Roll

Os meios de comunicação costumam usar muito essa imagem. Associam qualquer produto à vida de estudante. Cerveja, música, roupas, cigarro. Tem sempre um ambiente de festa, umas modelos bonitas. Aquele sorriso fácil, parece festa constante. "A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante", já dizia uma música (Engenheiros do Havaí?).

Talvez seja uma das coisas que o calouro fique na expectativa, quando passou no vestibular. Fica aquela sensação de ter entrado para um clube. Os veteranos se encarregam de abaixar um pouco essa idéia, numa coisa chamada "trote". Mas isso é outro tópico.

Voltando ao lance de festas, depende muito da faculdade ou universidade. Há cursos universitários que parecem um convento ou mosteiro. Também há cursos universitários que parecem uma extensão de um Shopping Center. E há salas em que ninguém faz nada pelo simples fato de que não há realmente uma interação. Enquanto há salas onde reina outro esquema, tipo aquele filme "clube dos cafajestes".

Um exemplo melhor? Tempos atrás, um curso universitário era anunciado como "aeroporto" porquê só tinha "avião" (mulher bonita). Muito caro. Acho até que tinha sala de espera para guarda-costas. Puxa, legal estudar lá? Sim, como curso universitário não era ruim. Mas era o reino das "panelinhas", dos grupinhos. Ou seja, o curso em si era uma extensão do ensino secundário. As garotas podiam ser bonitas mas uma quantidade delas nem tinha namorado. Nem ia arrumar lá, a não ser que por coincidência, fosse do mesmo condomínio fechado. Se acostumaram a ser comportadinhas durante todo o ensino básico e secundário. Claro que não dá para generalizar. Um anos pode ser assim, outro ano pode ser assado.

Para ser mais claro, uma menina que me contou a seguinte história: estudou a vida toda num só colégio. Ensino básico e secundário. Saiu de lá conhecendo todo mundo. Podia até não gostar dessa pessoa ou daquela. Mas conhecia. Aí foi para o cursinho. Encontrou um único cara do mesmo colégio lá. No tempo de colégio, nem falava com o cara. Mas durante o tempo de cursinho, grudava nele como um náufrago gruda numa bóia salva-vidas. Não conversava com mais ninguém.

Não tô criticando a menina. Só ilustrando um ponto. Encontrar pessoas diferentes, curtir uma festa, etc.. não depende do lugar, depende da pessoa. Depende da vontade, depende da época de provas, etc..

Por exemplo, na USP há festas mais ou menos comuns de acontecer, que tentam reunir "a fome com a vontade de comer". Tipo: as meninas do curso de Fisioterapia ou Pedagogia com os rapazes da Escola Politécnica. A proporção de homem-mulher em alguns cursos de humanas chega à um homossexual por sala (o resto usa calcinha) enquanto em alguns cursos de exatas algumas salas até tem mulher (numas: se acontece do mundo acabar e sobram apenas ela e outro cara, a humanidade está perdida). Então há festas reunindo gente e tentando sanar essas "lacunas geográficas".

Funciona? Para quem vende a bebida, com certeza. Aliás, isso é válido para qualquer um que consiga organizar uma festa. Já vi texto na Internet ensinando como ficar rico dessa forma.

Os rapazes, na maioria das vezes vão ficar com medo de tentar chegar perto das meninas, então vão tomar uma cerveja para "tomar coragem". Tentam chegar perto, aí ficam com medo de novo, tomam mais uma. E acabam tomando outra, porquê a menina em quem iam dar o bote já está conversando com outra pessoa. A mulherada geralmente só começa a beber quando finalmente encontra uma conversa animada, cheia de intriga e fofoca. Às vezes ninguém repara nelas então ficam no stress da expectativa de ficar "encalhada", acabam caindo na breja. Sei lá.

Amizades "mui amigas"

Morei numa pensão em que éramos cinco num quarto. Mas só um tinha televisão. Uma pessoa simples, humilde (aliás o sujeito nem era universitário). Que curtia programas evangélicos. Sábado a noite e o sujeito lá, vendo missa de ação de graças ou sei lá o quê. Até o dia em que um dos caras reparou que o sujeito estudava para concurso direto.

Não deu outra: o malandro da turma inventou de ser "professor" do sujeito. Que topou, quem não toparia aulas particulares de graça? Dia tal, tinha programa bom na TV, falava que ia dar aula para ele. Mandava o cara ir para a outra sala resolver um problema de matemática além da capacidade. E que não voltasse para o quarto enquanto não resolvesse. Aí o pessoal assistia o programa.

Truque simples mas já vi gente que entrou para Opus Dei e também gente que virou "revolucionário" apenas porquê não entendeu esquemas desse tipo. Aliás, se você não entendeu o exemplo acima, alguém em alguma hora, vai fazer isso contigo. E você vai agradecer.

Namoro

A mulherada normalmente se prepara para isso desde a infância. Há quem encontre a alma gêmea e há quem fica fazendo trabalhos escolares e aulas particulares para meninas que vão agradecer só com um sorriso e nada mais. Por outro lado, há amizades de vários tipos e não estou falando só de namoro.

Mesma coisa com relação homem-mulher. Não sei da maioria das pessoas do sexo masculino. Mas comigo, mulher tomando iniciativa, da primeira vez assustou. Porquê fica parecendo "pegadinha". De outras vezes não assusta tanto. A dúvida é como corresponder, como não ser grosso, etc..

Na maioria das aproximações, rola um período de estudo prévio, de observação. Sempre é difícil lidar com gente nova. Essa coisa de "conquista", "sedução", muitas vezes é balela. O que existe é um período de teste onde cada um dos dois se assegura que o outro não está brincando nem está armando alguma encrenca. Não existe essa do cara "se impor". Existe a menina topar que o cara a "conquiste".

Mulher também toma a iniciativa. Agora, se a gostosa em questão é do tipo que ficou fazendo regime a base de alface a vida inteira, academia direto para esculpir o corpo, roupas mil (hummm, roupa nem tanto.. depois comento). Essa mulher vai querer um tipo de cara para combinar com o estilo de vida dela. Não adianta sonhar com uma clone da Daniela Cicarelli se você não é o Ronaldinho.

Claro que se a menina está afim, fica problemático para o cara se convencer de que é sério. O pior é resistir à tentação de esnobar a pessoa (não é só mulher que esnoba indesejáveis). Acho que é por isso que algumas meninas não tão vistosas conseguiam namorado (ou caras pra lá de feios conseguiam namoradas). Já estavam preparados psicologicamente para derrotas mas iam em frente.

Qualquer dia escrevo sobre isso. No caso de homem (tô tentando escrever besteiras válidas para os dois sexos) o perigo é realmente outro. Para algumas mulheres, engravidar não é um risco, é uma necessidade. Algumas fazem um alarme falso só para saber a reação do cara. Ou para fazer ele pagar um aborto (falso ou verdadeiro ou até no qual até nem tem culpa). Muito chato o cara estar louco para uma primeira experiência afetiva saber disso. Mas é verdade e comigo, só uma ou duas mulheres que namorei até hoje não vieram com esse papo de "menstruação não veio".

Casamento e "golpe do baú"

Por outro lado, há cursos universitários que são apelidados de "arranja-marido" porquê a maioria das meninas aparentemente só pensam nisso, em arrumar um noivo, no homem da vida delas. Questão de opção, projeto de vida. Entrar na faculdade foi um passo. Achar um cara vai ser outro. Casar, outro. Ter filhos, outro. Pode mudar a ordem. Em outros casos, é medo mesmo de encarar o mundo. Pelo menos são sinceras.

Há outras meninas que tem essa mesma idéia mas conseguem apagar o letreiro "quero casar" da testa. O sujeito só descobre bem tarde. Depende da:

experiência de vida (número de namoros, vivências)
escolha de curso (engenheiros)
tempo para se formar
origem social
Vale para os dois. Mas não vou detalhar o itens (se tiver muita gente me dando feedback, talvez eu escreva um livro em cima deste artigo) .

Há caras tão incompetentes no que se refere ao ser humano que não se casariam de outra forma. Tem que existir uma "louca" afim deles e que vai catar o cara. Claro que divórcio existe (pagar pensão também) mas fazer o quê? O inverso (golpe do baú) lógico que existe. Há aqueles que escolhem uma menina e arrumam para se casarem como forma de subir na vida. Só que a chamada "classe média" está a um fio de cabelo de virar "neo-pobre". Gente abastada tenta colocar os filhos (filhas) em ambientes onde "pobre" não entra.

Já conheci um ou dois casos de "patricinhas" em busca de alguém para sair da casa dos pais. Veja bem o caso: casar para sair da casa dos pais. Não é namoro. Você (homem) é que não sabe que já está noivo.

Experiência pessoal. Havia abastança e sim, a menina era bonita. Mas não sei, a família achei meio diferente (difícil essa coisa de família legal, de qualquer forma). A menina tinha passagem em quase todas as delegacias de São Paulo (mas custei muito a saber disso). Dava uma novela, a vida dela. Não digo que fosse um caso onde o pai estivesse desesperado para alguém, algum santo que se casasse com ela. Mas pelo menos um que não fosse um vigarista.

Era uma amizade que podia se transformar em namoro e depois talvez em casamento. Não consigo fácil fazer essa transformação. Às vezes me dá saudade. Qualquer dia tomo coragem e ligo para ela. A gota d’água que me fez desistir de tudo (antes até de realmente começar) foi uma história que ela conseguiu perder US$ 2000,00 em traveller’s checks no metrô de Londres, na viagem anual da família. Tem gente que pode, mas para mim foi demais. Para um cara que não gastou isso em 9 meses de Europa..

Pouca gente (sexo masculino) arrisca casamento para subir na escada social. Significa abdicar de muita coisa, às vezes até mesmo lavagem cerebral (tipo: votava no PT antes - depois de casado defende a volta do Collor). Morar com os pais enquanto estuda para concurso público dá mais esperança. Sem falar que um pai de família que topa um esquema desses normalmente bola outro esquema, para o sujeito, se sair do casamento, ficar do mesmo jeito que entrou. Ou pior, já que se separar de alguém dificilmente é um mar de rosas.

Agora, há muita mulher que cansa da badalação e que resolve arrumar alguém. Nenhuma novidade já falei disso. Nem chega a ser "golpe". A mulher pode, ao longo dos anos, conhecer tantos caras, fazer tanta coisa, participar de tanta balada.. fazer alguém se apaixonar por ela é fácil. E pode fazer o cara feliz. A não ser em casos em que há um plano específico de pedir o divórcio assim que a situação econômica do sujeito possibilitar uma pensão generosa. Aí é golpe.

Sempre quis saber como terminou a história de um executivo da Petrobrás, salário em torno de US 5.000,00 por mês, que começou a morar com uma menina, tipo "amizade colorida". Depois de cinco anos morando juntos, ele bancando tudo, ela falou: "cansei, vamos separar". Ele falou "tudo bem". Ela foi num juiz, conseguiu uma pensão alimentícia do cara. (Cinco anos equivale a matrimônio, pela legislação, mesmos direitos que casar ou engravidar do cara).

Não tenho os detalhes da história (nem nome nem data). Mas 40% de US$ 5.000,00 (na época que me contaram havia paridade entre dólar e real) é muito dinheiro. A moça alugou um apartamento e arrumou um namorado. Parece que o sujeito agüentou "o chifre" por um tempo. Depois decidiu largar tudo e vender sanduíche na praia de Copacabana. Morando com a mãe. Aí não podia pagar pensão. Está entendendo o porquê que eu me aprofundo no tema?

Pensão alimentícia é um dos dois ou três motivos para prisão sumária na legislação brasileira. Atrasou, a mulher vai no juiz. O juiz decreta a prisão. Chega um camburão na sua casa. Te leva pro presídio. Quando a pensão for paga, você sai. Simples assim.

Sem chegar em casos de convivência tão longa, é muito comum mesmo, a menina topar uma "amizade colorida" só para ter onde morar. Puxa, é tão comum.. tem tanto cara que topa. Por um tempo, pelo menos. Depois fica caçando um "amigo" para se livrar da menina. Isso quando a menina não conhece um amigo do cara que é mais interessante e "pula" pro apartamento dele. Foi bom, adeus.. Nossa, estou até me controlando para não aprofundar o tema..

Um tipo especial de "golpe do baú" são os pós-graduando(a)s de países em situação econômica pior do que a do Brasil. Nem sempre, já que "ninguém sabe o lugar certo onde colocar o desejo". Para conseguir a nacionalidade. Isso é semelhante ao caso dos brasileiros que vão pensam em se casar para obter nacionalidade. Para esse pessoal, casar (ou ter filho com brasileiro(a)) significa poder trabalhar legalmente. Cubanas, na minha opinião, engravidam especialmente fácil. Peruanos, já vi caso do sujeito com 2 filhas na terra natal e namorando todas as meninas.

No caso de estrangeiros, essa eu já ouvi sobre cubanos (apesar que um cara da Itália quase me aplicou essa conversa) é a "cartinha pro consulado". O sujeito conta uma história fantástica (que pode até ser verídica) da pesquisa que ele está fazendo no Brasil investigando sei lá o quê. Aí fica íntimo, pergunta muita coisa, trabalha o ego do brasileiro. Que vai se emocionando com o gênio à frente dele. Trocam telefones, e-mail, etc..

Um dia, o sujeito aparece dizendo que vai ter que ir embora do Brasil. Tão expulsando ele do apartamento, vai ficar sem lugar para morar e pior, o visto vai acabar. Uma coisa que poderia resolver é alguém escrever um cartinha pro consulado detalhando que pode ajudar o sujeito com moradia, alimentação, etc durante a estadia dele. Só papel para ele estender o visto. Só papel?

Pode fugir que nem o diabo da cruz. Em outras palavras, o sujeito está dizendo que quer que você legalmente o adote como filho. Sim, porquê botou sua assinatura, é documento (aliás se for manuscrito nem precisa assinar), não é é a mesma coisa que falsificar documento para pagar meia entrada (que já é uma péssima). Já ouvi falar de cubanos que exploraram (não existe outra palavra) pessoas que os hospedaram. Não trabalhavam, ficavam o dia inteiro em casa assistindo TV, etc.. Uns tipos bem malandros, ainda bem que não são todos assim. O único jeito foi a pessoa arrumar para sair do Brasil.

Brasileiro também faz isso.. com brasileiro.

É bem difícil não cair na conversa de um cara desses. Nem vou dar os detalhes. "A pessoa conta os drinques que toma mas não conta os tombos que leva". Haja experiência de vida..

Há outros tipos de "golpe" semelhantes, uns mais elaborados, outros menos, tipo "Casa de Pensão" (Aluízio Azevedo – cai no vestibular). Não esgotei o assunto, tá pensando o quê? Se eu escrever muito, algum roteirista da rede Globo vai pegar a idéia para fazer uma novela. Aliás veja bem o título do texto "Vestibular e a adolescência". Já vi gente detonar a vida por conta desse tipo de situação.

Há dias em que penso, puxa.. como eu escapei de roubadas..

CONCLUSÃO

Na verdade não tem. O texto começou a ficar muito grande, muita tentação de aprofundar e estou escrevendo mais pensando naquele estudante do interior que está tentando decidir a vida. Se isso servir para ajudar, excelente. Sempre quis escrever um romance que descrevesse esse universo da vida adolescente. Quem sabe algum dia..

Quando eu dava aula particular (qualquer dia acabo voltando) vi que o cara que estuda fica bitolado demais para pensar estratégia de questões. A maioria dos cursinhos não vai mexer muito com "o fazer" a prova. Muito menos planejar o estudo. Já é difícil conseguir que a classe preste atenção.

Deixar o cara com medo de fracasso quando paga uma mensalidade é uma fortuna? A família já está assustando pra caramba. Mais medo porquê? A grande maioria vai tentar o que parece impossível. Querem carreiras que exigem uma carga de estudo que uma escola não dá (a grande maioria delas). Para que um cursinho vai apontar o dedo para o sujeito e falar: desiste, você está sonhando..

Gente passando pelo 2o ou 3o vestibular pelo menos já aprendeu a:

Não se deixar levar pelas pressões da família
Escolher um curso/faculdade onde tenha chances de passar
Amadureceu outras questões psico-sociais (como vontade de chutar o pau da barraca)
Claro, existem coisas, como o sistema de quotas. Numa época tinha algo chamado "lei do boi" (ia prestar agronomia, se comprovasse parentesco ou vivência no campo, tinha uma vantagem qualquer na nota). A pessoa pode prestar vestibular numa faculdade lá não sei aonde, mais fácil de entrar. Sei lá. Mas não resolve o problema principal: há cursos em que a formação da pessoa pesa. A pessoa entra na faculdade mas não sai com diploma. Ou sai com um "canudo" de papel que não vale nada no mercado. A prova do vestibular, muito mais que uma prova de conhecimentos gerais, é uma forma de separar gente que tem compromisso com aprendizado. Não é a melhor forma, com certeza. Mas ajuda.  

Bibliografia:

Após ebulição, mercado fica mais rigoroso. Folha de São Paulo. Caderno de empregos. 15/04/2001.

LAFARGUE, Paul. O DIREITO À PREGUIÇA. 1880. Disponível em <www.geocities.com\dcunha77\lafargue.html>. Acesso em 10/04/06.

Estudantes ameaçam jovem por fotos de sexo na Web. Disponível em <http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI967647-EI306,00.html >. Acesso em 18 de abril de 2006.