3T- Truques, Trotes e Trapaças Variadas
Não é
exatamente o tipo de coisa que eu gosto de comentar no meu fanzine. Já
notei que rato de computador tem uma capacidade de copiar idéias que
dá medo. Mas não é possível fingir que não
rolam algumas brincadeiras. Só acontecem. Vou ver se consigo liberar
alguns. Não é algo recomendável. Se você ficar
conhecido pelos seus truques, vai descobrir que está sendo evitado
as vezes por muita gente que podia estar te ajudando. Enfim..
Haviam muitos tipos
de truques que o pessoal que conheci na USP praticava. A rede Telsist estava
completamente aberta e a preocupação com segurança era
zero, quando os primeiros fuçadores da Poli começaram a usar
a sala de computação. O pessoal fez uma cópia dos originais
simplesmente porque tinham que fazer cópia de tudo quanto é
coisa. E quando os encarregados de "vigiar" a sala descobriram e apagaram
os programas "interessantes", já era tarde. O pessoal usava suas
próprias cópias para mandar mensagens em série, do tipo:
Um verme está comendo seu cérebro <tecle enter par limpar
a mensagem> (aí limpava a tela e 5 segs depois vinham as outras
partes)
Mas não se preocupe <tecle enter par limpar a mensagem> (mais
5 segundos para limpar a tela)
Logo, logo <tecle enter par limpar a mensagem> (mais 5 segundos
para limpar a tela)
Ele vai<tecle enter par limpar a mensagem> (mais 5 segundos para
limpar a tela)
Morrer de fome<tecle enter par limpar a mensagem>
O pessoal as vezes fazia isso quando não havia muita gente. As vezes até quando estava lotada. Depois pararam. Os caras suspeitos foram suspensos. A turma ficou meio injuriada. Os encarregados da sala não sabiam quase nada de computação. Mesmo assim, só pra mostrar quem é que manda, de vez em quando cancelavam a sessão do indivíduo suspeito. A energia dos micros era controlada de um lugar, não havia como fugir disso. Só a tela e o teclado funcionavam. Mas o pessoal ficou tão chateado que se uniu, formando um círculo em volta de um micro que estava desligado. Fazendo todo o tipo de observação como se estivessem realmente se divertindo. Chegavam os "encarregados", a turma se dispersava. E ficavam rindo, enquanto o sujeito tentava entender como é que a coisa tinha acontecido.
Eram tempos legais. Quando entrei para a "turma", não tinha nenhum conhecimento da sala. Para começar, eu era da Letras. Não devia nem estar ali. E era calouro. Com cabelo intacto. Naquele tempo, o pessoal cortava quando entrava na Poli. Uma vez tive que passar por um "corredor polonês" cheio de caras com tesouras, abrindo e fechando. Fizesse um sinal de "tô com medo" e.. nem Jesus Cristo salvava meu cabelo. Hoje, XT está no lixo, mas na época, eram micros de 2000 dólares, era o tempo da reserva de mercado. É, tudo pelo amor a arte. Mas como dizia, entrei na sala sem conhecer ninguém, então fiz o que achei que podia impressionar: tirei 6 caixas de disquete da mochila (na época, as pessoas compravam um único ou pediam emprestado o do amigo). Comigo, isso funcionaria. Funcionou com a turminha de lá. Funcionaria hoje também. 4 horas depois eu não tinha mexido em um único micro, mas já tinha batido papo com todo mundo que valeria a pena e também de certa forma, era parte do grupo. Mesmo não sendo de outra faculdade. E calouro.
Teve um outro sujeito que não teve a mesma idéia. Vou chamar ele de Miguel. O Miguel era um viciado em Apple II e tinha lá seus joguinhos. Queria encontrar gente viciada que nem ele. Calouro da Engenharia Civil (5a opção), ele colocou um cartazinho no mural, do tipo "entrei agora na USP, queria encontrar Ratos de micro que nem eu, para trocarmos idéias". Eu ri e não falei nada. O Rui também. Eram umas 10 pessoas na sala, a "rataiada". Eu fiquei mais ou menos amigo dele. Meio chato, isso. Sendo "veterano", era obrigatório, fazer algum trote. Veterano age como veterano. Até o dia quando os calouros deixam de ser calouros. Pra não dar na vista, o máximo que eu fazia era mandar ele vagar o micro pra mim, quando a sala estava lotada. Algo muito facista, mas eu não podia dar na vista. Aquele pessoal zoando com os carecas. Eu acabei compensando com o Miguel, ajudando bem de vez em quando, sendo amigo. Até que veio o dia da libertação dos escravos.
- Pois é, Miguel, agora que nós somos amigos, de igual pra
igual, ambos veteranos, posso te contar um segredo, você não
vai ficar chateado?
- Ah, Derne, tudo bem. Agora que sou veterano, nada do que você disser
vai me atingir. Pode falar que eu perdoo tudo.
Engraçado que ele nunca mais tentou se juntar ao grupo da rataiada.
Nunca mais mesmo. E era um dos poucos que entrou sabendo formatar disquetes.
Um dos únicos que ficou sabendo que eu não era da Poli. Foi
chato.
Isso que eu fazia era respeitado porque
tinha uma coisa "anti-sistema". Eu não podia ficar fazendo nenhuma
espécie de brincadeira porque era bem mais fácil minha
presença não ser mais tolerada. Tive que tolerar uns caras,
porque não queria atrair atenção. Não podia reclamar
de nada, muito menos apontar o dedo para ninguém. Isso pode ser chato.
Assistam o filme "Gataka - uma experiência genética", guardadas
as devidas proporções, tem alguma semelhança. Uma verdade
que descobri é que os caras que pisam no pé da gente se ferram
sozinhos, algumas vezes sem a nossa ajuda.
Uma coisa diferente disso aí que
estou falando e que as vezes rola, em qualquer lugar, é o sujeito
querer inventar algo para chamar a atenção. No caso de encontro
de Hackers, é mais ou menos comum. Quando o cara inventa algo realmente
digno de ser elogiado ou invejado, é legal. O problema as vezes ocorre
quando o cara não é grande coisa, mas mesmo assim quer receber
confete e salva de palmas (Quem nunca cometeu nenhum pecado que atire a primeira
pedra). Um caso que realmente destacou foi de um cara até legal. Baita
carisma. Mas queria porque queria conhecer um Mitnick brasileiro. Um dia
veio com uma história de "consegui entrar na conta de um cara na
geocities". O pessoal foi acessar a página do cara e estava mudada.
"OOOOOOOHHH!". Ninguém conseguiu repetir o feito. Depois veio: "consegui
entrar na página da empresa tal, só pra não sacanear,
pus um index2.html lá". E o index2.html estava lá, com o nick
dele e tudo "Fulando esteve aqui". De novo "OOOOOOHHHH!". E mais tarde, o
máximo dos máximos: "consegui entrar na conta de um provedor
em tal lugar, se eu quiser, não tenho mais que pagar para entrar na
Internet".
Sujeito de grande capacidade técnica.
Depois se descobriu, (através de engenharia social), que o cara
da geocities era estagiário na firma do cara. A página da tal
empresa que ele tinha conseguido entrar, era uma empresa para a qual a firma
dele fazia consultoria. E a conta que ele "conseguiu" hackear era de um colega
de trabalho. É preciso tomar cuidado. Eu mesmo já caí
em várias conversas onde o cara "fazia e acontecia". Ele "confessa"
seu "maior segredo" só para você confessar os "seus segredos"
ou ficar constrangido e inventar um maior. Outro truque é escutar
tudo o que o cara mais "CDF" fala. E depois apresentar a mesma idéia
como se fosse dele. Conheci até gente extremamente capaz a nível
técnico, que acabou fazendo esse tipo de truque. Para não se
sentir inferior, fica só colado com gente acima do nível, tentando
conseguir algo por osmose.
Não é uma estratégia
ruim bancar o capacho (do ponto de vista de estratégia, bem ou
mal, algumas vezes funciona). Mas ter iniciativa funciona muito melhor. E
o difícil é que é preciso ter muito, mas muito
saco, para aguentar o ego dos outros. Fácil também ficar na
pior, quando o inevitável acontece. Ou seja, a "fonte de idéias"
seca. Ou o cara "CDF" inventa uma besteira só para o outro bater a
cara no chão quando a idéia for copiada. Um sujeito que conheci
tinha a mania de elogiar desbragadamente o MSX. Tudo podia ser feito de forma
melhor com ele, emulação disso, recuperação de
dados, etc. Ninguém discutia, porque ninguém tinha toda essa
experiência. Até um dia, quando ele tentou me convencer que
o tal micro podia fazer emulação de tons de "boxes". O amigo
dele, "fonte" dessas idéias, já tinha me dito que não,
não era possível. Não se pode viver essa coisa de
"fuçação" acreditando que todo dia vão pintar
"lances incríveis". Qualquer pessoa que fica animando para você
falar ao invés dela se expor já bate um alarme na minha
cabeça.
Besteira é pensar que só
por que escrevo isso sou contra esse tipo de "estratégia". Até
sou. Se descubro que estou sendo "muleta", corto o papo. Mas fazer o que?
A fantasia sempre é mais interessante do que a realidade. Conheci
uma figura incrível, tempos atrás. Fez acreditar que tinha
tido aulas com um dos únicos descendentes de Ninjas. Tinha vindo com
a emigração japonesa para o Brasil na década de 30.
Era cada história ou estratégia fantástica, mas
crível. Tinha tirado tudo de histórias em quadrinhos. Morava
com um sujeito que tinha uma coleção enorme dessas histórias
de kung-fu e de combate, era daí que extraía os "segredos"
que podia comentar, mas não podia revelar. Como eu descobri? Talvez
eu explique num outro artigo.
Um lance meio interessante são os hacks. De acordo com a
designação oficial no MIT:
The word hack at MIT usually refers to a clever, benign, and "ethical" prank or practical joke, which is both challenging for the perpetrators and amusing to the MIT community (and sometimes even the rest of the world!). Note that this has nothing to do with computer (or phone) hacking (which we call "cracking").
A palavra hack no MIT normalmente se refere a uma travessura ou trote "ética", esperta, benigna, que é tanto engraçada para a comunidade do MIT (e algumas vezes para o resto do mundo). Repare que isto não tem nada a ver com hacking de computadores (que chamamos de cracking).
São umas coisas muito sofisticadas, que podem ser apreciadas no URL:
http://hacks.mit.edu/Gallery.html.
A minha favorita foi quando eles receberam a visita de um presidente
(não o dos EUA) que tinha escritório, lá. Cobriram o
escritório dele com um quadro de avisos, em suma, desapareceram com
o escritório dele. Outra foi converter o topo de um edifício
no maior LED de som digital do mundo. Quem não estava muito longe
podia ver as luzes dos escritórios acendendo e apagando só
para acompanhar 5.000 Watts de som. Outra que saiu até em jornal
brasileiro foi colocar um carro de polícia no topo de um prédio
lá do Instituto. Sim, um carro de polícia com dois bonecos
policiais, em tamanho real. Ninguém sabe como eles conseguiram e na
verdade, ninguém pergunta. É a mágica da coisa.
Aqui no Brasil temos mais mesmo são os trotes
universitários. Infelizmente, não são bem feitos. Eu
passei por um lance que poderia ser chamado de trote cultural. Não
vou contar porque vai estragar a surpresa de alguns. Nada de violência.
Nada de gente botando fogo em outras pessoas. Alguns, muito bons, se encontram
no filme "Clube dos Cafajeste" ou "National Lampoons Animal House". Um primo
meu é que tinha uma coleção dessas experiências.
Fazia medicina.
UFRJ. Bom, to mudando de assunto. O cara tinha uma turma que era realmente
"da pesada". Era o tempo de uma moda chamada "streaking", sei lá se
o nome é esse. Anos 60 ou 70. Eles decidiram que alguém tinha
que começar a fazer isso no Brasil, para a moda pegar (que nem a moda
do Jeans e tantas outras, aquele era o tempo em que foi criada a expressão
"estar na moda"). Então, o que eles combinaram? Um deles ia correr
pelado (esse era o lance do streaking, correr pelado durante uma certa
distãncia, na frente de todo mundo, uma forma de ser "contra o esquema"
e fazer um protesto ou simplesmente se divertir, a coisa não
"pegou", talvez por lei relativa a atentado ao pudor). Mas não
num lugar qualquer e muito menos numa hora qualquer. Em frente ao Golden
Room do Copacabana Palace, saída da última sessão do
teatro. Pra ficar mais claro, o lugar onde os grã-finos e socialites
cultuam o dólar em todas as suas formas (roupas chics, perfumes e
jóias).
Tudo
bem. Fizeram a coisa. Estacionaram na esquina, esperaram aquela fila de pessoas
se amontoarem na na calçada e o cara saiu correndo entre eles: "shlap,
shlap, shlap, shlap" (som de neguinho correndo pelado). O fusca foi esperar
na outra esquina. Só que o pessoal lá dentro não achou
grande coisa. Sei lá, não teve nem câmara de TV filmando.
Os grã-finos nem tchuns. Não tinha jeito de sacanagem.
Então..Quando o sujeito (o pelado) tava chegando perto, resolveram
andar mais um quarteirão. Pra ver se fazia mais escândalo, sei
lá, alguma coisa. Nada. Mais um quarteirão, o sujeito quase
chegando no fusca, xingando "filho da $%^#@. O pessoal ficou assim.
Vai mais um quarteirão, "shlap, shlap, shlap, shlap", $%&^$#,
espera o cara chegar,"shlap, shlap, shlap, shlap" , &%&^%$, anda
mais um pouco. Quase 3 quilômetros depois ("shlap, shlap, shlap, shlap"
), resolveram deixar o cara entrar. Tinha parado de xingar, sinal que já
estava sem fôlego.
Chaos, um sujeito
que conheci recentemente nesses encontros aqui em Sampa. Fico com uma inveja.
"Predestinado a ser todo ruim". Quando encheu o saco com o cachorro da vizinha,
tacou um comprimido de Sonrisal na boca do animal e chamou a carrocinha,
falando que o bicho estava com "raiva". A lista de sacanagens desse cara
é tão grande.. outra vez ele foi na praia com uma moçada.
Viu um sujeito tomando sol, dormindo. Foi lá, bem devagarinho.. e
desenhou um cacete com protetor solar no peito do sujeito. Conta que
viu o sujeito durante dias tentar ver se conseguia fazer aquela "área
branca" sumir. Uma vez ele "convenceu" um amigo que passar gelol lá
embaixo era o mesmo efeito que o Viagra. Até passou (na cueca, não
na pele) um pouco, para mostrar ao amigo. Como dizia Nélson Rodrigues:
"Burro nasce que nem grama"... Uma "lenda urbana" que me contaram foi o que
fizeram com uma empresa de ônibus, cujos motoristas são famosos
por falsear situações de freio. Só para ver passageiro
cair. Discar o número de reclamação não funcionava,
ele guardou a cara do motorista e onde era o último ponto antes do
final. Ficou de tocaia lá e deixou um "artefato" para furar o pneu
do ônibus. Cada dia num ponto diferente, sempre com o mesmo motorista,
mas sempre perto do ponto final. Isso é vandalismo, mas como também
já me contaram de gente que já foi mais de 3 vezes pro chão
por conta de freada brusca.. Qual que é pior, o vandalismo de
uma empresa com o usuário ou do usuário contra uma empresa?
Os dois estão errados. A única coisa boa nessas estórias
é a diversão de conta-las. Passar por uma delas nem sempre
é edificante.