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GERENCIAMENTO DE CRISE: TROCANDO AS BOLAS

(Lidando com escândalos, fofocas e outros problemas)

Derneval R.R. Cunha

Talvez vc já tenha assistido o filme "Trocando as Bolas", com Eddie Murphy e Dan Aykroyd. Neste filme, um executivo (Dan Aykroyd) é subitamente transformado em um marginal e um morador de rua (Eddie Murphy) é transformado em executivo. Mas se vc parar para tirar a comédia de lado com o final feliz, a parte em que o cara perde tudo e vai morar com uma prostituta e depois acaba roubando comida numa festa, bom, é comédia mas olha de outra forma: o cara perde o emprego, a namorada, a posição social, tudo. Bem aquela coisa do Jó, na bíblia (onde Jó era um sujeito próspero e Deus resolveu deixar que o diabo acontecesse ao cara, perdesse tudo ou quase - a mulher ele não perde, fica lá para atazanar a vida, vide http://www.idm.pt/biblia/18Jo02.htm - deixou que ele perdesse quase tudo).

Talvez vc somente tenha ouvido falar da Paris Hilton, uma socialite e modelo famosa, cujo filme feito junto com o namorado apareceu na Internet (bem legal por sinal) para todo mundo ver. Ou simplesmente gostou da novela "Celebridade" da Rede Globo.

Mas pensemos outros casos tão interessantes quanto, da vida cotidiana de qualquer um, onde a vida estava normal ou ruim como de costume e alguma coisa acontece que faz o inferno acontecer na terra, literalmente:

  1. Vc está sozinho numa biblioteca. Estudando ou lendo, não importa. Aparece uma moça que vc nunca viu antes. Começa a puxar papo. Logo logo, parece que os dois tem tudo em comum. Pintou um envolvimento. A biblioteca está fechando mas a menina tem que ir atrás de uma colega que vai lhe hospedar esta noite, ela mesma está com problemas no apê dela. E por incrível que pareça, o seu apartamento está sem ninguém, seus colegas viajaram. Legal. No dia seguinte, fica a dúvida, não pode colocar a moça lá dentro como hóspede. Dias depois ela briga por um motivo qualquer, esdrúxulo. Não era p. dar certo. Tudo bem. Esquece a menina. Fácil vêm, fácil vai. Só que ela resolve voltar, pedir desculpas, etc.. Ok, vc aceita. Ela continua pressionando para ficar no seu apê. Seus colegas sabem do lance mas não querem ela de jeito nenhum (mas ficam falando da sua enorme paixão p. menina, só de sacanagem). Trata-se de uma dúvida até cruel, porquê afinal de contas, está ótimo ter uma namorada. Mas a mulher só fala em morar junto e está sem dinheiro. Aí ela briga de novo contigo. Xinga vc um monte, tenta te provocar até as raias de querer bater na mulher. Ok, vc venceu, adeus. Ela vai. Fica um tempo longe mas depois volta querendo reatar. Sério. Não fala nada de morar junto, mas quer reatar. Mas vc não quer. Porquê além do problema de que vc não é palhaço, já descobriu que ela brigou com vc da outra vez para ir atrás de outro cara. Que também não quis dividir o quarto com ela. Vc viu o 2o pretendente dela, que também a abandonou. Bom, pelo menos ela não te corneou, brigou primeiro. Mas tem um probleminha, ela está grávida. É um truque? Legal, deixa nascer. Aí vc é isso, vc é aquilo. Ela conta a versão da história dela para todo mundo. A versão onde ela foi uma pobre vítima e vc o cara que se aproveitou dela, agora que ela está grávida, não quer mais.
  2. Você mora numa república de estudantes a cerca de 2 anos. Sao 3 pessoas, gente que conversa pouco cada um no seu lugar. Um dos colegas é homossexual e resolve, de uma hora para outra, começar um romance com alguém de fora do apartamento. O que a princípio, não gera problema. Começa a trazer o sujeito direto. Virou morador. Mas o apartamento é pequeno, não cabe todo mundo. Alguém tem que sair do apartamento para que o namorado dele possa entrar. Começa a pintar um "stress" entre vc e o cara. Que apronta várias provocações para ver se acontece briga (também se conhece isso como "fritura"). Como vc é um cara inteligente, não vai cair nessa. Fica na sua, não parte para briga mesmo quando vê o sujeito usando seu aparelho de barba, só compra outro e não deixa mais a vista. Um dia, logo depois de escovar os dentes, a briga acontece, ele quem começou, de surpresa. E é um cara que luta boxe, pelo jeito da surra. Leva-se o caso à delegacia. O sujeito sabe q tem todas as provas contra ele, que que ele faz? Inventa várias mentiras para seus colegas da faculdade, alegando discriminação e homofobia, perseguição. Se ele te encontra na rua, em algum lugar, fica te chamando para a briga (resolveria metade do problema para ele, aí a queixa de agressão viraria parte-a-parte, diminui a possibilidade de condenação dele). E até o julgamento, qualquer coisa acontecendo a qualquer um dos dois (atropelamento, morte), o outro passa a ser suspeito de crime.
  3. Na faculdade, vc resolve que o jeito que a entidade está funcionando não dá. Se candidata junto com um colega para uma chapa numa eleição estudantil (imagina uma qualquer aí, Centro Acadêmico, Representação Discente, etc). Como ninguém está fazendo nada pelo pessoal, vc e seu colega vão fazer algo para colocar a casa em ordem. A concorrência não é muito forte. Um carinha que berra para caramba mas que ninguém confia e um outro cara completamente duro. Para poupar esforços, seu colega de chapa faz um "pacto de não-agressão" com o sem grana. Um não fala do outro. Dias depois, a grande revelação da ingenuidade dos dois. O cara da "não-agressão" ferrou tudo. Saiu falando mal de pessoa em pessoa e chegou até mesmo a imprimir panfletos com acusações de que sua chapa é de direita, tão com segundas intenções, etc.. E fez isso no dia anterior à votação. Sujou sua barra para se eleger. O outro adversário já tinha até desistido.
  4. Vc está todo orgulhoso dos seus avanços na chamada TI, Tecnologia da Informação. Sabe de tudo o que valhe a pena saber sobre computadores. Quer seja legal ou ilegal. Chega o dia em que te propõem uma reportagem sobre "hackers brasileiros". Oba, vou aparecer na imprensa. Vou ficar famoso. Aí vc topa em tirar fotos e contar o que sabe de seus amigos. Desmistifica. Fala a verdade. E até posa para fotografias. Legal. Só que o editor daquele repórter que te entrevistou não está interessado na sua história. Algum cara famoso lá nos EUA foi preso e ele precisa de um "hacker" brasileiro para contrabalançar a cobertura sobre o assunto. Então sua foto aparece grandona lado a lado com um "criminoso virtual". E aparece na matéria que vc curte invadir sistemas por diversão, mas sem danificar. Das suas qualidades como gerente de processamento de dados, cursos lá fora, mitos sobre "hacker do bem", etc, nada aparece. Não é grande problema, até o dia em que vc está sendo entrevistado para uma posição numa grande empresa e simplesmente cancelam sua entrevista dizendo que a vaga está preenchida. Na faculdade, uma inimizade sua usa a reportagem para convencer as pessoas que vc é capaz de invadir o sistema de notas e prejudicar pessoas.

Algumas destas coisas já aconteceu com você? Pouco provável. A grande maioria das pessoas jamais vai admitir que sofreu constrangimentos ou que esteve envolvida em situação escandalosa ou constrangedora do tipo da do filme "Beijo no Asfalto" ou coisa pior (não queria ser a Paris Hilton andando na rua depois de saber que o filme dela com o namorado está circulando na Internet). Muito menos objeto de fofoca. Sofrer, sim, admitir, jamais.

A grande questão é: o que fazer quando isso finalmente acontecer com vc? Acontecer não uma situação constrangedora, mas os efeitos colaterais? Aquela coisa de ficar na boca do povo, sabendo ser inocente (ou mesmo sendo culpado).

ACIDENTE ou ARMAÇÃO?

A fabricação de uma situação pública negativa é um trabalho de relações públicas ao contrário. Trata-se de usar ou criar um evento que seja verossímel, de fácil discussão e polêmico. Envolve planejamento e sorte. Quando se está envolvido em polêmicas, o espaço na mídia é garantido. Requer canal de divulgação, sem o qual não funciona (apesar que algumas notícias são tão populares que acabam sendo veiculadas independente de canal específico). O objetivo da difamação, vazamento de informação ou escândalo não interessa tanto quanto os efeitos na pessoa vítima do problema. Trata-se de jogo sujo no mais alto grau. Pode destruir a vida de alguém.

A relação do indivíduo com a sociedade se altera. Família, amigos, trabalho, tudo fica diferente. E a palavra-chave é jogo de cintura. A pessoa pode enfrentar humilhações pelo resto da vida, por conta de algo que não aconteceu, mas que foi divulgado como tendo acontecido, apenas porquê alguém torceu os fatos ou passou adiante uma história irreal.

VERSÃO x FATO

Escândalo, vergonha, são palavras que estão todos os dias nos jornais. Nas televisões. A imprensa só enaltece alguém ou alguma coisa se isso vender jornal. A questão toda não é o que aconteceu, mas o contexto.

Como dizia o finado Getúlio Vargas "Não importam os fatos e sim as versões"(*). Dentro desse raciocínio, a verdade não interessa. O que é interessa é o que estão veiculando como verdade. Tanto faz se seja grande imprensa ou no seu bairro. Existe sempre um tédio, uma falta de assunto que pode ser preenchida usando algo que denigre alguma reputação. Que pode ser a sua. Coloquei só três exemplos para facilitar. Imagina por exemplo, levar a pecha de "pelego" apenas porquê um colega de trabalho achou que era a maneira mais fácil de colocar todo mundo contra vc e conseguir aquela promoção que deveria ser sua?

Alguém ainda se lembra do caso do índio Pataxó Galdino, que foi queimado vivo em Brasília? Se fosse um travesti ou mesmo se fosse um mendigo comum, será que o clamor público seria tão grande a ponto de colocar jovens de "boa posição social" na cadeia?

Na vida real, a coisa não muda muito de figura. Mas tudo depende da divulgação. Quem espalha qual história quando. Voltando aos exemplos mencionados, são três estereótipos (ta, eu coloquei 4 historinhas, mas so vou discutir 3): o da moça que foi abandonada pelo namorado, o da pessoa que quer o papel de vítima de agressão para escapar de condenação e o do adversário político que usa o preconceito para conseguir a vitória política. Cada qual perseguiu um público e repetiu sua história várias vêzes, até que "a voz do povo" virasse a "voz de Deus". Uma mentira repetida mil vêzes, vira verdade.

ACONTECEU COM VC

O que fazer? A primeira coisa que vêm a cabeça é a tática do avestruz: enfia a cabeça num buraco e espera tudo passar. Aí o clamor passa. Mas fica na memória das pessoas. Todo mundo fala bem menos no assunto mas fala. Alguém sabe quando o Maluf falou qualquer coisa sobre estupro? Faz tempo, mas falou, todo mundo sabe. O passado te persegue. E o que fazer?

PLANO DE AÇÃO.

Parece algo sofisticado. Mas qualquer pensamento fica difícil em determinadas circunstâncias. Basta experimentar sentar numa chapa quente. A primeira vez (que pode não ser a última) tudo é difícil. Pensa num acidente de carro: se não teve vítimas, o problema é fazer boletim de ocorrência, cuidar do seguro, arrumar tempo p. mandar o carro para consertar, ajeitar o horário nos próximos dias (quando se usa o carro para trabalhar). A coisa vai ficando mais complicada à medida em que o elemento humano entra no plano de ação:

Quem fica com a cabeça quente não consegue avaliar direito. O pior de tudo é ter que ajudar a acalmar pessoas que estão junto contigo nessa mas também estão nervosas, apesar do problema não afetar a elas. POLARIZAÇÃO eh quando a opinião pública inteira se volta contra vc. Aí talvez seja mais seguro esperar a poeira baixar mesmo. Pode-se deixar o disco tocar até chegar o momento em que se pode abrir a boca. Ou então começar a processar as pessoas que estiverem te atrapalhando a defesa.

AVALIAÇÃO

A questão é determinar os quês da questão: Quem está falando O quê está falando De quem está falando Porquê está falando Para quêm está falando São informações úteis. Mas difícil é conseguir manter a cabeça fria para determinar todos esses "Quês". Porquê existe a questão da ressonância. Fazer alguma coisa contra implica em "desmontar uma história". Significa apresentar ao público uma versão que implique no descrédito da fofoca principal. Algo lento e nem sempre bem sucedido.

A manutenção de um diário contendo informação relevante funciona. Qualquer evento ou pensamento que tenha a ver com o incidente deve ser anotado, com dia, data e hora. Ex: "As 10:00, beltrano tal, vizinho do 3o andar ameaçou jogar lixo na minha janela quando estava na esquina da rua XX por conta disso e daquilo". Qualquer anotação tem que ter data, hora, lugar, motivo, participantes. Não precisa ser uma carta ou livro (embora fingir que todo dia está escrevendo carta p. alguém funcione para algumas pessoas), cada anotação.

POSIÇÃO PÚBLICA

Em termos simples, um idiota xingando sua mãe é apenas alguém que está procurando briga. Agora, um idiota brigando sua mãe procurando briga porquê vc fez alguma coisa a ele (deu calote, sei lá) é outra coisa diferente. Em alguns meios (por exemplo, em pessoas ligadas à mídia ou artes de modo geral) qualquer publicidade, seja ela positiva ou negativa, é publicidade. Falem mal mas falem de mim. A questão é que quando se vira objeto de conversa, fica-se estereotipado como pessoa. Vira-se aquilo que as pessoas falam de vc então existe um filtro que a pessoa coloca quando conversa. Pode ser chato, com o passar dos anos.

Todo mundo acredita ser apenas mais uma pessoa normal, como tantas outras andando na face da terra. Depois de uma fofoca, acontece o seguinte: prestam atenção em vc e na sua história. Então toda a sua biografia pode ser usada como elemento para fabricação de histórias contra a sua pessoa.

Nessas horas é que é importante:

Quem está do seu lado

Aí a coisa começa a ficar complicada. Dizia o provérbio árabe "à beira do abismo, não existe amigo ou inimigo". Mesma coisa acontece com situações de risco.

Família - Depende. Qual o seu histórico recente com a família? Muita conversa ou ausência. Eles acertam no presente de aniversário ou nem se lembram mais? Saiba então que não faz muita diferença. De um lado, pode ser confortável saber que alguém está do seu lado. Mas o problema começa com relação às decisões a serem tomadas. Primeiro, porquê só por ser família não quer dizer que esteja torcendo por nós. Imagina que seu pai ou sua mãe não gostem do que vc faz para viver (querem q vc seja médico, advogado, vagabundo, tudo menos isso). Eles irão aproveitar o momento de vulnerabilidade para te convencer a "largar dessa vida". Por outro lado, podem aproveitar "aquele sujeito simpático, repórter" para contarem a versão que eles conhecem dos fatos. Achando que, contando a verdade, tudo se resolve. Aí o repórter distorce a matéria.

Amigos - Mesma coisa. Quem vc considera seu amigo é mesmo amigo ou apenas um cara que curte ser seu amigo. "Papagaio de Pirata", já ouviu falar? São pessoas que só estão do seu lado nos bons momentos. Pintou prejuízo, foi embora. Ou são assim até o dia em que conseguem algo de vc. Nem adianta cobrar delas outra postura. Anota e descarta. Isso, com relação à amigos já conhecidos de um tempo. Muito ruim são as pessoas que vão posar de amigos para ter fofoca privilegiada. Acontece. O problema é que mesmo assim, é preciso ter uma versão da história (ou da situação) para garantir que esses caras não vão falar coisa que destoe da versão que vc está transmitindo. A grande maioria das amizades é uma mala sem alça em acontecimentos polêmicos. Não sabem ficar de boca calada e podem até te prejudicar por tentar ajudar (basta uma intriga qualquer e o sujeito, tentando te defender, solta informação que atrapalha sua história, complicando tudo). E como garantir que seu inimigo não é amigo do seu amigo?

Advogados - A primeira coisa que um advogado quer fazer vc acreditar é que ele tem a solução do problema. O primeiro trabalho de retórica dele é te convencer disso. Em alguns casos, é necessário consultar mais de um advogado e de preferência, manter silêncio sobre isso. Porquê o primeiro advogado, percebendo que será abandonado, pode resolver deixar a ética de lado. Revela informação privilegiada p. quem não deveria. Vai provar para a OAB que o sujeito te enganou? Só a partir do momento em que o sujeito tem um contrato de trabalho contigo é que ele tem que manter sigilo. Se vc não o contratou, só expôs seu problema, ele até pode ou não manter sigilo. Para isso existe uma taxa denonimada "consulta". Vc paga p. ele informar se pode ou não ajudar (e pega recibo). Ele não pode aceitar trabalho contra quem já foi cliente dele, repare.

Polícia - Que falar da Polícia e dos policiais? Se vc conhece alguém que é policial, excelente. Dependendo do tempo em que está na ativa, é um verdadeiro trunfo. Caso contrário, policial vai se preocupar em primeiro lugar com o trabalho dele. O que mais ouvi falar sobre polícia são coisas negativas como abuso de autoridade, policial tentando te assustar (aí vc aceita um conselho que facilita a vida deles e atrapalha a sua), etc.. mentir p. policial é perda de tempo, melhor ficar de boca calada o máximo possível e só falar na presença de um advogado. Fala-se muito que existe emprego de tortura física na polícia brasileira. Mas existe tortura psicológica também. Em alguns casos (quando existe suspeita de algo grave), a conversa pode começar informal e terminar como um interrogatório onde o policial quer que vc confesse alguma coisa, qualquer coisa p. justificar o trabalho dele. Não vai pedir desculpas nem te pagar psicólogo se for inocente.

Trabalho - Basta ver o que aconteceu com a Soninha da MTV, quando disse para a revista Época que fumava maconha. A MTV manteve o contrato. A TV Cultura despediu. Curiosamente, o diretor que a despediu tinha poema publicado (em outras épocas) sobre maconha. Ou seja, tudo pode acontecer.

Quem está contra vc

Conhece a velha historinha do passarinho que caiu do ninho? Apareceu primeiro no filme "Meu Nome e' ninguém", (Diretor: Sérgio Leone). Uma historinha boba: o passarino cai do ninho no inverno dos EUA. Começa a piar de frio (tá na neve). Aí, uma vaca escuta ele piando e fica com pena. Fica de costas para o passarinho, levanta a cauda e.. solta estrume em cima. Vai embora. Aí, o passarinho começa a piar, não de frio mas aquela coisa triste. Tá na merda, né? Aí chega o lobo. O lobo vê o passarinho, tira ele da merda. Sacode o bichinho, limpa ele e.. come. Moral da história: nem todo mundo que te põe na merda quer te fazer mal. Nem todo mundo que te tira da merda quer te fazer bem. E se quiser ficar vivo, melhor ficar de bico calado.

É a mesma coisa com relação a amigos. Tudo vai depender do seu problema. Como se pode ver em páginas sobre preconceito (vide bibliografia), se o seu problema é ser gay mesmo, tá ferrado. Se o seu problema é semelhante ao do filme baseado na peça de Nélson Rodrigues, "Beijo no Asfalto"(**), também está ferrado do mesmo jeito. Se sua foto sair como "suspeito" em algum jornal, tua vida vai ficar um inferno.

Não é que exista alguma coisa contra a pessoa envolvida em situação constrangedora. Toda situação desse tipo é estereótipo: só muda quem está fazendo o personagem perseguido pela sociedade. Então toda a sociedade passa a agir como se fosse sua inimiga. E não é. Apenas acontece que alguém de vez em quando é pego em flagrante.

Quem é indiferente

Este é o pessoal mais importante. Porquê quem está indiferente para a sua situação pode ser seu aliado pelo simples fato de que não está atrapalhando.

ESTRATÉGIA E TÁTICAS

Qualquer uso de estratégia ou tática depende de experiência anterior e pessoal "treinado". Treinado não quer dizer que tal curso exista. Trata-se de ter experiência de vida que permita a uma pessoa avaliar a situação, colocar os sentimentos de lado e agir de acordo com um plano. Até para não fazer absolutamente nada é necessário cabeças pensando. O grande perigo é que em discussões, tudo é "faca de dois gumes". Pode cortar o adversário ou cortar você.

Reação

Estratégia mais comum é deixar acontecer. Não reagir e esperar a poeira baixar. Mas há várias formas de não reagir. Existe o:

- Não reagir. Ou "Quanto menos mexe, menos fede". Funciona em muitos casos. Mas não soluciona, apenas limita o crescimento do problema.

- Reação indireta. Não tomar atitude visível que aumente o problema. Fazer algo que funcione, mas por debaixo do pano.

- Esvaziar o motivo. Funciona quando a especulação é muito grande. Aí simplesmente se toma exatamente a atitude a qual se deveria combater.

- Terrorismo. No sentido de amedrontar. Se as opiniões não se polarizaram contra ou a favor (a discussão está no início) pode-se ameaçar com atitudes legais, éticas ou anti-éticas.

- Acordo. Se existe possibilidade de acordo, tudo foi jogo de poder.

- Contra-propaganda. Precisa de muito jogo de cintura para produzir algo verídico ou não, que esvazie a discussão.

Tudo isso acima são algumas possibilidades. A questão é o canal de comunicação que será usado para atingir os objetivos. Quem tem acesso a um canal pode ficar despreocupado. Essa é a razão pela qual existe tanta rádio-pirata ou canal de televisão legalizados na mão de políticos. Chateaubriand (vulgo "Chatô") sabia do poder da Imprensa para se fazer qualquer coisa, vide o livro "Chatô". Quando era do interesse do empresário conseguir mais dinheiro de anunciante para algum jornal ou revista, simplesmente fazia uma campanha de difamação contra algum empresário. No caso de uma pílula muito usada como analgésico, começou-se a divulgar casos de envenenamento.

Objetos de poder

Toda ação de propaganda visa a manipulação de atitudes do público consumidor. Em outras palavras, um escândalo só é escândalo quando o contexto, o alvo, uma série de fatores em suma, provocam reação do público. O "estopim" que acende essa condição de espalhafato é um objeto de poder. Uma série de fotos comprometedoras espalhadas pela Internet, como acontece no filme "Ligações Perigosas", "Valmont" ou "Segundas Intenções" (na minha opinião o melhor), todos baseados na obra de Choderlos de Laclos.

Comunicação em código

Em público, pode ser útil desenvolver uma espécie de código ou forma de comunicação para que seus familiares e amigos saibam que tem repórter ou intruso na área. Vai haver horas em que é necessário falar no telefone com gente escutando e quem é que pode confiar nas pessoas que podem estar ouvindo?

O outro lado da história é descobrir o código do inimigo ou do público. Porquê as pessoas não falam só com a boca. Qualquer coisa que aconteça pode ou não conter uma mensagem ou ser analisada como reação.

SEQÜELAS

É um assunto amplo. Mas ser vítima de perseguição ou de espalhafato é algo que pode deixar marcas difíceis de apagar. A pessoa vê amigos virando as costas ou mesmo renegando a amizade. Isso num momento em que se precisa de apoio. Aí vêm a 2a parte da coisa, que é tentar entender (não que isso ajude a aceitar) a vulnerabilidade envolvida. É possível aprender coisas novas com isso. Não necessariamente vai se gostar daquilo que se aprendeu.

No caso dos exemplos (que são reais)

1) A pessoa em questão conseguiu conversar com os pais da menina e a "chantagem" (tinha bilhete com pedido de dinheiro e tudo) parou. Caso de escrever livro, esta experiência. Interessante foi que a 2a pessoa a se relacionar com a menina também passou pela experiência de pseudo-gravidez dela. Na 3a ela conseguiu: engravidou de um politécnico que tinha moradia. Menina. Mais três ou quatro anos de convivência até separação.

2) O sujeito passou por várias provocações mas manteve a queixa na polícia. A tentativa de se transformar em vítima perante a justiça fracassou. Após 2 anos de tramitação, o caso foi a julgamento e o acusado foi condenado à pena alternativa, perdeu a primariedade. Mas continuou falando mal para Deus e o mundo sobre o outro cara que espancou por motivos fúteis.

3) Não houve tentativa de fazer o cara se retratar (difamação). Principalmente por conta do período de provas em que a situação ocorreu. Mesmo porquê, só existe multa e a forma que a difamação foi realizada tornava difícil a condenação.

4) O cara que fez a tal reclamação tinha sido suspenso por 6 meses na faculdade dele por conta de estar relacionado a atos de vandalismo. A turminha de sociopatas dele chegou a comprar um carro no ferro-velho e incendiar na porta da faculdade, só para falar que não estava de brincadeira. A alegação de que o sistemas de notas da faculdade pudesse ser violado foi facilmente desementida.

Bibliografia:

Bíblia Sagrada (em português)

http://www.idm.pt/biblia/00Biblia.htm

Casos de invasão da intimidade ou destruição da reputação da pessoa http://www.unb.br/fac/sos/casos/100casos.htm

Estratégias para a Promoção dos Direitos Humanos dos Homossexuais no Brasil http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2002/02/18020.shtml

Sobre o filme "Beijo no Asfalto", feito a partir da peça de Nelson Rodrigues http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/beijo-no-asfalto/beijo-no-asfalto.htm

Filme de Spike Lee, Verão de Sam http://www.geocities.com/Hollywood/Location/9137/summer_of_sam.htm

Artigo em inglês sobre o livro de Laclos, Ligações Perigosas http://www.shared-visions.com/explore/literature/DangerousLiasons.htm

Filme "Segundas Intenções". Um bom site em português http://segundasnanet.tripod.com/

Filme "Muito além do cidadão Kane http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2003/08/260618.shtml

(*) Gilberto Dimenstein, num livro contou que o autor dessa frase é outra pessoa mas como não confio em jornalista, vai a versão que ouvi.

(**) No filme "Beijo no Asfalto", o cara tá morrendo na rua. Um sujeito passa, se solidariza e resolve atender ao último pedido do moribundo, um beijo na boca. Só que é flagrado fazendo isso. Aí começa o martírio, sai no jornal, todo mundo chama o cara de tudo quanto é coisa.