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BARATA ELÉTRICA - UMA RETROSPECTIVA

Derneval R.R. Cunha

Gênesis

No início, os bytes andavam para lá e pra cá. Desordenados, uma bagunça. Até que alguém fez uma ordem nessa bagunça e chamou de Unix. Foi o primeiro então se chamou de root. Legal. Resolveu melhorar. Fez o domínio .CEU. O tempo foi passando, fez montes de coisas mas achou pouco e resolveu fazer o sistema paraiso.ceu. Criou o primeiro usuário. adao@paraiso.ceu. Viu que sozinho não era uma boa, então criou eva@paraiso.ceu. E por aí foi. O problema aconteceu quando alguém botou idéia na cabeça do adao@paraiso.ceu. Junto com eva@paraiso.ceu e serpente@inferno.null, tentaram conseguir acesso a conhecimentos proibidos, aspirando serem iguais a root@paraiso.ceu. Problema: foram descobertos. E expulsos do sistema.

Bom essa é outra forma de enxergar o livro do Gênesis.

Qual é o problema?

Vejamos por exemplo uma matéria que ninguém mais comenta:

"Polícia já tem o paradeiro do casal que se conheceu pela Internet. Eles estão no Nordeste, pagando as despesas com cheques sem fundo"

Olhando bem, temos um caso de estelionato e falsidade ideológica. Simplesmente o sujeito jogou montes de informação, criou para a mulher um mundo onde ele era o rei e convidou a mulhler para participar dele. A mulher se deixou iludir e "comprou gato por lebre". Poderia ser verdade. O sonho da Cinderela, achar o príncipe encantado. Chegando em goiânia, ela confessou que que a foto era de quando "estava mais magra" e embarcou numa "lua de mel" com alguém que pensava ser fazendeiro. Que na verdade vivia as custas do pai, um professor aposentado.Nenhuma diferença com o que muitas vezes acontece mesmo sem a Internet. Descobriram que o fazendeiro não era fazendeiro e que as despesas do casal estavam sendo pagas pela menina. O sujeito roubou 2 folhas de cheque dela e depositou em outra conta dela. Como foram descobertos? O cara falou para ela mudar o número do celular, largar o emprego, foram viajar sem avisar a família, que achou que tinha acontecido alguma coisa. Virou notícia de televisão, o sumiço. Foram descobertos no Ceará.

Um "golpe" que começou pela Internet. A Internet, nesse caso, foi uma ferramenta que aproximou o casal. Apenas uma ferramenta.

Fantasia e realidade

Não se discutiu mais esse tipo de coisa. O assunto esgotou-se. Mas outros começaram a surgir. Na época, a Internet comercial não tinha muito tempo. Qualquer tipo de notícia servia para alimentar o interesse pelo assunto. Qual eram as referências, para quem estava começando? O telefone, a televisão e as revistas. Um ou outro filme explorava o tema, como "A Rede", com a atriz Sandra Bullock sofrendo uma série de perseguições, ataques feitos via vírus, telefone e computador. O inimigo, aquele carinha ou grupo de carinhas que dominavam o computador e dominando o computador, usavam para fins malignos.

Até se pode desculpar os jornalistas, até um certo ponto. Uma boa quantidade deles são apenas office-boys da notícia, o editor manda ou encomenda uma história assim ou assado e eles vão produzir uma história ao gosto do freguês. Se o que encontram não é aquilo que foi encomendado, simplesmente torcem o texto para que pareça diferente. A história tem que vender. Porquê o anunciante quer ver o anúncio dele de um determinado jeito e não de outro. E a coisa várias vezes também lembra uma frase que li "jornalista é gente que não sabe escrever entrevistando gente que não sabe falar para pessoas que não sabem ler". Tá meio zoada a frase e não me lembro o autor, mas é por aí.

Você não aparece no jornal, você divulga um produto seu no jornal.

Início do fanzine

Então quando eu comecei a escrever sobre o assunto, descobri rapidinho que não conseguiria publicar. A não ser que fizesse mudanças radicais pra que imbecis pudessem ler. E tornar a matéria interessante. Ainda assim não teria certeza se conseguiria ou não publicar.

Encontrar novas formas de uso para ferramentas é característico do "hacker". hacking. adj. 1. que corta, entalha, pica (dicionário Michaelis - English Portuguese - 21a edição - junho de 1977). Na verdade, foi com essa idéia que tudo começou. Então, não tendo dinheiro nem condição muito menos conhecimentos de editoração para fazer uma publicação em papel, resolvi usar a Internet para divulgar o próprio estilo de vida que pensava que algumas outras pessoas já tinham adotado. A emenda saiu melhor do que o soneto. Escrevi o que sabia, para o público igual a mim, usando uma ferramenta para divulgar que era a melhor.

Não contava com o fato de que era melhor ter arrumado outro nome. Já que o que ficou na memória das pessoas foi o que o dicionário Aurélio colocou: (hacker (ing) s.m. Violador de um sistema de computação - Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa - Editora Nova Fronteira - 1990). Uma última edição do dicionário colocou o significado completo tal como coloquei no primeiro número do fanzine. Edição mais nova até já coloca o significado que estava no primeiro número do fanzine. Não falo da última edição porquê ouvi falar que a editora Nova Fronteira não ia continuar a publicar. Nunca fui muito de procurar palavra em dicionário, de qualquer jeito.

Mas era bem interessante juntar gente para trocar experiências. Fazer um fanzine pra não ter que repetir tudo o que eu pensava. O ideal seria fazer copiando algo famoso, como os fanzines que eu estava fazendo download da Electronic Frontier Foundation. Mas fazer algo como aqueles fanzines, só se eu fosse doido. A Internet estava começando no Brasil. Vários daqueles fanzines abordavam em profundidade várias técnicas que inviabilizariam a implantação. Por outro lado, nenhuma cópia fica igual. O que eu vi na Argentina me interessava. O que li sobre a Holanda me interessava. O que estava acontecendo nos EUA também me interessava.

Mas achei que o melhor seria algo que desse um pouco de consciência para o pessoal que entrava na Internet e se interessava por coisas que não estavam na mídia. Achava que alertar o pessoal para os perigos da Internet era uma boa. Fazer com que as pessoas se ligassem. Não brincassem com um revólver carregado. Naquele tempo, eu tinha tempo de computador. E estava ganhando bem. Consumia um absurdo de café, chá, pepsi, coca-cola, vitamina-E e outras coisinhas que não vou nem comentar. Lia livros tipo um manual do usuário da Internet (Big Dummy Guide) em 2 ou 3 noites. Tinha coisa pra contar e parecia que tinha gente que queria ler sobre o assunto. Não acessava por telefone, era direto.

Chato que no lado financeiro, não havia compensação para o que eu estava fazendo. Então decidi que era interessante escrever sem esperança de retorno. Sim, porquê a estrutura para transformar o fanzine em publicação comercial iria complicar muito. Erro? Talvez. Não havia ninguém para ajudar. (A turminha de ratos de computador que conheci não tinha tempo nem iniciativa nem para escrever artigos - mas ficavam pressionando pra lançar logo a publicação). Nunca havia feito isso antes. Não tinha advogado para consultar. O máximo que poderia fazer era procurar ler sobre o assunto antes.

Mas o que me desanimou foi o fato de ter a legislação contra mim. Sim, a legislação. Li o Código Penal, o Código de Processo Penal, a Constituição, vários textos jurídicos. E a lei da Imprensa e também o Direito Autoral. Parecia que o único jeito de não ser incomodado por advogados era escrever pensando em tudo isso. Auto-censura incrível. Outra coisa é o lance de que não basta a coisa não ser crime. Tem que pensar também no pessoal imbecil, os analfabetos funcionais, gente que lê e pensa que entendeu. Teve gente que leu a reportagem de um tal Carlos Graieb que me dá muita vontade de processar. O jornalista não enviou o texto final para minha apreciação, antes da publicação, como prometeu. E houve gente me apontando como "pirata cibernético". Meu email na USP era monitorado sem dúvida alguma. E claro que eu não invadia computadores. Nem se eu tivesse tempo pra isso. Dentro da USP eu teria sido pego e meu acesso cortado.

Enfim, divulgar o fanzine eu divulguei. Mas paguei o preço da fama. No final consegui o que queria.

Fases do Fanzine

Email

Bom, no início da Internet comercial, o que tinha era email principalmente. E as listas de email eram o "point". Via email vc acessava o potencial da Internet. Normalmente a pessoa "assinava", se inscrevia numa lista de discussão, tipo soc.culture.brazil (para ver tópicos brasileiros) ou sei lá, alt.binaries.erotica (para baixar gifs mostrando mulheres bonitas), etc.. tinha um monte de opções. Bom, dentro do soc.culture.brazil newsgroup, até acho que o Barata Elétrica foi bastante lido. De um tamanho reduzido, o fanzine podia ser mandado via email (naquele tempo tinha menos de 40 kbytes de texto). Mais tarde descobri que até mesmo no alt.2600 (newsgroups relacionado a hacking) o fanzine tinha circulado. O que facilitou pra ser o primeiro fanzine nas BBSes também.

Algumas vezes, recebia carta de leitor interessado em ajudar, como essa:

Subject: 
        FAQ Barata
  Date: 
        Fri, 11 Oct 1996 18:38:23 -0400
  From: 
        ?????????  <??????@?????.com.br>
                  
Caro Derneval:

Lendo a FAQ sobre o Barata Elétrica encontrei duas coisa interessantes
no mesmo; 1) Colaboracao para distribuir o zine; 2)Escrever para o zine.
Quanto a primeira opcao, gostaria que colocasse o meu nome e endereco de
e-mail para que possa colaborar contigo, pois acredito muito em seu trabalho
e tambem acredito que so poderemos "aprender" verdadeiramente se tivermos
pessoas com vontade de trabalhar. PARABENS!
Quanto a segunda, trabalho com informatica ha 10 anos +- e neste meio tempo
aprendi muitas coisas interessantes e continuo aprendendo. Nao sei se o
meu conhecimento sobre computadores serva para ser passado a outras pessoas
e tambem nao sei se sou hacker. Digo isto porque estamos acostumados a ver
filmes onde garotos abrem caixas eletronicos, entram em computadores, etc.
Sera que sou mesmo um hacker? nao sei fazer estas coisas, mas sei driblar
muitos programas que as vezes enchem o saco.
Caso seja interessante, diga-me que tipo de artigo e legal. ja digo de antemao
que passo o dia inteiro escrevendo e adoro isto, por isto nao tem problema
nenhum para mim.
Um forte abraco e continue assim
Ate

Paulino Michelazzo

Nem todo mundo eu aceitava ajuda ou publicava email. Para mim, era uma espécie de serviço de utilidade pública. Informal. No sentido de fazer alertas para as pessoas não entrarem em frias. Como não era um fanzine pago, tava liberada a distribuição, desde que citada a fonte e nada fosse alterado.

Cheguei a colocar o email de pessoas que se prontificaram a ajudar e enviar o fanzine para pessoas que não tivessem condições de fazer o download. Vários nunca mandaram pra ninguém, apenas tinham a comodidade de serem os primeiros a receber o fanzine e terem seu email publicado. Paciência.

Lista Hackers da Unicamp

A Esquina-das-Listas da Unicamp, foi talvez o primeiro veículo de criação e difusão de listas via email no Brasil, . Aliás não sei se foi o primeiro do Brasil mas com certeza tinha interface bem mais fácil para a criação de listas. Não precisava autorização, só escrever um email com subject específico e pronto. Mais uma lista criada. Criado por Marcos José Cândido Euzébio, que também criou o Bazar-da-Usenet, o serviço de listas através do qual eu acessava a Usenet. Ninguém mais lembra desses caras (outro dia tentei oferecer minha coleção de revistas na biblioteca da ECA, alegaram que o conteúdo tava datado e não ia servir pra nada, lá estão todos esses nomes, paciência).

As pessoas começaram a discutir o tema na lista "hackers", que competia em popularidade com outras que tinham apoio de jornal (aliás dependendo do período era a lista com maior número de assinantes). A lista "hackers" continha todo tipo de gente. Não se pode confundir a lista com o fanzine. Talvez um email que tenha descrito a lista de forma legal seria:

submeta hackers

-----BEGIN PGP SIGNED MESSAGE-----
    Eh sempre assim. De vez em quando surgem algumas mensagens aqui
na lista, de pessoas dizendo que querem ser hackers. Estao atras de
qualquer coisa: dicas, enderecos, gurus, etc...

    O problema eh que o pessoal ja comeca mal! Quer que te ensine a
ser hacker? Entao pode ir lendo a proxima mensagem porque nao sou eu
que vou te ensinar (se eh que alguem vai). Mas se quiser ser QUALQUER
COISA, aprenda a ouvir bastante primeiro. Alem disso, pra que serve
um "titulo" de hacker? Pra contar pros amigos???

    Depois de ouvir BASTANTE (mesmo!) voce vai perceber qual eh o
verdadeiro espirito desta lista. Na verdade, o nome da lista nao eh
interpretado direito, e o pessoal acha que os que assinam nao passam
de um bando de vandalos. Esses (os vandalos), sao os babacas dos
crackers (idiotas que nao sabem nada e por isso querem aparecer)! A
imprensa adora esse tipo de gente, principalmente porque faz vender
jornais, revistas, e da audiencia a telejornais com estorias absurdas
(todos lembram do caso do TRE, nao eh?).

    Nao se espante se ao assinar a lista, comecar a receber diversas
mensagens codificadas. Se voce nao conseguir entender o que esta
acontecendo sozinho, nem adianta tentar pedir ajuda. Eh meio radical,
mas a ideia eh essa mesma! Quem nao entender logo (nao eh dificil!)
eh porque nao deve entender mesmo! Eh necessario para dar uma
"filtrada" nas bobagens que de vez em quando aparecem por aqui.

    Mas tambem nao eh pra assustar! Uma lista que nao tem
contribuicoes nao serve pra nada. Perguntas e comentarios
inteligentes, receberao respostas inteligentes... Quantos aos
outros...

    Um bom comeco, nao pra ser hacker (uma formiga nao sai por ai
dizendo que eh formiga, conforme ja disse um amigo nosso...), mas para
participar da lista, de uma procurada pela web em coisas como PGP
(programa de criptografia), BARATA ELETRICA (e-zine sobre hackers, e
nao crackers), etc, etc... Pra entrar no clima, esta bom!

    Sei que muita gente pode se ofender com esse texto, mas espero que
entendam que o objetivo foi evitar que a lista comece novamente a ser
inundada por bobagens. Sei que a maioria vai compreender, apesar de
talves ter sido um pouco "duro" demais... Mandem reply para a lista
para qualquer comentario. Quem sabe assim a gente nao consegue criar
uma lista melhor por aqui?

    Bob Byte

PS: Pelo amor de Deus, nao usem acentuacao, e por favor evitem usar
mais que 70 colunas!!!
PS2: Comecem por http://www.ifi.uio.no/pgp.
PS3: Todas as minhas mensagens serao assinadas, Abaixo vai minha chave
publica.
Tipo Bits/IDChave  Data       Usuario (IDU)
pub  1024/49467389 1997/01/22 Bob Byte

Claro que havia outros tipos de email, inclusive boatos, como:

Email de sujeito irado com o fanzine
From: 
Date: Fri, 27 Sep 1996 15:04:58 -0300
SUBJECT: Fraude nas Eleicoes 96
To: Esquina-das-Listas@dcc.unicamp.br
Subject: 

    Gostariamos de comunicar antecipadamente que havera invasao no sistema de
..Urna Eletronica do TSE. Jah descobrimos algumas maneiras de quebrar o
..sistema e sem duvida o faremos. As eleicoes nao ocorrerao no dia 3 de
..outubro. Podem apostar seus empregos nisso!

Acontecia. Um pessoal com quem tive contato por telefone (houve tempo em que eu tinha caixa postal telefônica e um inteligente passou adiante) me falou que iam eleger o Enéias pra presidente. Só que faltou material humano.

O fanzine porém não era unanimidade. Na verdade, outros fanzines apareceram, alguns falando bem outros nem tanto. Na verdade, começou um movimento para desacreditar minha imagem na Internet (coisa ridícula mas mesmo assim uma tentativa). Quando conversei com o Cshell do fanzine Axur (sim, a gente acabou conversando), a explicação era que falar mal do Derneval era uma necessidade. Se fosse o José, Joaquim ou Wilson que estivessem lá no topo da lista de fanzines mais lidos, ia haver um movimento contra o topo da lista. Levando em conta que meu fanzine era bem comportado (não ensinava técnica de invasão nem vandalismo eletrônico) o que o pessoal atacava era principalmente isso. Mas na lista também o pessoal não se contentava em só fazer retórica. Um cara foi mais enfático e jogou uma bomba de email contra mim. Na verdade, contra todo mundo.

Email de sujeito irado com o fanzine
submeta informatica-jb, hackers, solucionatica-jb, adventistas,
cartas-eroticas, ciberespaco-jb, computacao

Atencao Bando de Lamahs:

A partir de hoje todas as listas acima submetidas estao EXPULSAS da esquina. Os
imbecis que continuarem 
assinados as listas, receberao diariamente uma chuva de mail flood. 500 por dia
ta bom?

Jah cancei dos idiotas frequentadores da lista hackers. A um tempo atraz lancei
um boato de que pararia o 
sistema de urna eletronica do TRE, e todos os imbecis levaram fe... quer maior
prova de lamerzisse doq essa?

E ainda tem completos RETARDADOS NERDS que se julgam os mais poderosos dos
hackers, como o tal do 
Denerval R. R. da Cunha ou algo assim... o cara faz a revista eletronica MAIS
ESCROTA que eu jah vi em todos os 
meus anos de hacking... nunca vi uma revista dedicada a
hack/crack/phreak/anarchy/underground/etc.. mas q nao 
fala de nenhum desses assuntos... soh fala do BABACAO do autor.. q tem muitos
fans... q eh fodao... etc...
Dernerval, vai TOMAR NO CU seu puto.


O resto dos membros nao tem culpa de nada, mas se nao cancelarem a lista
receberao de 500 a 1000 msgs 
diarias... a comecar por hj...

Saudacoes!!
CyberHack

Até que enfim alguém criticava. O fanzine não era unanimidade. Claro que não gostei que me xingassem. Mas do ponto de vista da Internet, o tiro saiu pela culatra.

Email de sujeito irado com o fanzine
Subject: Re: Imbecil
From:   Tom Waits 

At  97 -0200, you wrote:
>Por favor, se alguem descobrir o mail ou o ip daquele imbecil que mandou o
>flood para a Unicamp (um tal de CyberHack), por favor me avise.
>
>Farei o q for possivel para lascar com este cara.
>
>Acho q ele esta mentindo qd diz q foi ele q divulgou o boato do TRE, lembro
>q na epoca o mail do sujeito q divulgou a mensagem foi descoberto. Se foi
>ele mesmo entao alguem deve ter a mensagem do TRE guardada com o mail dele.
>
>Independente da qualidade das contribuicoes a esquina das listas eh um dos
>mais importantes servicos de informacao da net no Brasil. Este tipo de coisa
>nao pode ser tolerada, corremos o risco de outros idiotas seguirem o
>idiota-mor do CyberHack.
>
>Que imbecil... Ainda se diz hacker...
>
>[]'s
>

Atencao pessoal, 

Nao vou nem comentar a atitude deste anincefalo.
Quem conseguir descobrir qualquer coisa a respeito desse cara, nao
tentem fazer mail flood pra ele ou coisas do genero.
Tentem pegar amizade com ele e me avisem que eu preparo um Trojan
disfarcado de programa de Cartao de credito e ai a gente formata
a winchester dele. Mandem fingindo que eh o ultimo prg de CC
e que tem bancos nacionais, etc.
Ai depois que a gente fizer isso, combinas um dia em que todo mundo
use um mail-bomber no mesmo dia pra entupir a caixa dele com umas
10 mil mensagens. E depois que a gente descobrir o servidor que
ele utiliza, a gente divulga o IP e ensina pra todo mundo da lista
aquela tecnica de utilizar o Ping do Win95 pra derrubar os servidores.
O cara nunca mais vai acessar a net na vida dele.
Tentem procurar nos servidores brasileiros de IRC.
Se alguem tiver alguma outra ideia boa, manda pra lista.

{}'s
Tom Waits

Tom Waits (já encontrei ao vivo no Madame Satã) era um dos que falavam contra mim antes. Também o autor de um texto sobre telefonia o qual vou comentar mais tarde em livro.

Ftp site e Web site

Por conta de uma invasão num site internet e a publicação da existência do fanzine num jornal de grande circulação, alguém da USP me pediu para não usar os computadores da USP para distribuir o fanzine. Eu enviava antes via email para todo mundo, era mais fácil. Comecei a usar meu email na Alemanha (legalmente obtido). Mas eram horas pra mandar cada edição. Usar a listsa hackers também foi usado. Mas achei que era saco. Gozado que levei tempo para sair perguntando. Consegui colocar em vários ftp sites, simplesmente expondo o problema e pedindo ajuda. Mas o melhor foi colocar na EFF (Electronic Frontier Foundation). Houve um conterrâneo que colocou na página dele na Unicamp, outro amigo que colocou na UFBA, em vários sites. Mas o melhor mesmo foi o da UFSC, que na época em que perguntei tinha até um sebo virtual. Perguntei, o cara topou e lá comecei a colocar o fanzine. Precisava encontrar o cara e agradecer de novo. Houve época em que falaram em tirar porquê não tinha quem assumisse a responsabilidade, eu falava que assumia, só não tinha senha para entrar lá. Me deram as dicas de como fazer a coisa, tá lá até hoje.

Divulgação na Super Interessante

Curioso, preciso agradecer à pessoa da USP que proibiu que eu usasse os micros da USP pra distribuir. Se o CCE da USP não tivesse feito isso, a revista teria publicado meu email e eu não ia dar conta de mandar o fanzine para todo mundo que acessou. Na verdade, aconteceu muita coisa. O que ficou mesmo na memória foi o site da EFF, por conta da divulgação na Super Interessante.

Outras revistas

Houve outras revistas. Algumas divulgaram, outras não. Uma das primeiras revistas da Internet brasileira me contatou para que eu escrevesse alguma coisa. Só que só pagava se fosse reportagem. Escrevi um trocinho. O editor, muito conhecido por conta das experiências dele como jornalista, mandou que eu usasse nickname. Usei Goodhack. Só que o cara, espertamente alterou o meu texto. E colocou como se fosse reportagem. Ou seja, não vi a cor do dinheiro e ainda não tive reconhecimento que merecia como autor. Ainda tenho emails dessa coisa toda. Mais não vou falar.

Quando outros jornalistas vieram me pedir colaboração para reportagens, comecei a recusar direto. Se bem que houve ocasiões em que me arrependi. No geral, não vale a pena. Querem artigos interessantes de graça. A tendência é o jornalista distorcer o que vc fala e usar uma frase do que vc falou para ilustração. Falam mal a reportagem inteira e no final colocam sua frase. Aí podem dizer que é imprensa imparcial, porquê "ouviu os dois lados".

Outro até queria me pagar por artigos. Mas só depois que a revista fosse às bancas. Mas era uma micharia.. Claro que se eu escrevesse o artigo, era coisa que podia ser usado em livro, como vi acontecer. Tô até hoje xingando porquê apaguei os emails desse cara. Ia publicar na Internet.

Algumas publicações onde houve referência boa ao fanzine foram:

Sempre recusei publicações comerciais para não melar a fronteira entre fanzine e revista.

Resposta do leitores

Nossa, isso está ficando comprido...

Os leitores escreviam (hoje nem tanto). A grande maioria me escreviam emails desse tipo:

Email de sujeito pedindo ajuda
??????? 
 
Caro Amigo estive lendo o seus publicados eu me interresso a muito tempo sobre a tecnia Hacker
eu teho 20 anos moro em Salvador e gostaria de ser um dos seus discipulos nessa Hacking de vida
mais pra que isso acontece gostaria que vc manda-se para mim algumas infrmações Uteis que
os outros caras se auto etitula mais na verdade eles não são nada tenho muitas poucas informações
!
 
Me ajude Plis!
Do seu mais novo aliado ????? ????? e seus Aliados baianos 
 
Opss: Gostaria que vc me ajuda-se com um cara que se chama ???????? ele me derrubou 2
vezes pelo icq! gostaria de me vingar detonando o site dele www.?????????.kit.net se vc e um guro
vc poderá me ajudar se vc e um hacker vc será meu amigo! 
 
Hacker na verdade não é so um modo de vida mais um modo de sobrevivencia! 

Havia época em que eram 3 emails por dia. Não nunca pensei em faturar em cima desses caras. Principalmente porquê nenhum falou em pagar pelos conhecimentos. Acho que se falassem em pagar eu também não ensinava.

Como percebi que meus artigos poderiam ser pirateados (copiados, reescritos e usados em outros textos, sem menção do autor original), resolvi que ia me distanciar um pouco do tema segurança informática, underground e adotar o mesmo tipo de enfoque em outros tipos de conhecimentos, então fui atrás de textos que fossem úteis mas não gerassem acusações de "apologia ao crime". Mesmo porquê escrever do jeito que escrevo já é difícil. Com medo da polícia então nem se fala. Com medo de ser sequestrado para resolver problema de bandido então nem se fala.

Alguns deles geraram uma resposta legal, como a série onde me propus ajudar outras pessoas com dificuldades de relacionamento a encontrar sua metade (eu já tive problema, aliás ainda tenho). Então fiz coisa como "Manual de Paquera". Um fã me acusou de transformar o fanzine em revista Capricho. Não sei. Alguns gostaram. Uma "amiga" (hoje eu mudo de rua se vejo ela no caminho) a quem pedi pra comentar o artigo, me mandou o seguinte email.

Subject: como paquerar um nerd
  
  From: ??????? ??????? <????????@yahoo.com.br>
    To: derneval@gmail.com


Demerval, Demerval...

Estou aqui comendo meus dedos para não digitar uma série de impropérios 
para você. Vou tentar me acalmar. Por mais que a sua explicação no final 
de "não acho mulher menos inteligente que homem", eu juro que lhe batia 
quando cheguei no "para fins de namoro, a mulher é menos inteligente do 
que o homem (e se não concorda, porque está lendo isso?(*))". Estava 
lendo pq vc me falou pra ler seu &%$&#&R&*&(*&!!!!!!!!!!!!
Olha, com calma agora. Acho, sinceramente, que esta sua opinião é vista 
do lado do nerd. Acho que vc é o nerd ali descrito, e realmente e 
infelizmente existem muitos assim, com estas ideias machistas e o pior, 
jurando que não são. Cansei de ver nerd reclamando e xingando aquelas 
loiras de micro saia ou top rebolando no pagode pq elas só queriam saber 
de marombeiro, surfista, pagodeiro, enquanto eles não queriam nem saber 
da menina de óculos da sala de aula. Eu dizia bem feito, fica sozinho 
mesmo, vai pra casa ver filme porno sozinho seu trouxa. Este texto é 
horrivel, pq vc espera convencer um público que não tá nem aih... Vc 
esteriotipa todas as mulheres como só se importando com caras sarados e 
inúteis.
... ...
etc..
???????

Puxa, não sabia o que dizer. Sempre as meninas racharam o bico, é o texto que mais recomendo. Escrevi comentando que realmente ela estava certa, que tudo isso era fruto de minha educação retrógrada e moralista e por aí. Ela podia ter acertado meu nome, pelo menos. O pior é que houve menina de óculos na minha vida (última esperança, na época) mas ela se sentava perto do professor, no fundo ficava é a bagunça. Bom, pelo menos essa leitora criticou. De qualquer forma, pedir para uma feminista ler meus textos foi dose. Outra lição de vida.

Procurando emprego

De acordo com o que li, segurança informática parece ser a grande esperança, tanto aqui como nos EUA. Aqui, com certeza eu teria QI (Quem Indica) para começar a brincar disso. Só que trata-se de um trabalho bem pesado, precisa de atualização constante. E em algumas ocasiões, o cliente que mais reclama  (e pode fazer sua caveira para outros clientes) é o que menos paga. Há casos de gente que mesmo quando paga, ainda dá um jeito para que o dinheiro entre na sua conta depois do planejado.

A melhor história que vi sobre isso foi um sujeito que entrou de sociedade com um cara numa BBS. Deixou ela impenetrável. O cara dissolveu a sociedade e vendeu a BBS e não deu grana pro cara que protegeu. Traição desse tipo já aconteceu até com uma empresa famosa de segurança informática. Empregado traído faz coisas incríveis. Bom, isso fica pro livro.

Outra foi a história de um sujeito (aqui em SP) que deu uma de bonzinho e avisou que o site X estava com problema de falha de segurança. Engrupiram o sujeito com a história de que ele podia ganhar dinheiro com aquele "reparo". Não sei a história direito mas o que ouvi é que ele mordeu a isca e aceitou dinheiro, então foi preso sob acusação de "extorsão". Acho que foi pra cadeia mesmo sendo primário. Tinha até a revista que descrevia o caso, cheguei a pensar em entrevistar mas na época em que aconteceu eu estava fazendo mestrado. Desisti. Nem lembro se comentei no fanzine.

Eventos

Participei de vários mas não vou escrever aqui o que já está nas páginas do fanzine. E de qualquer forma, tô com preguiça, melhor deixar para o livro.

Carreira Acadêmica

Ter coisa publicada me ajudou muito a conseguir o mestrado. Minha idéia era fazer pós-graduação estudando o tema hackers. Mas o mestrado que fiz foi em cima de Chê Guevara e a orientadora realmente era alguém legal. Então fui até o fim. Melhor ter alguma coisa publicada do que nada. Mas fazer o mestrado sem bolsa foi bastante difícil. Na verdade, tem horas que eu acho que não deveria ter feito. Porquê não ficou o ideal. Mas acho que todo mundo tem esse pensamento quando termina. Minha desculpa é que fiz sem bolsa. Não chega a ser desculpa. Tá bom, comecei outra faculdade no meio do mestrado. Sei lá. Mas pelo menos estou aguardando pra melhorar antes de pensar em publicar.

Melhor do que um cara que conheci pessoalmente (o ideal era nem ter conhecido) que fez mestrado em cima do tema. E veio pedir minha ajuda. Claro que testei o cara. Como não. Descobri que a idéia do cara era publicar depois (e lógico, faturar). Não gostei. Porquê tudo depende do que o cara vai publicar. Não fui o único que recusou ajuda. Meu Deus do céu.. cada panaca que faz trabalho acadêmico sobre "hacker".O mais interessante é que ele usou vários recursos para não colocar meu nome na bibliografia do trabalho.

Bom, o sujeito que fizer trabalho acadêmico sobre o assunto aqui no Brasil e sobre o panorama brasileiro e não mencionar o fanzine Barata Elétrica está incompleto. De acordo com o que aprendi sobre metodologia, é obrigatório mencionar ou fazer referência mesmo que não concorde. Mas tudo bem, recusei a ajudar, ele tirou meu nome da publicação. Quando li a caca que ele fez, puxa vida.. melhor assim. O estudo de caso do sujeito não tem nem 15 pessoas (uma delas só eu posso provar se existe ou não). E eu sei que o cara teve bolsa. Como o sujeito quer descrever "hacker" se ainda por cima se nem a maioria dessas pessoas tinham algo a ver com o assunto. O livro dele ainda tem coisa do tipo "hacker hoje tem filho". O pior é que conheço vários dos caras que toparam dar entrevista então posso apontar e falar coisas que invalidam a escolha de entrevistas.

Pasmem, tô sabendo que o cara está dando aula em faculdade. E não é nem faculdade, é universidade. De renome. Professor desse tipo (na minha opinião) combina com o aluno típico atrás não do conhecimento mas do canudo, do diploma, da prova que fez faculdade. Então o cara copia o trabalho de conclusão de curso de alguém da USP ou outra faculdade qualquer de renome, altera o texto, apresenta como se fosse seu, pronto. Mas estou sendo pessimista, o cara pode ser bom professor de sei lá o quê, só precisava de um "canudo" para comprovar.

A nível de doutorando, parece que teve alguém em São Paulo que fez outro trabalho acadêmico em cima. Bom, não terminei de ler ainda (tô lendo o Senhor dos Anéis). Mas essa figura também não mencionou a minha pessoa na biografia. Só porque não ajudei. Puxa, com minha ajuda ficaria mais fácil, né? Mas também não menciona fanzine brasileiro nenhum na bibliografia.

Seleção para doutorado

Minhas tentativas de conseguir o doutorado não tiveram sucesso. Faltou QI. Acho que tem mais alguma coisa rolando por debaixo do pano. Acho que tentei umas 5 vezes vários processos de seleção para matérias como aluno ouvinte (agora não só tem que pagar como também tem processo seletivo) e mesmo tendo conversado com o professor antes, não fui aceito.

Os processos seletivos para doutorado foram um pouco piores. Cada coisa tão ridícula. Vários professores eu tentei. Houve quem falasse comigo na entrevista com o possível orientador como se já soubesse da minha existência. E não me topasse. Outro, porquê mencionei que morava no CRUSP. Outro foi em História da Cultura. No horário marcado para entrevista (já tinha passado nas provas) estava atendendo um vendedor de enciclópedias e me mandou esperar. O próprio Sevcenko nem respondeu meu email (sim, eu consegui o email dele na AOL) mas até aí ele deve ter fila para 5 anos de orientação pra doutorado.

Isso aconteceu mesmo tentando vários cursos, várias faculdades e até mesmo doutorados com outros temas. Oferta para ser orientado em outras universidades apareceram, como fazer doutorado em Educação na Unicamp. Usando o fanzine como tema. Mas o problema é complexo, mudar de cidade é fogo. Precisa ter dinheiro sobrando. E pra fazer dinheiro mesmo eu teria que ir dar aula, fazer coisas que iam modificar tudo. E pra modificar tudo, o ideal seria tentar na UFSC que tem certa fama e onde acho que não pintaria preconceito. Ou viajar pro exterior, logo de cara. O que não é má idéia.

Pesquisar hackers pode ser vital para o Brasil e isso eu já fazia bem antes de todo mundo. Agora, baixaram uma legislação da qual pouquíssima gente está falando, sobre a governança da Internet. Só para se ter uma idéia, foi coisa do próprio José Dirceu. Colocaram o dono ou diretor do IG.com.br como o personagem conhecedor da Internet (eu não tô com o texto aqui nem lembro dos detalhes mas é alguém conhecido por entender da tecnologia) como parte de um comitê para avaliar isso. Não sei se já mudou mas esse tipo de acontecimento não está recebendo quase nenhuma cobertura da imprensa.

Desconfio que quem tiver o canudo do doutorado e mais alguma coisa (aquele algo mais) pode aspirar a alguma influência quanto ao futuro da Internet no Brasil. Não há grana mas há vantagens. Me parece que já houve uso de influência dentro do tal comitê para tirar um provedor da lista de enviadores de spam, não sei se entendi direito. Então pode estar acontecendo por debaixo do pano uma briga por títulos relacionados a conhecimento de Internet. Mas é pura especulação minha. Um cara que conheci na Alemanha em 1995, conhecido por conta do Chaos Computer Club tava fazendo consultoria pra ONU em outro tópico da Internet (mas falar disso é coisa pra um artigo inteiro).

Afora isso, o que mais tem é gente tentando usar o tema hacker para impulsionar trabalhos acadêmicos. A Internet realmente é um celeiro de coisas interessantes. Mas as vezes rolam umas coisas pra lá de ridículas. Houve um sujeito da PUC, acho, que estava dando uma palestra sobre blogs, passado, presente e futuro. Quando chegou no final da palestra, montes de blogueiros na platéia (ele pediu pra levantar a mão quem fosse), chegou o momento das perguntas, ele resolveu transformar em bate-papo e perguntou na opinião da platéia, quais os critérios para definir um blog bom. Simples, né? Dita aí pra mim o que vcs acham. Me passa a cola do que eu vou escrever amanhã no meu trabalho acadêmico.

Noutro campo, teve uma tal de Gi-qualquer coisa que falou montes sobre vírus um tempo atrás, em jornal, aproveitando a onda de um vírus de email que estava acontecendo. SP, também. Ridículo o que ela falou, como tem gente que se mete a falar de vírus sem fazer pesquisa direito. Óbvio que falando de vírus ela estava divulgando o nome dela. Mas foi tanta besteira. E uma conclusão idiota. Naquele espírito: se a primeira metade do que escreve parece fazer sentido, o resto não importa. Doutorado na USP mas com uma redação dessas, acho que nem na FUVEST. Escrevi no blog algumas das correções. Mas considerando que o jornal que publicou a notinha dela apoiou o Maluf contra a Marta pra prefeitura, tudo é válido. O que importa é a titulação da pessoa que está escrevendo, não o conteúdo. Na opinião desse jornal, pelo menos.

Aconteceu um encontro alternativo que discutia várias correntes, desde fanzine até software livre. No MIS. Super legal a organização desse encontro. Só que alguns dos palestrantes, nem vou comentar. Tinha um cara lá que falou que tinha conseguido fazer um curso no MIT mas eu tentei aprofundar o assunto ele não detalhou. Doutorado no MIT? E falar as besteiras que ele falou sobre hacker? Gente, eu fui na palestra e o cara falou tanta besteira que eu acho que era pra me forçar a entrar no papo, era provocação. Ele fez de conta que eu não falei nada, não tentou me corrigir. Eu ia detonar com a panca dele. Foda.. Depois até conversei com ele na saída, peraí, doutorado no MIT (eu talvez até lambesse os pés dele se isso fosse verdade) mas o cara desconversou. Acho que ele soltou isso naquele espírito: o importante é falar como se fosse importante mesmo que não signifique absolutamente nada. A maior parte do público é incompetente para avaliar mesmo..

O pior foi outra palestra no SENAC onde o sujeito começou a primeira metade falando coisa correta, tudo bem. Coisas com as quais eu concordava. Chegou na 2a parte da palestra era auto-promoção, auto-divulgação e besteira. E pra se justificar falava que "na Internet os direitos autorais não são importantes". Justificava com o Napster. Puxa, quer dizer que o fato de um garoto baixar uma música sem pagar justifica o roubo de texto ou projeto de outra pessoa sem dar o devido reconhecimento. Pelo jeito que o cara estava falando, era OK ele implantar o projeto ligeiramente modificado de outra pessoa sem dar o crédito. Pelo que sei o garoto vai baixar músicas da Madonna ou de outros conjuntos famosos. Difícil baixar de gente que ele nem sabe quem é. Mas voltando à palestra, o palestrante falava que baixar música sem pagar é ser hacker.

Ah, ia esquecendo do pessoal que usa hacker, a palavra "hacker" para justificar novos tipos de métodos de divulgação. Esse daí fez o mestrado até mesmo numa faculdade de renome. Mas para que dar o nome de "hacker" a um sistema se não for "marketing". E pior, o cara se gabando de que é "hacker" o que ele faz.

Aí fica a pergunta: porquê não dar nome aos bois? Pra quê, propaganda gratuita? Falar mal da pessoa já é propaganda. Se eu identificar, posso até ter que dar espaço de resposta. E aí o cara capricha, faz de conta que nunca falou besteira na vida. Se eu for falar desse pessoal acadêmico vou acabar me lembrando de um versinho que aprendi muito tempo atrás. O professor tentava ensinar lógica pra gente. O que era e o que não era lógica. Aí a lógica do "surfista" estudando pro vestibular..

Estudo é luz
Luz é energia
Economize energia pra ir bem na prova
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"Hacker" é uma palavra que caiu no gosto do público. Pode ser usada para qualquer coisa, pelo jeito. Algum dia vai ter creme dental "hacker". Aquele creme dental que vc pode usar para "lavar" o CD riscado e extrair informação perdida. Vou até registrar o slogan.

Escrevendo livro

Houve um texto em que pensei em usar qualquer para começar a entrar no mercado editorial. Apesar que se quisesse bastava reunir meia dúzia de artigos e publicar. Mas toda vez que tento fazer isso só dá é raiva e frustração. As editoras querem o mesmo que os editores de jornal: coisa que venda. Com o meu Curriculum Vitae, eu consigo publicar. Nesse caso, o engano é dos caras, que confundem editor de fanzine sobre hacking com hacker. Mas ao contrário de autores iniciantes, consigo que pelo menos leiam o que eu escrevo. Desde que seja sobre... "hacker". Fui numa editora famosa e pedi pra ver o contrato antes. Nem mandei os originais, me mandaram o contrato, um rascunho dele, para ler. Putz, tô relendo até hoje. A linguagem do contrato é escrita de tal forma que parece perfeita. Mas só parece. Só que tem coisa que não dá.

A mulher me manda um contrato. No contrato está escrito que o prazo mínimo pra publicação é de 6 meses. A pessoa comum lê o contrato e entende "a editora se compromete a colocar o livro na banca num prazo mínimo de 6 meses". Ok, só que isso pode ser interpretado que não existe prazo máximo para este livro chegar às bancas. Qualé o prazo máximo? Não está no contrato. Até aí, tudo bem. Mas se junta esse detalhe ao detalhe que a renovação do contrato de 5 anos é automática, então pode-se interpretar:  "já que não tem prazo máximo, meu livro pode ficar dez anos ou mais na mão da editora sem ser publicado".

Parece besteira? Bom, que tal outra cláusula falando que venda de exemplares pra instituição altera a questão do direito autoral? Significando que se o governo comprar X quantidade (não especificada, pode ser talvez 70% sei lá) o autor recebe em cima do lucro líquido dessa venda. Entende o significa isso? Significa que se não houver lucro líquido (o que sobra depois de tudo pago), o autor não recebe nada. Se o lucro líquido for R$ 5,00, bom o autor recebe uma fração desses cinco reais. Pelo que soube, editoras curtem o negócio de vender para instituições. Funciona como seguro contra encalhe. Chama-se mexicanização do livro.

Agora, publicar livro significa participar da divulgação. Claro que pra mim é um pouco mais fácil. Mas aparecer no Jô Soares sabendo que o dinheiro no banco não vai durar até o final do mês, é ridículo. Porquê o livro aparece nas bancas, com minha foto junto. Ou nem aparece foto, tudo bem. Mas a seção de informática do lugar onde trabalho compra o livro. Ooops! O cara é hacker? Bota ele para tapar os buracos pra invasor nenhum entrar no sistema (ele já está recebendo mesmo, nada de pagar extra). Ou então, a grande idéia: demite o cara, ele é perigoso.

A grana do livro? Bom, no 3o email a editora já falou que não adiantava sonhar que não ia virar rico com isso. Um amigo sugeriu que talvez rolasse R$50,00 por mês (depois de ter pago uma grana que seria o preço de editorar o livro, o contrato falava que o dinheiro gasto com profissional pra editorar o livro era adiantamento em cima de direitos autorais futuros).

Publicando na Internet eu não ganho nada mas pelo menos não sinto coceira na testa nem buraco no bolso. O dia em que eu fizer um livro decente sobre o assunto, tenho certeza que vai acontecer o que aconteceu com o "Que isso, companheiro" do Fernando Gabeira. Todo mundo vai escrever seu livro de memórias do mesmo jeito, mesmo estilo.

Se bem que todo mundo que conheci na época áurea (quando era esporte entrar nos sites para não pagar provedor) está fingindo que não era ele ou mudando de assunto. Desses, nenhum com experiência internacional e poucos querendo relembrar qualquer coisa.

Puxa, se eu não controlo, acabo transformando esse texto aqui em livro..

Direitos Autorais

Estudei tanto o assunto (tem livraria que me "expulsa" quando me ve folheando a seção jurídica) por conta de ver usurpação de meus textos e de outras pessoas que até poderia escrever livro sobre isso. Porque os livros que vejo por aí enchem linguiça, quando chega na parte que interessa sobre direito autoral na Internet falam 2, 3 parágrafos. A maioria deles. Parece que o cara escreve o livro sobre direito autoral só para falar que já tem coisa publicada no assunto. Aí coloca uma coisinha qualquer sobre direito autoral na Internet pra motivar aquele leitor que compra o livro sem folhear. Vai ver, é por isso que algumas livrarias ficam em cima de você se demora muito pra comprar. Fica a dica: quer se inteirar sobre o assunto, checa bastante.

Mas não adianta nada se vc não conhece um advogado decente. E a justiça é bastante lenta no pais. E advogados incompetentes são maioria. Para se ter uma idéia, fui uma vez atrás de justiça gratuita (outro assunto não relacionado a direitos autorais) e a estagiária estava escrevendo testo ao invés de texto. Não dá pra acreditar em advogados decentes quando no país só 3 por ano perdem o direito de advogar por conta de sujeiras ou má advocacia.

Aliás é interessante pesquisar o direito. Fiz Literatura Alemã na USP e não entendia a comédia por trás de "O processo", texto de Kafka. Fui ver a peça no Teatro da USP e aí sim, morri de dar risadas. Tinha tanta experiência com advogados que conseguia entender a graça. Tipo a hora em que o sujeito vai no fórum (como todo mundo que vai no fórum, vai atrás de justiça) e se apaixona instantaneamente pela mulher do oficial de justiça. Todo mundo quer comer a mulher do oficial de justiça. É isso aí, todo mundo quer "faturar" a mulher do oficial de justiça.. ou a justiça mesmo. Entendeu a graça?

do que é que eu estava falando mesmo?

Encontro de hackers

Ah, isso daí vai ter que esperar eu escrever o livro, este artigo já tá com mais de 40 kbytes. Além disso, foi um troço, "garimpar" esses emails nos meus CDs. Imagina então o trampo pra escutar pelo menos umas 2 horas de fita k-7 gravada com depoimentos do Chaosmaker, Bunny, Arg, Varal e outros. Simplesmente não tenho tempo.

Movimento Free Kevin

Outra coisa que merece um livro. Até conversei com a Fernanda Serpa sobre o assunto. São montes de detalhes. Assunto para dois livros: o meu e o dela. Claro que pra mim, qualquer coisa é assunto para livro.

Paranóias e perseguições

Também não estou com saco de contar sobre isso aqui, tem muito disso nas páginas do fanzine. É outra coisa que dá um capítulo inteiro. Parece que sou o único paranóico do mundo. O único que não deixa se fotografar. O que menos fala.

E o único que tem coragem de mostrar o nome e a cara pra todo mundo e dormir tranquilo.

Problemas com a polícia

Nenhum. Mas já conheci trocentos policiais, converso com eles, quando tem assunto. Aliás já pintou até proposta de que eu ajudasse nesta ou naquela delegacia. Mas eu mudo de assunto nessa hora. Já usei coturno por razões de moda uma época mas só entro em delegacia por conta de dar queixa. Meu último check-up de antecedentes deu que não tem nenhum processo rolando contra mim em dez anos.

Tipos que conheci

Personalidades

Ser alguma coisa ajuda muito. Mas nunca achei que fosse por ser o autor do fanzine Barata Elétrica. Precisa ter uma desenvoltura para isso. Mas falar que é da imprensa ajuda. Humm, melhor deixar isso pro livro.

Aproveitadores

Vamos falar das maças podres. Em várias ocasiões, o cara parece uma pessoa legal no início. Depois você já não sabe como aquela faca foi aparecer nas suas costas.

Exemplo foi um cara que disse que seria meu advogado. Bom, pelo menos me ensinou a não confiar num advogado. Mas não devia ter apresentado o sujeito à minha turma (na época era minha turma, hoje só converso com um ou outro). Como rato de informática, talvez seja bom, nunca avaliei. Como advogado, se chegar um dia alguém te falando que já foi meu advogado, desconfie. O cara não sabia de cor o artigo da legislação que dá direito à cela especial aos portadores de diploma. Dispensei rapidinho e com prejuízo enorme (o pior foi ver ele enturmado). Não é a toa que determinado tipo de advogado vive pouco e morre de causas não naturais.

Teve muita gente que foi meu "amigo". Desse jeito, o cara tinha lábia, não tinha como escapar de encontrar a figura. As mentiras dele eram boas. Aprendi muita coisa. Mas sabendo desde o princípio que era gente que não prestava. Era gente que trai todo mundo que conhece, cedo ou tarde. Manja aquele cara que o problema não é nem matar (ninguém será suspeito), é esconder o corpo depois? Fico com pena. Pessoas que mentem muito são mais vulneráveis (em termos de perfil psicológico), a cair em deprê e querer meter um tiro na própria cabeça.

Isso é válido para muita gente que conheci. Mas eu levo na esportiva. Não se aprende nada se a gente sempre conversa com as mesmas pessoas. Se isolar numa turma significa que um dia, quando sair da turma, fica pelado com a mão no bolso. Precisa levar na cabeça para aprender. Alguns eu dou o benefício da dúvida. Nove em dez se arrependem de ter pisado na bola comigo, mesmo os que não foram meus amigos no início.

Alguns me apontam como ameaça. Como numa vez em que um cara resolveu arrumar briga comigo (aliás mais de uma vez isso aconteceu). Imaginava que seria fácil depois levar ao tribunal. Quando se fica famoso (hoje graças a Deus menos) é fácil encrenca virar notícia. Uma briga de bar não gera manchete. Mas briga num lugar X com um sujeito Y conhecido por atividades do tipo Z pode gerar interesse. Aí o cara usa aquela notinha pra fazer posters do tamanho de portas com uma canetinha sublinhando o nome dele. É difícil mas já consegui sobreviver a isso.

Amigos e conhecidos

Talvez o que mais valeu a pena foram os amigos. Dane-se retorno financeiro. Não preciso saber se existe alguém lá em cima que goste de mim. Aqui embaixo eu sei que tem gente reconhece o valor do que escrevo. Desde gente que já foi agente do SNI até pessoas do software livre. E não é só mamãe não. Tudo bem que alguns eu me arrependi de ter conhecido, preferia ser anônimo.

Mas de vez em quando olho pra um sujeito, converso com o cara, pergunto:

- Você conhece o fanzine Barata Elétrica?

Puxa, o cara conhece. Já ouviu falar. Nessa hora é dez! Muito legal.

Por isso resolvi reunir alguns depoimentos, tá em outro artigo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muita tentação de chamar isso último número, mas só é o último número até eu escrever outro. Ano que vem ou até antes, tem mais. Afinal de contas, depois que o Marcos Silva (puxa, pedi no http://barataeletrica.blogspot.com uns pentes de memoria, o cara extrapolou e me mandou muito mais do que eu pedi) fez uma festa e me enviou um micro montado, fica difícil não escrever. Legal a força do cara. Tive muitas ocasiões de ter micro decente, agora não tenho desculpa. Pelo menos até o final do ano, estou meio que seguro profissionalmente, trabalhando em algum lugar.

Não sei se o pessoal onde trabalho sabe da minha fama mas de qualquer forma não é trabalho relacionado com computadores. Ninguém tem condições de apontar pra mim e fazer boatos sobre computador algum (sim, tenho nóia - aliás não é nóia, já me aconteceu). Aliás estou lá há quase um ano, tá demorando pra surgir esse tipo de boato. Coisa que de qualquer forma não faço. Podem até falar que sou tão bom que não deixo provas mas aí é difamação e eu posso obrigar a pessoa a se retratar, meu caro. Perante a justiça, cara. E pedir indenização por danos morais. Pode ser que eu não peça retratação perante a justiça. Pode ser que eu não faça nada hoje. O código civil dá 20 anos de prazo e eu sei que essa questão de "danos morais" tá bem viva no novo código ao contrário do anterior. Mas vou mudar de assunto..

A grande indagação é mesmo quando o livro ou livros vão aparecer. Sei lá. Já tive tanto problema com o pouco de exposição que eu tive. Nem sei como está a vida do meu colega argentino que é jornalista e fundamentou a carreira em cima. Não fiz vestibular para jornalista. Não me adianta escrever para depois ter problemas. Ou ter fama durante um tempo e depois não ter dinheiro para nada. Estou com mais de 40 anos. A vida não é fácil.

É isso. Até o próximo número.

Bibliografia:

SPÍNDOLA, Rodolfo. Fim do mistério do namoro virtual. 19/10/1997. Disponível em <htt://www.jt.estadao.com.br/notici97/97-10-19/ge.html>. Acesso em 1999.

GRAIEB, Carlos. Piratas cibernéticos invadem o mundo cultural. Jornal Estado de São Paulo. 26/4/1996. p.D11

SETTI, Ricardo B.& SHIMIZU, Heitor. Tem Boi na linha. Super Interessante. Ano 9. No 10. Outubro 1995.

Hackers - os piratas do ciberespaço. Home PC - Edição 12 - Junho 1996

LEIRIA, Luis - Hackers. Internet World. Vol. 2. n 23. Julho 1997.