Os Mercadores de Opinião e a sua Privacidade
Derneval R.R. Cunha
"As mensagens em nossos meios de comunicação vem empacotadas como Cavalos de Tróia. Entram em nossas casas em uma forma, mas funcionam de forma diferente uma vez dentro. Não é tanto uma conspiração contra o público espectador como é um método para conseguir que os campeões de audiência inadivertidamente promovam agendas contraculturais que apenas podem fortalecer os indivíduos que estão expostos a elas. As pessoas que rodam redes de televisão ou revistas populares, por exemplo, são compreensívelmente indispostas a rodar histórias que criticam os princípios operantes da sociedade que seus patrocinadores estão tentando manter. Os jovens e espertos estrategistas da mídia com novas e usualmente ameaçadoras idéias, precisam inventar novas formas que são capazes de hospedar estes novos conceitos até que eles tenham sido entregues ao público americano de forma bem sucedida como parte da dieta de mensagens dos meios de comunicação de massa." (RUSHKOFF, Douglas - MEDIA VIRUS! Hidden Agendas in Popular Culture)
Original no http://www.epic.org/privacy/faa/bodysearch.gif

 
É difícil lembrar a primeira vez que te pedem sua opinião para alguma coisa. No mais provável, talvez pinte a lembrança daquela vez, quando criança, que perguntaram: 

- Qual animal você gostaria de ser?   (Eu gostaria de ser vocalista de uma banda de Heavy Metal) 

- Que que você vai ser quando crescer? (Eu vou ser velho, oras) 

São perguntas simples, mas que podem dizer muito sobre a personalidade da pessoa. Uma criança que responde que queria ser macaco, pode simplesmente achar um macaco bonitinho ou adorar fazer "macacadas". Aí os pais já ficam de alerta, porque tem um "bagunceiro" na família.  
          Hoje em dia, porém, quem realmente tem opinião sobre alguma coisa? Já parou pra pensar? Você aponta para um apresentador de televisão:  este cara parece ser um sujeito de opinião. Sem dúvida. Faz aquele programa de entrevistas e sempre parece que está por cima. As perguntas e as respostas que ele faz parecem mexer direto na ferida do sujeito que está sendo entrevistado. É, um cara desses parece ter opinião. 

Mas será que aquelas perguntas não foram ensaiadas? 

Se eu te contar que existe uma equipe por trás daquele sujeito. Uma equipe que é chamada de "produção"? Provavelmente estou perdendo meu tempo escrevendo que essa equipe é encarregada de entrevistar o entrevistado antes que ele se sente ali pra conversar. E não é só isso:  a equipe pode até discutir com o cara se tem alguma matéria sobre a qual não se deve tocar ou assunto que interessa que seja tocado. Pensa bem: alguma vez você conseguiu ter uma conversa interessante todo santo dia, durante todos os dias, e com mais de uma pessoa? Não. Isso é muito difícil. A produção de um programa se encarrega que o apresentador apareça sempre com um ás escondido na manga. Pra impressionar a audiência. Que é o que chama os anunciantes. São eles que pagam o salário tanto da produção como do apresentador.  
         Então, o maior problema não é ter opinião. O problema é convencer o público a ligar a televisão dia tal, hora tal e ficar sintonizada no programa tal. O que vai passar nesse dia e nessa hora, não interessa a mínima para o dono daquele canal de TV. Sendo sucesso, pode ser qualquer coisa. Como é que se sabe que é um sucesso? Pelos jornais e por pesquisas. Tem tambem o público que escreve para o programa. Havendo público suficiente, é como água morro abaixo. 

Resumindo: Não é alguém na TV que tem opinião. Claro que o sujeito para estar lá tem que ter alguma inteligência. Mas o mais importante é chamar a atenção. Por isso que a Carla Perez está chegando lá, enquanto um monte de recém-saídos das faculdades de comunicação estão lendo os classificados.  
               Bom, o que que acontece então com a imagem que a gente tem do apresentador? Fica meio diluída, né? Mas, talk-show, como a palavra indica, é espetáculo, vamos voltar ao cotidiano. Numa turma de amigos, cada um tem sua opinião sobre cada coisa, mas na maioria das vezes, o que acaba acontecendo é uma opinião grupal, depois de um tempo.  Isso porque ninguém vai ficar criando caso se o grupo não concorda. Quem não concorda se cala ou tenta convencer até que o grupo resolva mudar de assunto. Em vários casos, a opinião geral prevalece, mesmo que seja copiada daquilo que aparece no rádio, na TV e nos jornais. (Já pararam para pensar nisso? Eu posso estar errado). Eu por exemplo, posso me gabar de ter acreditado no Zagalo quando todos os jornais falavam que daquele jeito a seleção não ia chegar as quartas de final (o pessoal até me gozou, no jogo da Noruega).  
               Nos jornais poderia ser diferente. Mas hoje em dia, os jornais praticamente copiam e exploram o mesmo material que passa na TV. Se aparecer no Telejornal que a viadagem tá na moda, vai aparecer matéria na imprensa escrita repensando o ser ou não ser viado. As revistas, porém, estão um pouco mais imunes em relação a essa flutuação de opiniões. Por um motivo mais simples, cada novo número leva 48 dias para ser feito. No entanto, ainda assim sofrem uma certa influência dos jornais e da TV, porque também tem anunciantes. Eu já coloquei numa matéria anterior sobre "Hackers e a Mídia" como isso acontece, mas nem detalhei muito. Pra não repetir, vou lembrar apenas que numa matéria que detonava o hacker como um mal elemento, havia um anúncio de firewall.  
               Quem estava copiando de quem, na Copa? O público estava lendo nos jornais e não acreditava na seleção ou o público via a seleção jogar e acreditava no que os jornais diziam? Mudando completamente de assunto (porque se se começa a falar de futebol, não se acaba mais):  será que a inflação vai voltar? Será que mais bancos vão falir? Será que o filho da Xuxa vai ser menino ou menina? Tudo isso são opiniões. Você tira conclusões, baseado em alguns dados que você conhece e aí emite a conclusão para um público, que pode ou não querer ouvir e tirar um sarro da sua cara ou elogiar.  
               O que trás uma outra questão: 

Será que o público queria ouvir que o Zagalo era um gênio porque estava escondendo o jogo? Não. O público que estava pichando o técnico tava afim de vitória. Estava querendo ver a seleção ganhar batalhas enquanto o técnico queria vencer a guerra. Mas quem é que tem a coragem de defender o lado errado? Pensa bem: se todo mundo está falando que fulano está errado, você tem coragem de ir contar a corrente? Muito provavelmente, não. A maior parte, guarda a opinião negativa pra si mesmo e acaba se convencendo daquilo que todo mundo está falando. Quase todo mundo faz isso. Menos este ou aquele cara da televisão. Porquê?

 
Porque ele tem coragem, as vezes, de ter uma opinião contrária? Porque ele é uma estrela de TV. Ele é importante. Ele é dono de um horário com sei lá quantos mil espectadores. Ele pode se dar ao luxo de pensar diferente. Porque não tem que ouvir as vozes chamando ele de imbecil. Televisão é só pra gente ver e escutar e não pra falar. Pra falar, tem o disque 900, por enquanto. Mas esse daí, é uma opinião que você paga para ser ouvida. Pensa bem: pra se fazer ouvir numa rodinha, você pode falar mais alto, cutucar o colega, fazer cara feia, bater na mesa, vão acabar te ouvindo. Agora, pra fazer diferença sua opinião num disque 900 você tem que desembolsar uma grana.  
                E qual é a opinião que sobra? A opinião de um monte de gente que tinha em casa televisão, telefone e dinheiro pra se fazer ouvir. E o resultado final? É realmente "aquilo que você decidiu"? Não é. O computador dá defeito, não dá? O Win 95 trava de vez em quando, não trava? Como é que o software que faz as contagens também não funciona ou para de funcionar? Além disso, as linhas ficam congestionadas. Se a pergunta que aparece na TV é válida pra toda uma região, como garantir que haja linha pra todo mundo? Depois das oito horas, conseguir um interurbano para algum lugar é sorte.. Isso daí é só pra pensar um pouco e aprender a duvida daquilo que aparece na TV.  
              E as revistas? Será que você acredita nelas? Believe me, não são muito diferentes. O editor da revista manda o repórter escrever uma porcaria qualquer que alcance um determinado público. Falo porcaria porque normalmente os textos são o suficiente para transmitir determinada informação, mas curtos o bastante para o sujeito não largar antes do final. O texto compete com imagens. Duas páginas então não podem ser só de texto. Tém que ter imagens. E tem as propagandas e as mini-propagandas. Já experimentaram algum dia rasgar fora todas as páginas que tem propaganda dos dois lados, como emagrece determinadas revistas?  
              Mas voltando ao lance de opinião, o que eu queria colocar é algo mais profundo: sua opinião, que pode ser manipulada por questões de marketing (da privacidade falo depois). Um anunciante pode fazer algo que se chama de campanha publicitária. Veja o caso da viadagem (ou usando um termo politicamente mais correto e erudito, o caso do homossexualismo). Do ponto de vista comercial, o homossexualismo é um grande negócio. Enorme (ou Enoooorme, desculpa  a piada, não resisti). Esse público não gasta grana com creche, escola para os filhos ou coisas do gênero. Mas vai gastar com discos, viagens, roupas, motel, boite, etc.. fica interessante então que a imprensa não seja preconceituosa, porque tem anunciante disposto a investir no mercado homossexual. E se tem anunciante pagando para aparecer anúncio de coisas relativas ao mundo gay, tem que aparecer gente falando que é algo culturalmente muito rico, que fulano, ciclano, beltrano eram chegados. Então, o cidadão comum não se revolta em ver um sujeito vestido de rosa andando de mão junta no parque. Não, ele até se acha culto, porque está admitindo que dois homens façam o que bem entenderem entre quatro paredes.  
             Campanha contra as drogas, por exemplo, vocês já notaram a quantidade de coisas que já se falou de quem usa drogas? Não se fala mal das crianças que ficam assistindo sessão da tarde, evitam tocar no assunto do alcolismo. Mas sem querer fazer apologia, algumas das maiores besteiras já publicadas foi sobre esse assunto. Já houve reportagens falando que toxico causavam impotência, câncer, tudo quanto é coisa, no entanto o que mais mata são as mortes por cigarro comum. Bebida também é uma das maiores causas de acidentes nas estradas. Inventam umas histórias fantásticas sobre LSD (se você tomar, corre o risco de ficar olhando para o Sol até ficar cego, durante uma viagem) ou tráfico de drogas (traficantes usam cadáver de bebê como método para contrabandear cocaína sem a alfândega perceber). São histórias divertidas de se ler, porque impressionam.  
          Geram discussão, coisa que não acontece se aparecer uma notícia sobre alguém que bebeu e se jogou de um prédio. Ninguém fala que vai parar de beber só porque leu isso no jornal. No entanto, tanto a história sobre o LSD induzir alguém a querer ficar cego olhando pro sol ou a do tráfico usar cadáveres pra ocultar drogas são mentiras. Americano chama isso de lenda urbana. São histórias tão interessantes que os caras botam em circulação sem checar e depois ficam com vergonha de desmentir.  A dos bebês com cocaína foi publicada pelo jornal Washington Post e pela Playboy, além de outros lugares, em épocas diferentes, por volta de 85. A dos caras que ficam olhando pro Sol até ficarem cegos, apareceu no Los Angeles Times, em 67, mas tem gente que ainda repete até hoje, sem saber que não é verídica. A ficção é mais interessante do que o fato e dura mais na memória popular e como o negócio é falar mal de tóxico, porque não? Que mal faz uma mentira quando o negócio é convencer a juventude a não fazer coisas erradas, né?  
  
Mas está ficando muito pesado este assunto, então vou mudar para outro mais próximo de onde eu quero chegar. 

Que é .. privacidade. Já falei sobre isso antes, em outro número do Barata Elétrica. Mas.. estou vendo que ninguém liga muito para isso. Vi nos jornais: "Bancos vão condicionar talão de cheque a histórico bancário". Ou seja, tem cheque devolvido, pensa-se duas vezes antes até de aceitar que o sujeito abra conta no banco. Legal. Os bancos já cobram quase um real para que a gente veja nosso saldo, um dinheiro que é nosso, mas "eles" estão guardando, ainda vão fazer mais essa. Se você tem um passado de inadimplência, perdeu sua "cidadania financeira". Vai ter que fazer que nem os americandos, que tem um monte de livros sobre como fazer uma identidade falsa, para poder movimentar cheques de novo. E lá nos EUA, a coisa é pior, viu? Um cheque devolvido, um só, e você não pode mais alugar um apartamento no seu nome. Nunca mais. Não interessa se a culpa não é sua. Não interessa se aquela sua ex-namorada te roubou uma folha do seu talão e fez o cheque ser devolvido só pra te ferrar. Ou se a culpa foi do banco, que ao cancelar o seu cartão de crédito, não cancelou o seguro dele, tornando você inadimplente quando acabou o saldo da sua conta (quase aconteceu comigo, deixei 10 Reais na conta do BB e 4 meses depois tinha 6, fui olhar e descobri isso, se tivesse fechado a conta, hoje estaria fichado no SPC, mais uma do Ourocard).  
          Mas não foi só isso que me preocupou. Tem gente que escreve "brincando de imaginar que o mundo pode ser perfeito e que todas as pessoas poderão ser felizes". Pessoas que não param para pensar e escrevem sobre algo que não entendem. Como numa revista que eu costumava comprar todo mês, independente da minha (falta de) grana. Costumava. Essa revista começou a ter uma coluna onde o cara brincava de imaginar que privacidade é uma questão de hábito. Todo mundo tem direito a opinião. A opinião do cara é que as pessoas poderiam perfeitamente se acostumar a viver sem essa "preferência".  Isso para mim é muito duro de engolir. Qualquer adolescente hoje em dia sabe que, morando com os pais não tem privacidade. Existem até teorias que atribuem o gosto das "gatinhas" por ficar horas e horas malhando também tem a ver com não passar o tempo junto da família. Só conversando com um casal de cubanos é que senti a falta de preconceito contra a vida em grupo (lá em Cuba, o casamento implica em morar com a família do noivo/noiva e o divórcio, quando acontece lá, não implica em separação dessa co-habitação). Então tentei imaginar o que se passa na cabeça de alguém que não acredita no valor da privacidade. Para mim é um sintoma, apenas, pode ser parte de algo maior que está acontecendo. Comecei então  pensando na cidade onde acho q mora, já que escreve para jornais cariocas. Rio de Janeiro.  
          O Rio é uma cidade difícil de explicar para quem não mora lá. Depois que você mora, continua achando incompreensível, mas se acostuma e não quer nunca mudar. Morei 4 anos lá, saudades do Rui, da Dora e de um pessoal que foi parte da minha juventude. Como é que é morar lá? Você não sai sem documento. Ninguém te conhece, precisa dele para entrar em tudo quanto é lugar. Tem que dar satisfação para todo mundo, se entra num prédio ou coisa do gênero. Claro que todo mundo aceita essa desconfiança. O carioca acredita em assalto. Pelo menos são as duas imagens do Rio na TV, a das mulheres exibindo seu corpo e os assaltos.  
              Não tem porque ficar insistindo numa frescura chamada "privacidade". Quanto mais você se "abre", mais você demonstra para a pessoa que está junto de você, que é alguém que merece confiança. Pelo menos é isso que entendi quando estava lá. Não é só lá que vigora este tipo de comportamento. Quase todo mundo (no Brasil que eu conheci até hoje) automaticamente desconfia quando a pessoa, por uma razão ou outra não se "abre" num bate-papo informal.  
              É, o argumento usado pelo cara chega a parecer válido. Só foras-dos-padrões é que teriam razões para se esconder. Se você paga suas contas em dia, que diferença faz cair na boca do povo ou não? 

Com licença, mas acho de uma ingenuidade incrível esse raciocínio. Muitos podem  achar o contrário. Lembrança de outros tempos . Herança dos tempos da ditadura, sei lá. Sabiam que numa determinada época do Brasil, faz não muito tempo, tinha-se que preencher um cartão com seu nome, endereço e RG pra visitar alguém num prédio? É, a ditadura fez uma espécie de lobotomia (*) no povo e as vezes parece que o pessoal acredita em qualquer besteira desse gênero. Principalmente porque todo mundo vai mentir e negar, se o outro não puder provar. Da boca pra fora, todo mundo é inocente. Pergunta em qualquer prisão se tem alguém que realmente é culpado. Todo mundo é inocente.  
             Porque esse argumento de que só os "marginais e foras-do-esquema" é que teriam a perder com o fim da privacidade é ingênuo? 

Podia comentar parafraseando um ministro da justiça de um determinado país, que disse: 

"O crime, às vezes, é inevitável" 

Sem comentários. Mas tudo bem, vamos esquecer essa frase. Manja vida de casado? Existe um cartum do Hagar, o Bárbaro. Ele chega de viagem, numa noite em que está caindo neve pra caramba. Bate na porta de casa e a mulher pergunta: 

- Quem é?  
- Sou eu, aquele a quem você vem amando e dedicando toda a sua vida, desde a adolescência.  
- Agora é tarde. Estou casada, tenho um marido e dois filhos. Vá embora. 

Triste, né? Mas a verdade é que as pessoas nunca revelam toda a verdade. "Se você ouvisse o que as mulheres falam quando estão em grupo, nunca mais deixaria a sua sozinha" (Descartes?) 

Isso daí é que é o ser humano. É ser contraditório. Você pode não saber, mas convive com a mentira, diariamente.   Vide o poema famoso de Fernando Pessoa.

 
POEMA EM LINHA RETA 

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.  
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,  
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,  
Indesculpavelmente sujo,  
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,  
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,  
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,  
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,  
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,  
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;  
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,  
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,  
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,  
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado  
Para fora da possibilidade do soco;  
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,  
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo  
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,  
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... 

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana  
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;  
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!  
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.  
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?  
Ó príncipes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses!  
Onde é que há gente no mundo? 

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

Poderão as mulheres não os terem amado,  
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!  
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,  
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?  
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,  
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

Álvaro de Campos

 
É, esse poema é antigo, mas acredito que sempre foi assim. Acreditar que o ser humano vai mudar seria deixar de acreditar que ele continuaria humano. 
           Imagine a vida não no Rio de Janeiro, onde a vida cultural é farta. Lugar onde também são filmadas as novelas e que por consequência, molda o jeito de pensar do Brasil desde que a televisão começou a fazer sucesso. Pois é. Imagina a vida lá no interior, onde a sociedade cobra um pouco, todas as atitudes da pessoa. Todo mundo fica sabendo da vida de todo mundo. Então todo mundo só faz o que todo mundo faz. Ninguém tem muita coragem de inovar, por medo de não ser aceito socialmente. Não ser convidado para as festas.  Aqueles que vão contra corrente viram notícia. "O quê? Fulano teve coragem?"  E é como se aparece não nas páginas policiais, mas naquela coluna de mexericos.  É gente rindo pelas suas costas. É gente que nunca teve o menor contato contigo te apontando na rua. Então vira uma espécie de prisão, da qual você só sai quando  o cemitério chama. É um negócio que voê poderia chamar de "máscara social". Pra sair na rua, você tem que vestir, como se fosse roupa. Com o passar dos anos, vira uma pele, que te protege de qualquer inovação da qual não se está preparado.  
          É, você cria uma armadura para te proteger do falatório. Tudo para não virar assunto dos outros. Ninguém inova nada. 

          É, o mundo sem privacidade já existe. De norte a sul do país, caiu na boca do povo, por um motivo qualquer, será lembrado por toda eternidade. Você é aquilo que sempre foi. Filho de fulano de tal, fez escola com ciclano que é amigo de beltrano, que foi preso por tráfico de drogas. Então não pode casar com a filha do outro fulano de tal, que é uma família muito digna para um pé rapado que tem amigo com ficha na polícia. Isso é um exemplo, acontece todo dia. Falar que isso é retrocesso, que é coisa do passado, não muda o fato de que coisas aconteçam atitudes de preconceito inexplicável. Acontecem.  
          Quando pintou a Aids, nos anos 80, acabou a figura do cabelereiro em Brasília, durante um tempo. As "madames" tinham medo de ir fazer o cabelo nos salões e contrair a doença.  Isso, numa época em que a "revolução sexual" estava no apogeu.  Quando morava no Rio, conheci um cara do interior que me contou que tinha medo de se aproximar de mulheres. Não era "gay". Apenas tinha tentado e conseguido beijar a irmã quando tinha uns 8, 9 anos. Queria saber que negócio era aquele que aparecia toda hora na televisão. É engraçado, as irmãs não queriam explicar. Ele resolveu experimentar na prática. E porque ficou com o trauma? É que a irmã que ele escolheu era meio rebordosa. 2 ou 3 doses e a cidade inteira ficou sabendo. E tirando sarro do garoto. Que não entendeu nada durante um bom tempo. Ficou sendo o bobo da família (**). Aliás, acabou desistindo de entender, porque virou crente, quando chegou na adolescência, num cursinho pré-vestibular. Largou tudo e parece que foi pra Africa ser missionário.  
                Outra história que ouvi foi a de um sujeito que morou muito tempo fora da cidade, esqueceu como eram as coisas na terra dele. Fez amizade com um cara, sem saber que ele era o maior "gay" da paróquia. "Queimou o filme" com os amigos que tinham sobrado. Perdeu todos. 

Talvez o fim da privacidade acabasse com esse tipo de coisa. Mas não acredito muito nisso. Acho difícil extinguirem esse serviço de desinformação chamado "fofoca" ou essa classe social apelidada de "panelinha". Onde todo mundo sabe de todo mundo, por falta de assunto melhor. Qualquer mulher sabe quantos defeitos podem ser achados em "outra" mulher. Você duvida? Tenta ouvir "os bastidores femininos" de qualquer casamento.  
                Tem gente que não sabe, mas o excesso de informação sobre outra pessoa facilita seu controle.  Sua manipulação. Se seu chefe sabe que você recebeu uma oferta melhor, ele pode te ferrar oferecendo uma promoção, dentro da empresa. Suja o currículo, recusar uma promoção.  Resultado: você, que estava saindo da empresa talvez pra mudar o ambiente,  mudar uma série de coisas, é obrigado a mudar de planos. Então, aquela fofoca que não tem importãncia nenhuma todo mundo ficar sabendo, já não é a mesma coisa.  
            Na verdade, existem os jornalistas de dois tipos: os que julgam que tudo deve ser revelado, doa a quem doer e os que acreditam que alguma coisa deve ser preservada. Em outras palavras, se o sujeito conseguiu entrar no site de um banco, isso NÃO tem que ser revelado porque vai abalar a confiança de quem deposita lá. Aí as pessoas vão retirar o dinheiro e o tal banco já era. É uma opinião.  
                 Agora, para alguns jornalistas, isso significa não ter notícia. Fica a tentação de inventar fatos. Ou explorar fatos de forma sensacionalista. Um exemplo é o caso da Jenny, uma menina que entrou pras páginas de jornal de todo mundo porque resolveu "vender" sua privacidade, fica com uma câmera plugada na casa dela 24 horas por dia.  Seria o mesmo que colocar uma parede de vidro. Rende página de jornal. Não é todo mundo que faria isso. E o caso do casal que iria perder a virgindade na Internet? Maior fraude. Um suposto casal que supostamente "virgem", ia fazer sexo on-line. Há poucas horas, li que o site está "caído", que o casal não era "virgem" e que isso foi um golpe pra chamar a atenção do mundo. É, a vida ainda é a melhor manchete de jornal.  
                Mas abandonando isso, vamos pra algo mais real e menos abstrato:  A quem interessaria ou poderia interessar hoje, que as pessoas ficassem menos preconceituosas com relação a privacidade? Vamos pensar nos bancos? Alguém gosta de ser revistado quando entra num só pra ver seu saldo? Eu não gosto. E o trabalho que dá, abrir a pasta, mochila ou sacola, para mostrar ao guarda que não, não somos assaltantes. Eu já li uma revista de sindicato de vigia de banco. Caiu na minha mão. "A maior reclamação da classe é ter que ser responsável por quem entra no banco".  Eles não suportam o "serviço sujo" de ter que aguentar as reclamações de clientes. É, eles também não gostam. Eu não duvido, então, que os R.P. dos bancos não estejam trabalhando em cima de uma campanha publicitária para fazer a população aceitar essa invasão de privacidade ou aceitar esse insulto que é, passar pelo detector de metais. Ou talvez seja algo ainda mais "teoria de conspiração" (vide filme com Mel Gibson).  
               Talvez seja um sinal dos tempos, avisando que a cidade grande vai ter que se comportar como cidade do interior. Todo mundo vai ter que ter sua história de vida impressa num chip. Disponível para quem quiser saber. Aí, vai ser fácil fazer contratações baseando-se em coisas como a vida da pessoa. Basta ler no chip que o sujeito tinha mania de enganar seus amigos quando era pequeno.. pronto. Pra que se arriscar contratando um sujeito desses para lidar com dinheiro? Porque não colocar ele na área de vendas? Mesmo que ele jure que quer mexer com fotografia? Sei lá. Daria uma senhora ficção científica. Mas não teria muito de ficção. Os exemplos estão aqui e ali. Basta procurar. Eu li num jornal do Rio que a moda entre socialites é perguntar "como nasce". Assim a "socialite" fica por dentro se a nova amiguinha da filha não vai roubar o marido dela. Como se isso impedisse alguma coisa.  
                 Provavelmente, sempre usarão o argumento de que "existem as maças podres". E daí? No Rio de Janeiro, todo mundo sabe quem são os ladrões. Tantas vezes foi matéria de jornal, fulano sendo fotografado roubando, que nem é mais notícia. A polícia prende e solta, mesmo sabendo que o cara vai roubar em outra esquina. Não é saber que o cara é ladrão que facilita o trabalho da polícia. O que poderia facilitar seria um sistema jurídico que funcionasse 24 horas, o sujeito poder dar queixa na delegacia sem perder  o expediente no trabalho. O que poderia facilitar seria uma justiça que funcionasse mais rápido, demora-se anos para um assaltante ser condenado. E lugar nas cadeias, não se tem lugar para os que seria presos, se o sistema funcionasse mais rápido e mais eficiente. Usar o argumento de que o direito a privacidade e ao sigilo bancário facilitam o crime é coisa de quem quer tapar o sol com a peneira ou arrumar um motivo para explicar uma ineficácia. Montes de criminosos nunca vão para as cadeias apesar de todo mundo saber quem são. Aliás, quer uma piadinha? 
 
Fizeram um concurso para avaliar as polícias de vários países. Para ser mais exato, o interesse era saber até que ponto cada polícia era eficiente em descobrir os criminosos. Como avaliar isso? Reuniram o pessoal numa floresta e soltaram um coelho. Começando com o FBI:

O agente do FBI abriu seu laptop, conectou a antena que tinha um link com um satélite, chamou Washington. De lá conectou com um especialista e detalhou as características do coelho. Depois pediu um vasculhamento via computador, que por sua vez resolveu usar um satélite de espionagem para vasculhar a área do bosque onde se encontrava o coelho. Achou o animal atrás de uma pedra, 20 passos a esquerda de onde estava o júri do concurso. Tempo gasto: 10 minutos.

O pessoal bateu palmas e chamou o representante da Scotland Yard, que parecia o Sherlock Holmes, com aquele cachimbo. Que nem perdeu tempo, achou um pelo do coelho, levou ao microscópio eletrônico, scaneou o resultado, mandou para sede via telefone e pouco tempo depois recebia de volta os resultados:

  • Conta bancária do coelho
  • Última namorada
  • Endereço
  • Revistas que ele assinava
  • Hábitos

E juntando isso com as deduções, apontou um trecho, 9 passos dalí, uma moita, onde com certeza se acharia o roedor. Dito e feito. Estava lá. Tempo: 8 minutos. Mais uma salva de palmas da comissão julgadora.

Aí veio o representante do Brasil. Que também não perdeu tempo. Foi logo se embrenhando até uma casinha ali perto e fez o maior barulho. Aí trouxe uma vaca, toda cheia de feridas, queimaduras, etc.. e o mais incrível, falando:

- eu sou o coelho, eu sou o coelho, eu sou o coelho.. 

            Pode acontecer com você.

            Mas, voltando ao assunto, como comentei ali em cima, os bancos e instituições financeiras (AQUI NO BRASIL) parecem que vão condicionar vários serviços ao histórico de seus clientes. Parece lógico. Porém, vasculhando a rede, descobri que existe um estudo, lá nos EUA, sobre a eficácia de coisas como essa idéia  que estão pensando em importar dos EUA, de vasculhar a vida financeira de alguém e através dela decidir coisas até onde essa pessoa pode ser bem atendida (em coisas como emprego, seguros, crédito, etc). Este estudo está disponível em http://www.pirg.org/consumer/credit/mistakes/index.htm, junto com os erros que acarreta. Só para listar alguns:

 
  • Registro errado da informação sobre o indivíduo, coisas como mudança de endereço, telefone, etc, que dificulta a atualização 
  • Registro errado de serviços ou pedidos feitos usando o cartão de crédito (alguém se lembra de cartões que são enviados "por engano" a quem nunca pediu?) 
  • Informações erradas sobre nomes parecidos, que são misturadas a pessoas de outras contas, confundindo os dados sobre aquela pessoa (já falei disso em artigos anteriores, sobre homônimos, gente com nomes parecidos) 
  • Falta de equipamento adequado para ficar conferindo  e/ou apagando informação obsoleta (apesar de não ser a mesma coisa, pensa em quantas vezes você achou um link na web que teria tudo o que você queria, só que a página já estava fora do ar, pensa se isso acontece com seu histórico de crédito) 

 
Aí tudo bem. Isso acontece nos EUA, um país que botou o homem na Lua, baita eficiência tecnológica. Anos de experiência em coisas como cartão de crédito, computadores, etc. E ainda assim esses erros acontecem. Erros sérios. É como chamam lá as pessoas que são colocadas na lista negra, por conta de compras erradamente colocadas na conta de outra pessoa (ou mesmo compras que nunca foram feitas). As estatísticas foram as seguintes:

 
  • 70% dos relatórios de crédito tinham algum tipo de erro qualquer 
  • 41% do total da pesquisa tinha informação pessoal (nome, endereço, fone, idade) desatualizada, de pessoa diferente ou simplesmente incorreta 
  • 33% tinham endereços que estavam desatualizados, errados ou mal escritos 
  • 19% dos relatórios (de crédito) detalhando o uso que estava sendo feito do cartão continham contas que eram claramente incompreensíveis ou não pertenciam ao consumidor. 
  • 13% estavam incorretamente listadas como inadimplentes ou "lista negra" 
  • 5% continham nomes incorretamente escritos ou confundidos com outros 
  • 5% tinham datas de nascimento incorretas 
  • Algumas pessoas apareceram como empregados de gente para quem nunca tinham trabalhado 
  • Uma mulher apareceu com 3 listagens diferentes para o cartão (uma falava que ela era "lista negra", outra falava que não, etc) 

 
Mas o mais interessante é a dificuldade para se entender a listagem. Em 45% dos casos, o consumidor não entendia o que a listagem do seu uso do cartão de crédito dizia. Isso é que é precisão com o dinheiro dos outros. Realmente, não é preciso se preocupar com a privacidade. Já que o sistema vai engolir informação errada, qual o problema? O problema é que essa informação errada não vai permitir em alguns casos, que a pessoa alugue uma casa, em outros casos pode dificultar o acesso ao cheque especial, ou atrapalhar a busca de um emprego numa posição de responsabilidade (ex: aqui no Brasil, quem tem ficha negativa no Serviço de Proteção ao Crédito não pode exercer cargo público). Sem falar no crime de roubo de identidade, que lá é muito comum, o ladrão rouba os dados de outra pessoa e usa para fazer crediários, conta em banco, depois o sujeito verdadeiro tem que esclarecer toda a história. Toda uma vida dentro da lei, todo um esforço para não ficar devendo nada a ninguém e um cara anônimamente simplesmente ferra tudo. Hacker? Não. Aqui no Brasil isso também acontece. A pessoa coloca um anúncio oferecendo emprego, um imbecil manda o C.V. com dados tipo CPF, RG e pronto. Não precisa ter computador envolvido nessa história. Como não vende jornal esse tipo de notícia, ninguém fica sabendo. Não sei se pesa o fato de que empresas de cartão de crédito serem grandes anunciantes. E sempre mandam propaganda pelo correio. Nenhuma falando desses problemas. Mas também, todo mundo sorri em comercial de cigarro. Ninguém tosse até morrer. Ninguém olha pro próprio saldo e fala que vai reclamar no Procom. Todos são felizes. Voltando ao assunto..  
            Pois é, nos EUA, eles tem esses problemas em armazenar informações sobre as pessoas. Informações vitais (para eles, já que sem crédito ninguém vive) são embaralhadas de vez em quando. E talvez o mesmo esquema seja implantado aqui. Provavelmente os erros de lá vão acontecer aqui também. As pessoas vão continuar falando que "minha vida é um livro aberto", "não devo nada a ninguém", etc e vão ficar tentando conseguir uma linha para reclamar em algum serviço de crédito qualquer que "o sistema é muito bom, mas no meu caso, vocês erraram" . Os presos nas cadeias não fazem rebelião também porque a justiça não avalia seus processos (coisa que em vários casos significaria liberdade condicional ou mesmo imediata). Ouvi falar que tem gente que é esquecida na cadeia. Uma amiga minha (ela nunca explicou isso direito) teve que ir no tribunal provar que não era culpada de assassinato em 1o Grau porque simplesmente não conhecia a vítima. Teve um cara que foi preso duas vezes e passou 55 dias preso apenas porque  assaltante que levou seus documentos foi preso e condenado usando a sua identidade.  
            A revista 2600 (edição Summer 98) tem um artigo que espero ser ficção científica: o Projeto Lucid. Trata-se de uma rede de computadores projetada para complementar e implementar o sistema de justiça internacional. Todos os bancos de dados interconectados. Tudo, desde telefone, até cartões de crédito, etc.. tudo junto. Espero só que não funcione com Win95.  
            Parece besteira, escrever um artigo tão grande assim, por uma coisa que parece tão pequena. Exatamente porque as pessoas não dão importãncia. Ninguém sabe explicar direito porque privacidade é algo importante. Como era difícil, faz alguns anos, entender que o consumidor podia devolver a mercadoria e receber o dinheiro de volta, se não estivesse satisfeito. Não é nenhum "favor" da loja. Os únicos artigos que estão aparecendo nos jornais sobre privacidade englobam principalmente o medo de "hackers". Como se um hacker tivesse tempo de ficar se divertindo vasculhando a vida alheia. Aqueles que "choram" porque alguem "escutou" sua conversa reservada numa sala de chat tem espaço garantido nos órgãos de informação, quando na verdade já deviam saber desde pequenas que não deveriam partilhar sua vida com estranhos. Fiquei muito impressionado com um chefão da Polícia Federal que teve seu fone grampeado. Eu mesmo procuro não dizer no telefone nada que eu não diria na TV. Isso é uma regra tão simples. Mas óbvio, tem gente que entra na Internet para zoar e hoje isso está muito fácil. Ao facilitar o acesso da rede ao cidadão comum (e também ao "bandido comum"), Microsoft criou uma legião de usuários que podem "entrar" nos micros uns dos outros, basta saber o caminho das pedras.  A Internet ficou algo mais noticioso do que sexo e as pessoas ficam chateadas porque batem com a cara na parede. Aí, acham que o governo deveria ser rígido com isso e aquilo quando na verdade, "não usam camisinha" ou melhor dizendo, não tomam precauções para se resguardar, mergulham de cabeça e depois querem resolver "por decreto" seus fracassos em lidar com a tecnologia. E esquecem talvez a lição mais importante, com relação a privacidade, a vida, com relação a muita coisa:  "O preço da liberdade, é a eterna vigilãncia". 

(*) Lobotomia, para quem não sabe, era uma operação muito na moda nos anos 50, parece que foi inventada por um português de família nobre, de nome Moniz (li em algum lugar). Ganhou o prêmio Nobel com isso. Era a "cura" cirúrgica da loucura, através da destruição de um pedaço do cérebro que lida com os sentimentos. Tinha uns efeitos colaterais, como o fato de tornar o sujeito um completo imbecil, incapaz de atravessar uma rua sem se matar ou reagir a uma surra, etc.. mais tarde descobriu-se que há drogas pesadas que poderiam ter o mesmo efeito, sem o perigo de matar o cara numa operação dessas. O que é a tecnologia.. hoje, basta comprar uma TV e pronto.  
(**) O famoso humorista Barão de Itararé tinha uma piada: "toda família tem um bobo. coitado daquele que é o filho único".