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O MITO DA CRIAÇÃO DE UMA EMPRESA

Derneval R.R. Cunha

Introdução

Muitos já me perguntaram porquê não ganhar dinheiro com meu fanzine. Ou montar uma empresa de segurança informática. Ficar rico. Parece até que é fácil. Logo de cara, vou escrevendo que não posso realmente escrever este artigo. Pois simplesmente, o conceito que a grande maioria tem de montar um negócio significa fazer dinheiro com alguma atividade. Pode ser interessante, ganhar dinheiro. Quem não curte a idéia? Mas se fosse fácil, todo mundo faria isso. Uma boa quantidade de pessoas está tentando fazer, investindo suas economias nisso. Ou suas vidas. Já que percebem que depois que atingem certa idade, o mercado de trabalho não é tão bom. O mais chato é que a pessoa vai envelhecendo e descobre que ainda não atingiu seus sonhos de infância ou adolescência. Sim, quando a vida chega aos 40, as pessoas correm atrás do prejuízo. Começam a medir seus vizinhos, colegas, companheiros.

Chato. Porquê pressupõe que estão competindo. Ninguém pensa em quão feliz foi mas sim em quantificar o que realizou. Não percebem ou não valorizam velhos sucessos. Pensam em termos do fracasso que são, se comparados com outros homens (dizem que César se martirizava por não ter feito o mesmo que Alexandre-o grande já tinha feito, quando tinha a idade dele, o cara achava que tinha que imitar a vida do grego e conquistar todo o mundo).

A fantasia

Bom, pelo jeito que me falam, a idéia é essa:

1- Achar um nicho do mercado

2- Investir com tudo em cima.

3- Controlar o setor

4- Expandir para atender a demanda

5- Reinvestir os lucros

6- Vender a empresa

7- Comprar uma ilha e viver tomando água de coco com alguma loira fazendo cafuné enquanto assiste TV a cabo.

A idéia é ótima. Pena que exige um trabalho dos diabos. Pra fazer funcionar, lógico. Lembre-se que uma grande maioria das pequenas empresas não sobrevive um ano nesse país.

OBS: Retomando o aviso: isso é uma obra introdutória sobre o assunto. Estou praticamente escrevendo de cabeça em cima do que aprendi em alguns cursos do SEBRAE. Dúvidas, vão lá e façam o curso Iniciando Pequeno Grande Negócio (tem gente que desiste e nem faz o curso até o final, só depois de sentir o tamanho da encrenca). E sinceramente, não estou escrevendo para mostrar o quanto eu aprendi com o que eu li. Pelo simples fato que o que você realmente aprende sobre business, você guarda pra si próprio.

PLANEJAMENTO

Há vários tipos de negócios. Compra, venda, serviços. Qualquer coisa que seja. Se é uma atividade que vc pretende realizar por um longo prazo, precisa de algum tipo de planejamento. O fanzine que vc está lendo (caso alguém te enviou o artigo sem dar a origem, procura em http://barataeletrica.cjb.net ou http://www.inf.ufsc.br/barata), este fanzine está durando 10 anos. Este tempo todo não foi planejado. Mas houve planejamento desde o início. Qualquer atividade que você pense, o melhor é planejar antes. Planejar muito. Pedir opiniões. Fazer prazos. Tudo. Só para te dar uma idéia, suponha que seu negócio é ajudar as pessoas. Distribuir dinheiro. Dar esmola na rua. Sem planejamento, você é que vai pedir esmola para sobreviver. Mesma coisa sobre vender sanduíche na praia. Mesma coisa se for sobreviver com um salário ou mesmo sobreviver sem salário. Pode-se até ter sorte. Ou pai rico. Ou amigos. Mas um dia a casa cai. Então planeje.

Entendendo a questão

Bom. Pra praticar, pode-se fazer um orçamento do quanto vc gasta em casa. Mas pensando em termos de 1 ano. Já tentou pensar o que vai fazer em um ano? Hora de parar de ler, né? Ok. A questão toda é que uma atividade qualquer exige um rumo. O que vc pretende fazer? Todo mundo pretende fazer alguma coisa na vida. Respirar não é um objetivo a longo prazo. Comer não é um objetivo a longo prazo. Levantar da cama não é um objetivo a longo prazo. Cursar uma faculdade é um objetivo a longo prazo. Opa! Talvez eu tenha achado uma forma de explicar isso?!

É, vamos por esse caminho: arrumar um bom emprego, certo? Para arrumar um bom emprego, que que você faz, além de olhar os classificados? Não pode pretender ser engenheiro sem ser formado. Antes de se candidatar a uma vaga de engenheiro tem que fazer faculdade. Antes de fazer faculdade, tem que fazer o 2o grau. E se a profissão que se pretende, é melhor fazer o 2o grau pensando em matemática porquê isso será exigido na profissão. Claro que muita gente faz engenharia. Então como garantir que sua vaga está garantida depois que se formar? Estuda numa boa faculdade. Estou falando algo novo? Não. Como garantir que se entra numa boa faculdade ou numa pública, para estudar sem pagar? Estudando.

Quantas horas de estudo por dia? Bom, faz o cálculo. Na Coréia e no Japão, os caras dormem 4 a 5 horas por dia. Isso é o suficiente? Tem gente que se suicida quando não passa. O que tem isso a ver? Tudo a ver. A pessoa que tem um objetivo, altera sua vida para atingir o objetivo. No caso do vestibular para um ensino gratuito:

1- Esquece os amigos

2- Diminui os momentos de diversão

3- Aumenta o número de horas estudando

4- Analiza a quantidade de tempo que precisa para descansar

5- Descobre um jeito de não ser perturbado

6- Inventa atividades que diminuam o stress (senão enlouquece)

7- Etc, etc..

Tem mil e uma técnicas. Por exemplo, chega uma hora em que é necessário olhar nos vários textos que é necessário saber para se encarar o vestibular. Pode-se ouvir K-7 com o resumos ao invés de ler. Pode-se estudar provas de vestibular anteriores para saber quais questões são mais valorizadas e quais são menos valorizadas (genética pode ser fácil ou difícil de aprender, mas muitos anos atrás, antes da discussão sobre clones e sobre transgênicos, caia pouco no vestibular, a pessoa podia concentrar o tempo estudando algo mais importante).

Pegar as provas anteriores do vestibular de uma faculdade e analisar o que parece que cai mais e o que cai menos é um planejamento.

Entendendo o que planejar

Não se começa alguma coisa sem ter em vista o objetivo, portanto. Ninguém faz vestibular achando que vai ganhar dinheiro com isso. Só se for dando aulas sobre como passar no vestibular. Ou ilegalmente, fazendo a prova para alguém. Não. O objetivo da pessoa não é o vestibular. Ganhar dinheiro fazendo algo que goste ou sem esforço, pode ser. O objetivo da pessoa acaba sendo então aprender uma profissão que forneça um salário permita alcançar objetivos pessoais como a busca da felicidade, por exemplo. Dividindo em etapas portanto (vai se acostumando com isso):

Objetivo: Profissão bem paga

Metodologia: Boa universidade

Recursos: Muitos anos de estudo, esforço e dedicação

Percebeu a encrenca? Tá percebendo? Desse jeito é que vc pensa. Mesma coisa que a mulherada que acredita em arrumar marido para resolver seus problemas.

Objetivo: Namoro e casamento mais fácil ou vida de artista

Metodologia: Desenvolver um visual atraente

Recursos: Muita força de vontade, dedicação e também dinheiro para fazer ginástica, dieta, cirurgia plástica, etc..

TEORIA x PRÁTICA

Claro que estou simplificando (e sendo bem machista). Conheço gente que estudou muito, formou-se em engenharia e não está melhor do que eu. Do jeito que anda o pais, a pessoa simplesmente conseguir não piorar sua situação em 10 anos já é uma vitoriosa. O planejamento não garante o objetivo. Mas sem ele, tudo fica mais difícil.

Usando o exemplo da patricinha que quer virar artista de novela: ter talento teatral não significa muito sem um público que se interesse pelo trabalho dela. Todos os gastos com aulas de atuação, ginástica, cremes de beleza, lipo, etc, vão pro lixo se não conseguir chance de demonstrar o talento ou se não conseguir atrair o público com ele. Há quem seja pura e simplesmente descoberto como a pessoa ideal para esta ou aquela posição bem remunerada, sem aula nem diploma.

Sim, no caso da Carla Perez, dizem que simplesmente o pessoal percebeu que ela roubava toda a atenção dos músicos, num baile. Paulo Autran era advogado, não fez escola de arte dramática. Quantas pessoas simplesmente não foram descobertas? Elvis Presley jamais tinha pensado em ser músico, queria ser ator. Esse tipo de coisa até acontece.

Mas o resto de nós tem que ralar para ter capacidade de ser aproveitado ou mesmo de ser enxergado como capaz de ser aproveitado. E mesmo se for aproveitado, tem que continuar ralando para se manter na mesma posição. Correndo sempre para poder ficar parado onde conseguir chegar.

Voltando ao tema

Bill Gates não começou com a Microsoft. Se você ler a biografia "Hard Drive" vai descobrir que na verdade, Bill Gates (e seu sócio) começaram com um artigozinho de revista mencionando o planejamento do que seria o primeiro computador pessoal, o Altair, um treco do tamanho de uma caixa de sapatos que só acendia luzinhas e aceitava programas feitos em linguagem de máquina. Eles tinham essa informação de que era uma máquina nova, tinham como recurso bastante experiência em computadores main-frame (na época só existiam computadores de médio ou grande porte) e vontade de desenvolver algo que o pessoal achava impossível: linguagem BASIC pra esse computador que nem existia ainda. Bill Gates não criou a linguagem Basic. Já existia. Ele fez uma versão para um computador com um chip que não se usa nem em Walkman, hoje. Acho que eram 4 kbytes de memória. Os caras emularam isso num computador de grande porte em que tinham acesso e foram lá onde o cara estava desenvolvendo o microcomputador (denominado Altair).

Então o cara topou o Basic. A Microsoft foi criada em cima desse produto. Detalhe: foi feito um contrato de exclusividade e .. o pai do Bill Gates era advogado. Significando que se a empresa que comerciava o Altair parasse de divulgar a Microsoft, o contrato era nulo. Esse detalhe foi importante porque quando a empresa foi revendida, a Microsoft já era famosa e pode usar essa cláusula pra se tornar aquilo que é hoje. Sem essa cláusula, Bill Gates talvez tivesse voltado para estudar advocacia em Harvard.

Recapitulando: A Microsoft então foi conseqüência do sucesso de uma empresa recém-criada que estourou preenchendo um nicho de mercado. Mas a capacidade de permanecer aí foi planejamento. Naqueles tempos era um mercado novo. Haviam poucos concorrentes. E Bill Gates não se divertia, dormia no escritório, trabalhando (ou pelo menos esta é a lenda).(*)

Conclusão

Moral dessa história: não adianta só ter uma idéia, tem que ter um público para essa idéia. Também não adianta nada se você não tem estrutura para segurar a peteca. A estrutura pode ser uma família que te ajude, uma grande capacidade de fazer as coisas funcionarem ou simplesmente um conjunto de situações favoráveis.

Poderia fazer vários livros escrevendo sobre isso. Neste artigo nem cheguei a explorar questões como capital inicial, custos fixos, rendimento, impostos. Numa próxima vez quem sabe..

(*) Ah, sim, eu adoraria usar um exemplo melhor do que Bill Gates e a Microsoft. Porque na verdade teve um monte de coisas que alguns dos livros que li sobre a Microsoft (dizem que aconteceu) e que para mim beiram a trapaça. Comentar isso fica para outro artigo, se me der na telha.

BIBLIOGRAFIA:

Alguns sites sobre o assunto

http://www.sebrae.com.br

http://www.desenvolvimento.gov.br

http://www.geranegocio.com.br

http://www.empreender.com

http://www.success.org

O Sebrae costuma dar cursos gratuitos. O jornal Folha de São Paulo publicou uma coleção do Empreendedor em parceria com o Sebrae, de 1o a 22 de setembro de 2002. Quem nunca fez faculdade não vai entender que fazer seu próprio negócio e como fazer uma faculdade.