Homepage Blog do Fanzine Índice No 27 Índice Números Anteriores Contato
http://barataeletrica.cjb.net http://www.inf.ufsc.br/
Versão Txt http://www.barataeletrica.rg3.net

Como iniciar um Mestrado:

Derneval R.R. Cunha

A vida após o diploma:

As pessoas que não entenderam a minha demora em trazer um novo número deste fanzine talvez não saibam o que é pós-graduação. É aquela coisa: a vida inteira você vai na escola e tenta ser um aluno aplicado (ou não). Passa um suor danado e consegue (ou não passar no Vestibular). Entra na faculdade querendo ser o melhor aluno da classe, aquele que vai passar em tudo, tirar dez, fazer o curso no prazo mínimo. Chega no 2o ano, começa a descobrir que o barzinho da faculdade é muito bom. No terceiro ano acha que vai formar em cinco anos. No 4o ano já começa a encher o saco. No 5o ano está xingando todos os professores. Se não desisitiu e conseguiu se formar, ufa! Dependendo do caso, recebe um telefonema, pedindo que traga umas xeroxs de documentos. Chegou lá, pedem para assinar aqui e ali. Pronto: Adeus! Não tem ninguém tirando foto nem cumprimentando. Acabou mais um período da sua vida. Legal.

Começa-se então o problema: procurar emprego. Mas mesmo encontrando trabalho (não confundir com emprego, que tem carteira assinada e só os outros é que tem), como fazer com aquele hábito de ir à aula. Para alguns é super-fácil. Basta casar e ter filhos para tirar da cabeça qualquer idéia de voltar a estudar. Para quem mora em cidade grande, como São Paulo, se formar significa perder um monte de amigos. Aquele pessoal que encontrava todo dia na sala de aula, agora só quando tem tempo (e ninguém tem tempo depois que começa a trabalhar). É um tal de encontrar novos amigos e torcer para que eles queiram aparecer na sua casa. Graças a internet, isso não é mais necessário. Para as mulheres deve ficar mais interessante: agora tem que ir a luta atrás de alguém, nos bares da vida, conhecer estranhos completos e decidir em minutos se volta para casa para assistir novela ou se achou o  "homem ideal".

A parte mais chata é que a vida já não tem o mesmo objetivo. A curiosidade de aprender é vício. Depois vêm a constatação: todo mundo tem diploma. O mercado de trabalho valoriza uma pós-graduação. Ter diploma é o mesmo que ter 2o grau completo. Os melhores empregos pedem algo mais. O único jeito é voltar para a Faculdade... Como fazer?

Prós e Contras:

Retomar os estudos tem algumas vantagens em relação à graduação:

Há desvantagens, como:

Existe o Mestrado e o Doutorado. Vários professores com quem conversei me deram o toque que o Mestrado é apenas uma espécie de "treinamento" para a fase mais importante, o Doutorado. O Mestrado, que dá ao indivíduo o título de Mestre, permite, entre outras coisas, dar aulas para o 3o grau. O que não é pouco, se considerarmos o desemprego no País e a quantidade de aulas de graduação que são dadas por gente sem títulação.

Primeiros Passos:

Decidir com o que tema se quer trabalhar. Em outras palavras, qual o seu projeto de estudo. Deveria definir isso antes, mas fica pra depois. Se você não se arrependeu da graduação que fez, essa é a hora de procurar seus antigos professores (caso você já não tenha feito antes de se formar) e ver se algum daqueles que você mais gosta tem interesse em ter você como "orientando". Por que o orientador é tão importante? Há uma fábula que não vou repetir agora, mas que explica tudo, veja no final do texto. Há vários tipos de "orientação", como irá descobrir:

O orientador pode lhe ajudar a entender toda a problemática da Pós. Um bom orientador abre os horizontes do orientando e permite queimar etapas. Se houver vontade de fazer a Pós já durante a graduação, a dica é fazer as chamadas   "Iniciações Científicas", que são pesquisas com bolsa, orientadas por professores, nem todas as faculdades tem isso, algumas nem sabem que isso existe. O aluno auxilia o professor a fazer alguma coisa, tipo "catalogar suspiros de borboletas" e recebe uma ajuda financeira. É o tipo de atividade que ajuda a ganhar pontos para uma futura carreira acad:êmica.

Muito importante é saber colocar o projeto em palavras. Se a carreira que escolheu não tem trabalho de conclusão de curso ou equivalente, é importante encontrar algum curso que ensine metodologia. Isso ensina como deve ser escrito um projeto nos seus mínomos detalhes. Não é a mesma coisa que fazer redação de vestibular. É preciso definir o objeto de estudo, como se irá pesquisar, quais serão as ferramentas, a hipótese, etc, etc.. Se começo a escrever sobre isso, me desvio do assunto principal. Quanto a importância de definir seus objetivos em papel, basta dizer que não te dão bolsa se isso não estiver muito, mas muito bem definido. A melhor maneira de se informar, depois de fazer cursos de metodologia e ler livros, é ter orientação de quem já passou pelo sufoco. A leitura do livro do Humberto Eco   "Como fazer uma Tese" para mim foi muito boa, mas é preciso reler com calma e mesmo assim, há coisas que só fazem sentido bem depois.

Tema da dissertação:

Devagar se vai longe. Esse é talvez o mais importante (é preciso ser muito bom de estudo para se pesquisar um tema que se deteste). É preciso escolher o que vai se estudar, e em qual setor se encaixa sua pesquisa. Vamos ver um tema aleatório para demonstrar o problema. Pode-se pesquisar sobre "Borboletas Azuis da Patagônia". Mas onde, em que faculdade estudar isso? Na literatura? No meio ambiente? Ou como as tais borboletas influem na aviação comercial? Não se pode simplemente escolher um tema e escrever tudo sobre ele. Aí cai-se no que os orientadores chamam de fazer uma tese sobre  "Deus e seu tempo". Nunca fica pronta. .

Não. O objetivo é escrever algo do tipo, sei lá:  "A influência do peyotl no incremento da capacidade reprodutiva de Borboletas Azuis da Patagônia". Claro que isso especifica (a palavra adequada é delimita) o que se vai fazer com o objeto de estudo. Quanto mais delitmitado o objeto de estudo, mais fácil fica do orientador acreditar que você será capaz de levar isso adiante. Mas também não basta somente escrever o título nem apenas definir e detalhar os procedimentos que irão lhe dar os resultados da pesquisa. Seria muito bom que tudo fosse assim tão fácil. É necessário também que a pesquisa seja algo novo. Que adianta fazer algo que todo mundo já conhece? É preciso alterar nem que seja a metodologia usada. E outro detalhe importante. O orientador precisa estar capacitado a orientá-lo nesse tema. Não se pede a alguém de Letras para orientar uma tese sobre Energia Nuclear.

Como se decidir

A escolha do tema tem a ver com o rumo da sua carreira universitária. A grande maioria dos que eu conheço faz o mestrado para dar aulas para o 3o grau, ou seja, virar professor universitário. Atualmente, há muitas faculdades e universidades por aí, vendendo (isso mesmo, vendendo) o sonho de ser alguém com diploma e com gente sem mestrado dando aula. Então é possível  "garantir" (se você não for despedido depois que o fiscal do MEC for embora) o ganha-pão dando aulas para gente que quer se formar na mesma profissão que você. Há outros que estão preocupados apenas com o título de Mestre, como alguns que estão trabalhando e precisam do título para uma promoção.

Uma forma de se definir o rumo é fazer matérias na Pós-graduação como "aluno especial". É uma opção disponível ou não nas faculdades. Basicamente se escolhe uma disciplina que tem a ver com o tema que se quer estudar, depois se conversa com o professor, cursa as aulas e vê se até o final do curso, a luz aparece para iluminar o seu caminho. Você não é ainda pós-graduando, mas talvez consiga fazer com que a nota e a frequência sejam validadas para sua pós, quando começar a cursar. O lado ruim é que dependendo da faculdade, você paga para fazer essa matéria.

Esboço de Projeto:

Esse texto abaixo eu me baseei noutro que não sei se foi na Escola de Comunicações e Artes ou se foi em outro lugar que peguei. Pode ser que seja do CNPQ ou da FAPESP. Os comentários são de minha autoria.

Normas para apresentação de projeto de pesquisa
Nível: Mestrado ou doutorado

OBS: O projeto de pesquisa deve ser apresentado em linguagem clara. A pessoa tem que mostrar que sabe escrever. Saber escrever no caso, é algo diferente de redação para o vestibular, diga-se de passagem. Significa mais que usar a crase ou conjugar verbos. Exige um tipo de crítica que amigo não faz quando lê, mesmo que saiba português bem (a não ser que esse amigo seja pós-graduando e já passou pelo processo). Ser bom em redação não significa ser bom em redação de projeto de pesquisa, por que implica em português técnico. Para se ter uma idéia (depois que vi pós-graduando perguntar se exato era com s ou com z, dentro da USP, é bom explicar) isso que eu escrevo no Elétrica é coloquial e sem revisão ortográfica, apesar do meu esforço em colocar bibliografia.

Sugiro colocar as idéias no papel, depois ler, reler e reescrever sei lá quantas vezes. É preciso estruturar e conceituar o que se pretende em menos de 20 páginas datilografadas ou digitadas de espaço duplo (fonte: Times New Roman, tamanho 12), incluso a bibliografia. Quanto mais conciso e inteligível, maior a chance de um orientador topar ler até o fim.

O conjunto de papéis denominado  "projeto de pesquisa" é dividido nas seguintes partes:

CAPA:

Que deve conter:

  • título explicando o projeto (pode ser alterado DEPOIS que você conseguiu o mestrado, mas isso é DEPOIS)
  • nível do projeto, se é mestrado ou doutorado
  • área de concentração (não adianta submeter um projeto de matemática em uma faculdade de literatura celta)
  • linha de pesquisa
  • nome do autor

A página 1 obrigatoriamente deve ter um máximo de 5 linhas com o título e resumo do projeto

PROJETO DE PESQUISA

1) INTRODUÇÃO

Dispensa-se maiores comentários.

2) OBJETO

Compreende:

  • Assunto e problema de pesquisa (problema subentende-se que alguma indagação ou dúvida ou sei lá o quê que merece ser estudada dentro do assunto).
  • Justificativa (pra quê se dar ao trabalho de ficar investigando isso, se vai diminuir o desemprego, se a vida sexual dos cangurus vai melhorar, qualquer coisa SÉRIA que justifique o esforço - ganhar bolsa de mestrado não vale, mesmo por que as chances são mínimas, bem mínimas de conseguir, sem falar que seu projeto pode ser adornado com um hieroglifo vermelho enorme semelhante à letra "X" se a pessoa encarregada de ler seu material captar essa intenção e .. não adianta repetir uma pesquisa que já deu certo para alguém no ano passado, deve ser algo original, novo).

3) QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

Não se tira o projeto de pesquisa de dentro da cabeça. Não. Mesmo que se faça um projeto ligado à artes plásticas (donde realmente o que conta é a sua capacidade de tirar as coisas de dentro da cabeça), o projeto de pesquisa tem que estar inserido  dentro das pesquisas existentes e a bibliografia tem que ter alguma coisa a ver com a bibliografia fundamental.

4) OBJETIVOS

Dividem-se em objetivos gerais e específicos ou teóricos e práticos.

5) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Seria explicitar os métodos e técnicas de investigação que serão utilizados e por que esses métodos são adequados ao projeto. Podia me detalhar mais sobre isso, mas seria facilitar muito a vida. Apenas digo que se isso não estiver muito claro, não adianta.

6) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como diz o nome..

7) SUMÁRIO DA PESQUISA

Vamos por partes, como dizia Jack (TheRipper). É preciso ordenar o projeto. Ítens, tópicos, capítulos, partes. Se vc aprendeu html sem esses editores de hoje, mas no braço, com toda aquela mão de obra de conhecer de cabeça as tags, então pode entender o por quê de tanta coisa relativa à ordenação de ítens. O início do uso de html (sem aquelas frescuras de javascript, php e flash) visava a publicação de trabalhos acadêmicos. Então essa divisão de temas, subtemas, etc.. é essencial.

8) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Existe norma para tudo. Inclusive para se relacionar as fontes bibliográficas que serão usadas no projeto de pesquisa. Lembra dos livros que você leu, aquele jeito estranho de se relacionar o nome do autor, livro, editora, local, data, etc, etc? Por aí. Tem que ser daquele jeito, denominado ABNT, vide http://www.bu.ufsc.br/home982.html. Atualmente página de internet também vale como referência. Ex:

CUNHA, Derneval R.R.."Como iniciar um Mestrado". Maio de 2002. In: Elétrica Fanzine. Disponível em http://www.inf.ufsc.br//mestrado.html. Acesso em: 08/05/2002.

Máximo de 3 páginas de bibliografia. E não vai esquecendo, meu: essa coisa de bibliografia faz um p(*) duma diferença. Não vai marcar bobeira com isso que você se estrepa.

9) CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES DE PESQUISA

Já ouviu falar disso? Pois é, a gente nem sabe se vai morrer atropelado amanhã, mas tem que fazer um planejamento para 2 anos (pelo menos na USP) de estudos. Em outras palavras, esclarecer quanto tempo vai se levar para cursar os créditos e quanto tempo irá ficar pesquisando. Depois de um tempo mínimo tem a qualificação, após o que tem a redação da dissertação e por fim a defesa da Dissertação.

Como aprender essas questões de metodologia

Existe uma carência de cursos bons sobre metodologia. É essencial porém procurar bons livros sobre o assunto, tanto para redigir o projeto de pesquisa como para fazer o trabalho depois. Aqueles que tiveram o martírio de entregar os famosos TCCs, Trabalho de Conclusão de Curso (alguns cursos universitários exigem que o aluno escreva sobre algum tema para receber o diploma). Vão estar um pouco mais a frente daqueles que não tem nada disso no currículo. Curso de metodologia é algo que pode ser chato como aprender a programar em COBOL ou fazer declaração do imposto de renda (daqueles que não são isentos), mas não existe alternativa.

Diferenças entre Mestrado e Doutorado

O Mestrado é considerado pelos acadêmicos como treinamento para o doutorado. Em teoria pode-se ir direto para o Doutorado, mas sofre-se mais um pouco. No Mestrado é exigida a proficiência em uma língua estrangeira. No Doutorado são duas línguas. Se você acha que saber inglês é difícil, imagina saber inglês e outra língua. Só no final do mestrado é que se realmente entende o significado da palavra  "Doutorado" e por que o Brasil tem tão poucos doutores. É tão complexo explicar o que é Doutorado para leigos que nem vou me dar ao trabalho.

As provas de Mestrado

Isso é um enigma. Não sei o que falar.

Início do Mestrado

Vc conseguiu. Passou nos exames, arrumou orientador, já está começando as aulas. Leu o Regimento da Pós? Provavelmente não. Talvez sim. Quem sabe. Se ler, irá descobrir que existem coisas como limite de prazo p. completar o Mestrado, índice de aproveitamento, número de matérias, etc, etc..

Algumas coisas é bom saber antes de fazer a matrícula: por exemplo, que não pode bombar nas matérias (isso se você pretende ter Bolsa de Estudos algum dia). Fazer muitas matérias logo de cara também é besteira. Mestrado rápido, só se você tiver pa(i)trocínio ou bolsa. Quantas matérias? O ideal seria no máximo 2 matérias por semestre. 3 matérias por semestre é coisa para quem quer terminar o mestrado rápido. Atualmente estão querendo que a pessoa faça tudo em 2 anos, então tenta não estragar a coisa fazendo 4 ou 5 matérias de uma só vez que você se estrepa. Leva em consideração não só o tempo em que irá ficar sentado tendo aulas, mas também o tempo em que não poderá estar trabalhando por que estará lendo ou fazendo trabalhos. Para não falar em curso de língua estrangeira.

Qualificação

O Mestrado compreende 2 fases, uma onde você estuda, outra onde você só pesquisa e redige a dissertação. A qualificação é um marco divisório entre estas fases e acontece quando:

Então você prepara um texto significativo que seria uma amostra (tipo um ou dois capítulos) e fica perante um monte de gente (na verdade 3 ou 4 pessoas) explicando o que é que você está fazendo da vida. Tem um monte de conselhos quanto a isso, mas e daí? É um rito de passagem, que nem passar no Vestibular. Mais tarde você chega na pessoa que acabou de passar por isso e faz a célebre pergunta:

- Foi bom para você também?

Fase de Pesquisa (vulgo redação da Dissertação)

A pior fase da sua vida. Você descobre que não está pronto para completar tudo, que falta uma porção de coisas, mas tem que fazer do mesmo jeito. E nunca se termina isso se não parar de incluir dados no material já coletado. Uma coisa é colher material. Outra é usar o material para se chegar à conclusão ou às conclusões. Mas daqui para frente, é morro abaixo.

Defesa de Dissertação

Lembra como foi a qualificação. Sem comentários.

Vida após a PÓS.

Não sei se existe. Você só sabe quando chega lá e eu, não sei nem se vou estar vivo semana que vem.

Bibliografia:

Quase ia me esquecendo. O ideal é procurar se informar e correr atrás de tudo quanto é texto relacionado à metodologia. O que está acima é meramente introdutório. Não vou colocar uma lista porquê às vêzes a pessoa vai que nem barata tonta atrás e não encontra.